Entrevista Pedro Henrique Freire: “Tecnologia traz mais audiência e relevância”
Diretor de Gestão e Novos Negócios do Grupo O Imparcial revela planos, desafios e a visão do grupo para prosperar pelas próximas décadas
Por: Bruno Lacerda
Chegar a nove décadas de existência e manter-se atual, adaptado e na vanguarda do mercado de mídia. Esse é um dos principais desafios do Grupo O Imparcial (assim como o de qualquer veículo de comunicação) nos dias de hoje. Neste aniversário de 90 anos, temos a oportunidade de relembrar e celebrar o nosso passado de conquistas, mas também a chance de continuar a escrever um novo capítulo em nossa história.
Para descobrir os planos e as ambições que guiam O Imparcial nesta nova fase, conversamos com Pedro Henrique Freire, diretor de Gestão e Novos Negócios do grupo e um dos principais embaixadores das transformações iniciadas há quatro anos e que se consolidam por ocasião dos 90 anos do jornal.
Graduado em jornalismo, Pedro Henrique é especialista em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e mestrando em Marketing e Comunicação pela Fundação Sousândrade (em parceria com o Instituto Politécnico de Coimbra, Portugal). Durante 14 anos trabalhando no meio jornalístico, focou sua atuação no mercado digital de mídia e hoje trabalha no lançamento e monetização de novas plataformas de negócio dentro do Grupo O Imparcial.
O Imparcial – O grupo O Imparcial chega aos 90 anos com a liderança do mercado impresso de jornais do Maranhão e grande volume de acesso nas plataformas digitais. A que fatores você associa esse êxito?
Essencialmente, se deve à credibilidade que conseguimos construir ao longo desses 90 anos. A força da marca, que faz toda a diferença nessa produção. Tanto no envolvimento das pessoas com o que noticiamos, quanto no crescimento exponencial da nossa audiência. O Imparcial é uma marca reconhecida e as pessoas vêm consumindo nossa informação em todas as plataformas porque confiam na capacidade que temos de informar com equilíbrio e responsabilidade. Além da natureza do produto, cuja empatia é reconhecida pelo público, há um componente humano muito forte na conquista: estamos trabalhando nessa transição há alguns anos, com o envolvimento e esforço de toda equipe.
” Em número de leitores, crescemos acima de 3.000% em 15 anos. Como? Com a internet e as novas formas de consumir a informação. Por isso, eu pergunto: onde está a crise? “, Pedro Henrique Freire
Adaptar-se às transformações do meio não deve ser nada fácil. Quais os principais desafios dos últimos anos?
Foram muitos. O principal deles foi dar peso e importância aos produtos digitais na visão do público interno. Há 90 anos estamos focados em vender o papel. Ampliar a atenção da equipe para novas possibilidades, portanto, não foi simples. Não dá para ser da noite para o dia. É um processo. Principalmente num momento em que jornais em todo mundo discutiam como fazer mais com menos. Essa conjuntura nos oportunizou realizar grandes transformações internas ao longo dos últimos quatro anos. E hoje já avançamos muito. Amadurecemos, estamos mais fortes porque temos mais audiência, mas, principalmente, porque sabemos onde queremos chegar.
Mas o jornal impresso ainda é o carro-chefe do grupo. E muita gente diz que esse produto está com os dias contados…
Nossa carteira de assinantes, por exemplo, aumentou em 13% nos últimos cinco anos. Com o Aqui-MA, nosso jornal para camadas populares, a venda de rua multiplicou oito vezes desde seu lançamento. Nas bancas, a comercialização de O Imparcial mantém-se nos padrões de cinco anos atrás, com oscilações mensais aceitáveis, para mais ou menos. Portanto, as métricas atuais de audiência off-line não condizem com essa afirmação. De toda forma, essa é uma discussão importante. Temos que ir além do impresso na interpretação do nosso negócio. Hoje entendemos que jornais não são mais pedaços de papel com notícias de ontem. Ampliamos a visão e o campo de atuação e trabalhamos com conceito multimídia e, em muitos casos, transmídia. Nossa visão é que a internet, os tablets, smartphones e essas novas formas de consumir informação são, na verdade, o pulo do gato para os jornais.
Como assim?
Ainda hoje, muitos veem jornais como empresas gráficas, cujo ativo principal era o papel impresso. Essas novas plataformas chegaram para mostrar que nosso maior e mais valioso ativo é a notícia. E ela é eterna. O tempo irá passar, novas formas de se informar vão surgir, mas a necessidade de consumir notícia vai continuar e até crescer porque o acesso a informação só aumenta. Sobreviverá quem conseguir construir informação de qualidade, com equilíbrio, transparência e responsabilidade.
Então qual o papel dessas novas mídias neste processo?
Posso exemplificar. No ano 2000 o jornal O Imparcial era lido em 54% dos municípios maranhenses e em quatro estados do país. E só. Hoje estamos em mais de 80% dos municípios maranhenses, em todas as capitais brasileiras e em mais de 274 países e territórios. Em número de leitores, crescemos acima de 3000% em 15 anos. Como? Com a internet e as novas formas de consumir a informação. Por isso, eu pergunto: onde está a crise? A internet e as novas mídias trazem, para nós, uma oportunidade de ouro de expandir nosso alcance de leitura e de eternizar nossa importância na vida do leitor.
Se não há crise de audiência, qual o principal desafio então?
Adaptação. No mercado de jornais, hoje sobrevive quem melhor se adapta ao surgimento dessas novas mídias. O erro dos jornais foi tentar lutar contra elas quando deveriam aliar-se para crescer, inovando e criando novas possibilidades de audiência e novos negócios logo no início. E essa adaptação não está apenas em lançar novos produtos. Precisamos repactuar custos e despesas, otimizar estrutura, transformar repórteres em comunicadores multimídia e, principalmente, entender o que quer o mercado. Porque o mercado mudou muito e os jornais mudaram muito pouco. Isso é um processo contínuo. No passado tínhamos, basicamente, rádio, TV e jornal. Hoje você tem um grande número de concorrentes, online e off-line. Nas redes sociais, anônimos se transformam grandes conversores de público em pouco tempo. Esse fenômeno exige forte adaptação das mídias mais tradicionais. Mas isso não quer dizer que seremos eternamente tradicionais. Temos a capacidade de nos transformar e criar ótimos e importantes produtos.
Foto: Pedro Henrique Freire, diretor de gestão e novos negócios de O Imparcial
E o que o mercado pode esperar de O Imparcial a partir dos 90 anos?
Nosso esforço atual é transmitir ao mercado que a venda de anúncios modulados no jornal, o famoso centímetro por coluna, é uma de nossas soluções, mas não a única. As agências e os clientes podem obter uma programação confiável gerada a partir de nossos diversos tipos de mídia. Temos enorme capacidade de converter audiência em resultado e agregar valor a marcas que busquem se comunicar com os maranhenses. O importante neste momento é construir essas ideias a partir da necessidade do cliente. Por isso estamos cada vez mais especializados em consultoria de nossas mídias em lugar de só vende-las.
Aos 90 anos, o que você acredita que não pode mudar em O Imparcial?
O compromisso com a notícia verdadeira, transparente e honesta. O nosso grupo construiu muito da sua existência no pilar da credibilidade. Isso porque nós nos consideramos um jornal com opinião, mas sem preferências. Por se chamar O Imparcial, alguns dizem enxergar certa alienação em nosso posicionamento em certos momentos. Mas é uma questão de interpretação, muito subjetiva. Nós nos posicionamos dentro dos debates, levando uma informação plural e crítica. Acreditamos que o fato de ser imparcial é uma forma peculiar de se posicionar. Não pertencemos a nenhum grupo político, portanto não nos permitimos ser utilizados como ferramenta. Não somos uma empresa familiar – somos geridos pelo grupo Diários de Associados. Então, dentro do mercado maranhense somos bastante diferentes e devemos nos manter assim.
Quais os principais projetos que O Imparcial pretende implementar nesta nova fase? Podemos esperar novos produtos e canais?
Hoje trabalhamos com quatro produtos base: jornal O Imparcial (Digital e impresso), jornal Aqui-MA, portal O Imparcial Online e TV Imparcial, no portal, youtube e redes sociais. Juntos, conseguimos um alcance diário de mais de 200 mil pessoas. Todos com modelos comerciais independentes e sólidos. Em julho lançaremos nosso site de ofertas online e há alguns meses já experimentamos o e-commerce amoingresso.com, um site especializado em venda online de entradas para todo tipo de evento. É a nossa aposta no amadurecimento da venda online de ingressos no Maranhão, que é uma realidade em outros estados, mas aqui ainda engatinha. Estamos em contínua melhoria desses produtos. E a partir deles, claro, surgem diversas possibilidades de gerar outros caminhos para faturar e levar novidade ao leitor.
Qual o ponto forte do grupo O Imparcial, como instituição e produto?
Como instituição, é inegável que ao longo dos últimos 90 anos O Imparcial participou de todas as grandes transformações da história recente do Maranhão, contribuindo com elas. Isso também na seara política, que é a nossa editoria que mais repercute e onde temos mais reconhecimento dos leitores. O Imparcial sempre foi um jornal inovador, sempre esteve à frente na implantação das novas tecnologias, novos formatos de jornal. Esse é o nosso forte. Um exemplo próximo foi o êxito que tivemos em lançar, em pleno século XXI, um jornal impresso que transformou a imagem de que no Maranhão as pessoas menos abastadas não têm o hábito de ler. O Aqui-MA é o impresso mais lido da história do estado, dialogando com as classes C, D e E. Isso é dar acesso à informação, é fortalecer a cultura do povo e criar novos leitores.
Hoje lemos uma edição inteiramente nova em termos gráficos. O que muda em termos editoriais?
Essa nova reforma gráfica e editorial traz um aspecto importante: admitimos definitivamente a influência da internet na nossa produção impressa. E iniciamos agora um processo de transformação: nos afastaremos do conteúdo factual, elevando o caráter opinativo e explorando mais as consequências do fato e menos o fato em si. Concluímos internamente que as pessoas não necessitam mais de jornais para conhecer acontecimentos. Mas precisam para entendê-los. E esse é o nosso desafio: estar sempre um passo a frente dos acontecimentos.
Para finalizar, se pudesse se projetar daqui a uma década e hoje fosse o aniversário de 100 anos de O Imparcial, como você gostaria de ver a empresa?
Eu gostaria de ver uma empresa dona de diversos produtos, com uma forte penetração na área tecnológica, com um trabalho jornalístico de noticiário impecável e um núcleo gerador de produtos digitais que facilitem a vida das pessoas. Pelos próximos 10 anos, O Imparcial dará tudo de si por uma forte penetração nas mídias digitais e na mídia impressa. Esperamos que o público que se relacione conosco tenha acesso a diversos produtos que transformem e facilitem a sua rotina. O objetivo é simples: queremos ser cada vez mais relevantes para os maranhenses. E trabalharemos forte para isso.