NOSSO PAPEL

Há 47 anos em O Imparcial, presidente Pedro Freire fala do passado e futuro

“Como jornalista, não quero que o trabalho de todos que fazem O Imparcial seja engolido pelas tecnologias. Ao contrário, quanto mais tecnologia interferir nas relações humanas, mais jornalismo fará o seu papel de levar as pessoas a serem mais felizes”

Pedro Freire, diretor presidente de O Imparcial

Historicamente, o Liceu Maranhense foi a porta de entrada de inúmeras personalidades política, literárias, artísticas, jornalísticas e jurídicas do Maranhão. Com sua excelência no ensino – uma raridade e singularidade num estado dominado pelo analfabetismo até algumas décadas atrás –, o Liceu nasceu em 1838, como escola secundarista que até hoje prepara os cidadãos para a vida com uma formação completa, abrangendo exercícios físicos e intelectuais. Foi lá que o jovem Pedro Batista Freire, vindo do município de Timbiras, buscou qualificação para o mercado de trabalho. Ao cursar o 3º ano científico, com excelentes notas em Português, logo cuidou de procurar uma oportunidade onde pudesse trabalhar e ampliar sua base de conhecimentos.

Após participar de uma seleção, realizada pelo jornalista e secretário gráfico de O Imparcial, Ferreira Baty, Pedro Freire conquistou seu primeiro emprego, como revisor da noite, ao lado de outro profissional já experiente, Josemar Lopes, hoje juiz de Direito em São Luís. Em depoimento ao jornalista Raimundo Borges, Pedro Freire conta como foi sua trajetória, de revisor a presidente da empresa dos Diários Associados do Maranhão, que hoje completa 90 anos, seguindo o caminho traçado pelo seu fundador, o empresário, jornalista e político João Pires Ferreira, conhecido por J. Pires.
O relato: “No dia 1º de dezembro de 1967, após aprovação da seleção, fui admitido em O imparcial, instalado na Rua Afonso Pena 46, como revisor no turno da noite. Tinha que me deslocar, a pé, após as aulas do Liceu, para ocupar minha mesa de trabalho, a partir das 21h30. Ficava no térreo, espaço dominado por máquinas, caixas de tipos, linotipos e a impressora, uma rotoplana. O horário se estendia até o “fechamento” do jornal, já de madrugada. “De volta para casa, o caminho era mais longo, pois residia na Rua Roma Velha, no Monte Castelo. Mesmo sendo de madrugada e andando a pé, jamais foi incomodado ou assaltado. No caminho não encontrava ‘uma viva alma’. Outros tempos, que não voltam mais. Assim comecei no jornalismo, nas entranhas da engrenagem que fazem os fatos do cotidiano chegar ao leitor em forma de notícia, cultura e entretenimento. “De revisor, subi para a Redação, no segundo andar do belo sobradão da Afonso Pena, como repórter de “Geral”. Depois ascendi à chefia de reportagem, secretário de Redação, editor-geral, vice-diretor, diretor-geral, diretor-presidente e sócio-membro do Condomínio Acionário dos Diários Associados.”
Oficina virou indústria
Máquina de linotipo
“Mesmo sendo uma atividade jornalística, a minha convivência era com os gráficos no andar térreo onde trabalhavam linotipistas, paginadores, clicheristas, impressores, chumbeiros, encartadores e conferencistas. Homens, na maioria rudes, mas dedicados. Transformavam o ambiente de trabalho num verdadeiro “circo”, começando pelos apelidos que viravam nomes, tais como: Mário Camelo (paginador), Jumentinho, (impressor) Traíra (linotipista), Jacaré (chumbeiro), Raça, entre outros. Os operários conviviam no mesmo ambiente entre máquinas como linotipos, que utilizavam caldeira para derreter o chumbo, acionada via teclado, manuseado pelo linotipista.
O juiz de direito e colaborador de O Imparcial, Aurelinano Neto, foi um desses profissionais, que transformavam barras de chumbo em letras em alto relevo, em cujo processo de fundição instantânea fazia-se a composição dos textos do jornal. Os paginadores montavam os blocos de chumbo no formato determinado pelo secretário gráfico, o antigo diagramador. O clicherista (Moacir Bueno) entregava os clichês, com as fotos do dia gravadas numa chapa grossa de alumínio. Assim estava formada a página do jornal, que ia direto para a impressora, chamada rotoplana. Imprimia duas páginas, virava-se o papel para imprimir mais duas. Assim se fabricava, todo dia, o jornal que se lia o dia todo.”
No DNA
“O Imparcial traz no DNA a vocação de berço para fazer um jornalismo moderno, dinâmico, equilibrado e atual quanto às tecnologias da informação. O pioneirismo tem sido a sua marca. Foi o primeiro jornal a trocar a tipografia pela composição a chumbo em linotipo; usou o teletipo (internacional, com tradução do inglês na Redação); o sistema de impressão offset, imagens por telefoto, texto por telex, e ao substituir a máquina de escrever pelo computador na redação. Depois implantamos o sistema de tricomia e, finalmente, a impressão em policromia num avançado equipamento em torre, com CTP na pré-impressão.
A revolução tecnológica
“Dois fatos relevantes ocorreram no início da década de 70. A implantação do sistema de impressão offset, em 1973, com aquisição da rotativa Goss Communit, com capacidade para impressão de 20 mil exemplares/hora. Uma nova realidade para a imprensa. O outro foi a criação do Curso de Comunicação Social, que licenciou a primeira turma em 1974. Assim nascia o novo jornalista, com uma visão técnica e avançada do jornalismo moderno, com foco no social, na política, nos esportes e na economia, formando um perfil diferenciado do que se fazia até então. Desta escola participei como aluno do curso de Comunicação, como professor do mesmo curso e coordenador de estágio. O Imparcial tem buscado honrar o nome de sua logomarca. A marca de uma empresa com diretriz de ser referência, capacidade de fazer um jornalismo vibrante, tecnicamente moderno, profissionalmente atual e editorialmente forte. Assim, conseguiu chegar aos 90 anos sem decair, sem tergiversar, sem perder o rumo, nem a capacidade de enfrentar adversidades – num estado historicamente dominado por oligarquias políticas.”
Redação: Coração e alma do jornal
Pedro Freire aborda a parte mais importante, por ser o coração e a alma de qualquer jornal: a Redação. Como até a década de 1970 não havia curso de jornalismo no Maranhão, os profissionais procediam de outras atividades. Eram advogados, magistrados, escritores, poetas, professores e autodidatas. Os textos, obviamente, não obedeciam os aspectos técnicos, que só vieram com o Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão, em 1970, com apenas 20 vagas.
“A equipe de O Imparcial era comandada pelo competente advogado e jornalista José Pires de Saboya, que veio do Ceará, para dirigir o jornal, em 1944, após ser adquirido de J. Peres, pelo fundador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand. Saboya, graças à influência de O Imparcial e o seu prestígio pessoal e profissional, deu uma ‘sacudida’ na linha editorial e na forma de produzi-lo, seguindo as diretrizes da rede de comunicação dos Associados. Ele acompanhava, meticulosamente, tudo que se fazia desde a pauta até a distribuição do jornal.
“Por longos 30 anos, Saboya pôs no jornal uma equipe que se alternava, como, aliás, acontece hoje. Pode-se destacar: Nascimento de Moraes, Aurílio Vieira de Andrade, Merval Melo, Miércio Jorge, Sebastião Jorge, Odilo Costa Filho, Ferreira Gullar, Rangel Cavalcanti, Raimundo Cordeiro Filho, Nonato Masson, Nonato Paixão, José Sarney, Antônio Guerreiro (juiz), Arthur Almada Lima, Maria Inês Saboya, Benedito Buzar, José Vera Cruz Santana (editorialista), José Ribamar Bogéa, José Louzeiro e tantos outros que me falham à memória.
Previsões não assustam
Sede de O Imparcial
No começo da década de 30, com apenas quatro anos circulando, O Imparcial não se intimidou diante da concorrência do rádio, assim também aconteceu nos anos 50, com o surgimento da televisão. Porém, a maior de todas as mídias, a Internet, impactou o mercado e o jeito de produzir informação pelo mundo afora.
Mais ainda a mídia impressa. Com suas infindáveis plataformas de tecnologia da informação, até hoje os jornais e revistas, assim como os comunicólogos, debatem sobre o futuro das letras fora do universo digital. Já se passaram mais de 20 anos de adaptação e de reinvenção, numa concorrência avassaladora, que, porém, nos anima a buscar saídas a cada dia.
Por isso, O Imparcial recusa a recolher-se, a se intimidar diante de previsões catastróficas sobre o fim da mídia impressa – jornal, livro e revista. A receita, obviamente, não é definitiva, mas adaptável, movida a talento da equipe e do prestígio que construímos ao longo dessa trajetória.
“Como jornalista, não quero que o trabalho de todos que fazem O Imparcial seja engolido pelas tecnologias. Ao contrário, quanto mais tecnologia interferir nas relações humanas, mais jornalismo fará o seu papel de levar as pessoas a serem mais felizes. Eis a nossa responsabilidade. Com imparcialidade, estamos navegando nesse novo mundo digitalizado. Confiante e sem medo.”
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