Professor do Departamento de História e Geografia, e do Mestrado em História da Universidade Estadual do Maranhão, Marcelo Cheche aponta que os primeiros jornais do século XIX não tinham muita longevidade, e alguns títulos duravam três edições ou poucos meses.
Segundo ele, não era um padrão que esses jornais durassem muito tempo pela baixa tiragem, publicidade direcionada e por existirem mais atendendo a interesses políticos ou a alguma demanda específica. Outra característica do século XX é a industrialização dos jornais, além de um fator apontado por Cheche como fundamental, que foi a urbanização, o chamado “século da cidade”.
“O jornal passa a ser um produto dos grandes centros e começa a rivalizar com o rádio. A TV é dos anos 50, mas só vai pegar força nos anos 70. Então, por muito tempo rádio e jornal andam juntos. Também os jornais passam a ser distribuídos nas repartições públicas, começa a haver mais leitura, então, o que posso te dizer é que, independente do veículo, para aquela pessoa que não é assinante e tem a oportunidade de ter os jornais ali, o que prevalece é a notícia”, diz.
Para Roseane Arcanjo, a circulação de um jornal é um processo complexo. “É importante lembrar que publicações impressas são iniciativas particulares e não concessões públicas, a exemplo das emissoras de TVs e rádios. Por que os jornais existem? Há diversas motivações. No geral, trazem leituras sobre o mundo, sejam jornais dos grupos de comunicação ou de movimentos sociais (partidos, sindicatos, ONGs etc). Não podemos apontar um motivo decisivo como única causa para um jornal encerrar sua circulação.
Podemos, por outro lado, levantar questões: há acordos, o jornal circula em determinado momento para apoiar movimentos políticos e finda porque cumpriu esse papel. Há problemas relacionados à gestão do projeto, o grupo pode enfrentar problemas econômicos, as organizações podem ser iniciativas mal estruturadas e administradas.
No Maranhão, é comum um jornal ter vida curta. Muitos são ligados a grupos ou projetos políticos, mantidos com dinheiro público, com publicidade oficial. Quando os acordos acabam, os jornais param de circular. Observa-se também que a precária urbanização e elevadas taxas de analfabetismo colaboraram para que várias cidades não tenham sequer registrado a circulação de jornais no Maranhão. Podemos afirmar que a falta de espaços jornalísticos pode sinalizar um cenário político com pouco debate público”, avalia.
TRÊS PERGUNTAS// Prof. Dr. Sílvio Rogério
Na sua avaliação, como está hoje o mercado maranhense de jornais?
O mercado jornalístico maranhense se amolda ao funcionamento formal do sistema político, privilegiando os polos de poder, deixando de lado a pretensão da objetividade e os critérios de noticiabilidade que devem ser fundamentais à atividade jornalística. Assim, alguns veículos assumem suas preferências políticas, por vezes partidárias, de modo escancarado, fazendo uso de estratégias sofisticadas, produzindo enfaticamente agendas temáticas e climas favoráveis.
E qual motivo para muitos jornais não se sustentarem no mercado, além do motivo financeiro?
Como o jornalismo feito no Estado é, em sua maioria, político-partidário-eleitoral, legitimando ou deslegitimando grupos, aqueles que optam pelo silenciamento, ou mesmo por uma combinação editorial de tentar manter um certo equilíbrio e imparcialidade na sua cobertura, como flagrante de oposição, não resistem.
E sobre O Imparcial que faz 90 anos…
Considero o jornal O Imparcial como um veículo fundamental para o campo da política e da sociedade maranhense, cumprindo um papel importante como meio de comunicação, por suas agendas e valorização de temas regionais e locais. Ademais, suas inovações gráficas de qualidade considerável, seu quadro profissional e campo de estágio para os estudantes de Jornalismo agregam elementos que colaboram para o seu sucesso