Nos últimos 90 anos, 478 empresas jornalísticas morreram no Maranhão
De 90 anos para cá muitos jornais surgiram e desapareceram com a mesma velocidade que apareceram. Quanto ao jornal O Imparcial, sua longevidade é uma façanha histórica
Por: Patricia Cunha
O que faz um jornal ter longevidade e chegar aos 30, 50, 70, 90 anos? Quase um século de informação, inovação, credibilidade. Credibilidade! Essa é a palavra que define toda uma trajetória. Nenhum periódico se mantém vivo, atual e atuante se não passar credibilidade para leitores, parceiros, colaboradores. O jornal O Imparcial nos 90 anos de vida conquistou isso. Quantos outros veículos de comunicação impressos não ficaram pelo caminho pelos motivos os mais diversos? Qual a fórmula? Como resistir ao tempo?
Conversei com escritores, acadêmicos, historiadores, professores doutores, jornalistas para entender o mercado maranhense e o que acontece, do ponto de vista das comunicações, quando um jornal é fundado e quando o mesmo fecha. Segundo dados da Junta Comercial do Maranhão, nos últimos 90 anos, 1.307 empresas jornalísticas foram abertas e 478 oficialmente encerradas.
No seu artigo Impressos no Maranhão: uma primeira leitura sobre a fundação da imprensa local, a professora do curso de Jornalismo, da UFMA/Campus Imperatriz e Doutoranda em Comunicação na PUC/RS, Roseane Arcanjo, fala no primeiro capítulo sobre a chegada da imprensa no Maranhão. Foi em 1821 que O Conciliador, o primeiro jornal do Maranhão, foi criado, transformando São Luís na quarta capital do país a ter imprensa. “Financiado pelo governador da Província, Bernardo da Silveira Pinto da Fonseca, o jornal foi fundado em meio à luta entre brasileiros e portugueses, divididos quanto à Independência do Brasil. Chegou às ruas em 15 de abril de 1821, no entanto, somente a data de 10 de novembro de 1821 é considerada o Dia da Imprensa Maranhense. Trata-se do primeiro número impresso, pois as edições anteriormente foram feitas a bico de pena (JORGE, 2000: 17)”.
O jornal, em folha de papel almaço, impresso em duas colunas, segundo alguns historiadores, era favorável à constituição portuguesa e deixou de circular em 16 de julho de 1823, após 210 edições. De lá para cá muitos outros jornais surgiram e desapareceram com a mesma velocidade. A reportagem fez levantamento de alguns dos principais impressos que circularam nos últimos 90 anos, ano em que o jornal O Imparcial foi fundado.
Foto: Infográfico: jornais que existiram no Maranhão
Roseane Arcanjo: “Façanha histórica”
“Quando penso no jornalismo maranhense (jornalismo impresso, radiojornalismo, telejornalismo, webjornalismo) percebo múltiplos cenários. Cada vez mais o público, seja nas pequenas ou cidades maiores, tem acesso à informação através de diferentes formas, principalmente através dos celulares.
Hoje é a principal plataforma onde as pessoas buscam notícias, serviços e se comunicam com os outros. E cada vez mais o leitor/telespectador, ouvinte/internauta quer participar da elaboração do conteúdo e das escolhas, quer avaliá-los, repensá-los e modificá-los em uma escala cada vez mais intensa. É uma tendência muito forte. Hoje não basta registrar os acontecimentos, o que as redes sociais já fazem, a maior tarefa é possibilitar um olhar mais profundo e multifacetado sobre as temáticas de interesse público.
Sobre o jornal O Imparcial, a longevidade desse jornal é uma façanha histórica. A trajetória dele mostra que se adaptou às transformações da sociedade maranhense, realinhou escolhas e repensou projetos editoriais. Sua atuação tem vínculos com uma das mais importantes redes de comunicação do Brasil e que desenhou parte da história do jornalismo no país: os Diários Associados, de Assis Chateaubriand.
O desafio atual é repensar o caminho do jornalismo impresso no cenário maranhense. Estamos em um estado ainda com graves problemas econômicos e sociais, uma diversidade cultural gigantesca e outras referências políticas na atualidade.
Os ambientes digitais e interativos, propiciados pela web, instigam o jornal a repensar suas ações, a buscar formas de chegar a vários públicos, sejam crianças, jovens, mulheres e adultos, em múltiplas plataformas, sem perder o foco, que é fomentar o debate público”.