NOSSO PAPEL

Leia ‘Um jornal em transformação’, por Sebastião Jorge

“Pelo andar da carruagem, logo comemorará o seu centenário. Que eu viva até lá”

Eu penso no passado sem perder a direção do futuro. Penso na história de O Imparcial e observo atentamente a longa trajetória percorrida sobre o ontem, hoje e as perspectivas para o amanhã. Construído com sementes em terra fértil, gerou bons frutos. Não demorou a enfrentar dificuldades. Jamais desistiu dos sonhos de transformar-se num veículo de comunicação que merece respeito da sociedade a qual serve sem desistir do objetivo primeiro: obediência à verdade para chegar à credibilidade.
Eis o principal princípio, que, associado à ética, fazem de qualquer meio de informação o pilar da democracia. Palmilhou caminhos com muitos obstáculos. Não desistiu de prosseguir. Mercê do trabalho persistente, idealismo e amor à profissão dos autores principais da empreitada, chega com louvores aos 90 anos. Cumpre o papel que lhe cabe, ou seja, espalhar notícias onde estiverem e for de interesse coletivo. Daí o conceito que merece, pela fama conquistada, ao firmar-se no compromisso do jornalismo, o que muitos confundem com fazer jornal.
Criado e dirigido por João Pires (o J. Pires), pelos idos de 1926, esse jornalista, de estatura baixa, bom de conversa, esperto, nariz aquilino, mas de uma tenacidade incomum, soube conduzir até o limite de suas forças, o destino daquele periódico, por cerca de 20 anos.  Enfrentou todo tipo de violências, inclusive por parte do DIP. Vendido à cadeia de comunicação “diários associados”, que o adquiriu pelas mãos de Assis Chateaubriand, o periódico foi entregue para organizá-lo, a João Calmon.
Em Fortaleza dedicava-se em administrar outro órgão do grupo acima, o “Unitário”, Calmon escolheu um jovem promissor do Ceará, advogado e jornalista Pires de Saboia (1916-2000), já com experiência nas redações. Ao assumir o cargo, como primeira providência, selecionar a nata da intelectualidade, incluindo universitários de Direito, e definir a linha editorial: isento de ligações partidárias e enriquecer o noticiário geral, para gerar interesse coletivo.
O jornal, tinha parque gráfico de primeira linha. Realizou uma série de inovações, como cabe a quem é do ramo. Mereceu elogios até dos concorrentes, pelo novo visual da folha. Adirson Vasconcelos o substituiu. Promoveu uma revolução. Modificou o aspecto gráfico, melhorou a redação contratando novos jornalistas e fez da entrada principal do prédio, uma espécie de salão de arte para exposições de artistas maranhenses.
Os leitores aprovaram. Na sua administração fui convidado para ser o editor geral e escrever os editoriais. Aceitei. Apesar do pouco tempo, mas o bastante para introduzir o lead, até então ignorado pelos nossos periódicos. Ministrei um curso. Depois da passagem de vários diretores, o escolhido para permanecer no cargo, foi Pedro Freire, pela experiência, determinação e habilidade jornalística.
Ele aprendeu também como ex-aluno e professor da Ufma e soube transmitir os ensinamentos. Lutou bastante no início. Tirou de letra. Deu solução aos problemas com aquele jeito calmo, sem alterar a voz. É um conciliador por excelência. A sua administração é coroada de êxitos. A grande obra, literalmente: construiu o prédio próprio do jornal. Continua introduzindo significativas reformas no tradicional jornal, que se tornou um símbolo do estado. Esquecer a retaguarda uma injustiça: Raimundo Borges e Pedro Henrique trabalham em sintonia e atrelados a um mesmo ideal, manter os princípios salutares do velho periódico.
Pelo andar da carruagem, logo comemorará o seu centenário. Que eu viva até lá, com fé na ciência e nos avanços da geriatria, para, como pesquisador da imprensa maranhense, testemunhar suas novas transformações e provar que o jornal não acabará, desde que saiba reinventar-se todo dia.
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