NOSSO PAPEL

‘Eu e O Imparcial’: texto do advogado João Bastita Ericeira

“Um jornal comemorar 90 anos de existência por si só é a afirmação de que a sua linha editorial guarda raízes profundas na sociedade maranhense”

Os jornais e revistas do mundo inteiro sofrendo os impactos das novas tecnologias de informação reduziram as suas versões impressas e abriram janelas para as formas virtuais de comunicação. Quem não se adaptar perecerá. É extenso o obituário das publicações na América Latina, Europa, Estados Unidos, Ásia, África. Os editores apostam no jornalismo que virá.
Nesse contexto, um jornal comemorar 90 anos de existência por si só é a afirmação de que a sua linha editorial guarda raízes profundas na sociedade maranhense. É o caso do jornal O Imparcial, de circulação diária em São Luís do Maranhão. A tradição maranhense de fazer jornais durante o Império e na República, na velha e na nova,era vinculá-los ao ativismo partidário, a disputa pela conquista do poder local. As questões nacionais eram pautadas em função dos objetivos das correntes que se altercavam, lideradas por um representante junto ao governo central. O estilo era panfletário e os ataques de cunho pessoal.
O Imparcial surgiu no editorial de J. Pires para fugir a esse diapasão, para praticar um jornalismo independente, representativo da sociedade, analisando os problemas locais de forma crítica e neutra, analisando acertos e erros do governo e da oposição. O estilo não podia ser o aguerrido dos ataques pessoais, mas do interesse da população. O modo de atuar do jornal caiu no gosto da população, como o guaraná Jesus, o cuscuz “ Ideal”, com forte apelo popular, sem cair nas facilidades e descaminhos do populismo.

“O mano Pires de Saboia, como dizia Maria Inês, era professor da Faculdade de Direito de São Luís, civilista, advogado do Banco do Brasil, membro da Academia Maranhense de Letras, homem de rara inteligência, não evidenciada pelo seu modo simples e desleixado de trajar, e por sua aparente distração”

João Batista Ericeira

Desde o início com a responsabilidade de que sabe estar formando opinião, gerando consequências para a vida em comum dos maranhenses. Conheci pessoalmente Pires de Saboia, um dos seus diretores, chegado na década de quarenta para assumir a direção, quando o jornal integrava a cadeia dos “Diários Associados” capitaneada por Assis Chateaubriand, criador de um império das comunicações, incluindo jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão. Adolescente nos anos sessenta, conheci Pires de Saboia através do meu tio materno cônego

Antônio Bonfim, amigo de sua irmã, a jornalista Maria Inês Saboia, que por muito tempo manteve uma coluna social nas páginas do jornal. Afeita às obras de caridade voltada para crianças pobres, católica fervorosa, seus laços de amizade com a família, provinham das origens da família Bonfim em Crateús, no Ceará, de onde todos vieram com destino ao Maranhão. O mano Pires de Saboia, como dizia Maria Inês, era professor da Faculdade de Direito de São Luís, civilista, advogado do Banco do Brasil, membro da Academia Maranhense de Letras, homem de rara inteligência, não evidenciada pelo seu modo simples e desleixado de trajar, e por sua aparente distração.
Deputado federal, secretário de Estado, era excelente articulista e exímio poeta. Conselheiro de governadores, constituído o Condomínio dos “Diários Associados”, após a morte do seu instituidor Assis Chateaubriand, o “Velho Capitão” como o chamava o jornalista Davi Nasser, Saboia comprovou seu talento como jurista e advogado na defesa do legado empresarial. As instituições têm o rosto dos seus dirigentes, o jornal “O Imparcial” possui a face dos seus anteriores e atuais diretores, de J. Pires, Pires de Saboia, Adirson Vasconcelos, Pedro Freire, como obra coletiva, e do rosto dos seus colaboradores. Todos contribuíram para que chegasses a essa idade.
Nonagenário, apresenta incrível vitalidade, aposta no futuro, investe nas novas tecnologias da informação, acredita no refazimento dos conteúdos, em um jornalismo moderno, ágil, interpretativo, de forma aatender as atuais necessidades dos leitores. Minha relação com O Imparcial como colaborador é de total liberdade de pensamento e expressão. Posso dizer que nunca sofri patrulhamento ideológico ou de qualquer natureza. Em meus artigos sou livre para dizer o que penso. A liberdade é indispensável para a criatividade. Na passagem dos noventa anos, longe do obituário dos jornais, com a cara e o espirito jovem, O Imparcial e a sua equipe merecem calorosos parabéns e votos de longa vida.
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