LITERATURA

Fernando Abreu lança livro ‘Manual de Pintura Rupestre’

A obra vem cinco anos depois de Aliado Involuntário (Exodus, 2011), e é o primeiro a ser publicado por uma editora de alcance nacional

fernando abreu
O escritor Fernando Abreu volta às origens no livro Manual de Pintura Rupestre. O novo livro do maranhense será lançado hoje, às 18h30, na Galeria Trapiche, na Praia Grande, em noite que terá ainda recital com a banda Mamutes Cibernéticos, composta pelos amigos Marcos Magah, Erivaldo Gomes e pelo próprio poeta, que na ocasião interpretará poemas do livro acompanhado pelos dois músicos.
A obra vem cinco anos depois de Aliado Involuntário (Exodus, 2011), e é o primeiro a ser publicado por uma editora de alcance nacional, a carioca Sete Letras. “Esse livro é fruto desse processo de escrita e reescrita permanente. Mas posso dizer que ele é fruto dos caminhos abertos pelo Aliado Involuntário. Esse sim veio depois de uma pausa bem maior. Bem, o Aliado me apontou vários caminhos em termos de linguagem, optei por esse mais próximo à prosa, por ser o que mais se harmoniza com a minha necessidade expressiva do momento, acho que é o livro em que mais ‘digo coisas’, em que há o discurso mais direto. Sinto que vou cada vez mais fundo nisso, que na verdade é uma volta às origens”, define o autor.
Manual de Pintura Rupestre traz 34 poemas, como ele próprio disse, escritos em uma linguagem coloquial próxima à prosa, sem métrica ou rima. Essa é a principal diferença em relação aos três livros anteriores, onde poemas em versos livres se alinhavam a poemas rimados. O poeta, no entanto, não vê sua nova fase como ruptura, mas como desdobramento natural de sua produção.
“Senti a necessidade de uma fala mais direta, e os poemas começaram a vir dessa forma, abrindo espaço para uma comunicação mais aberta com o leitor”, observa Fernando Abreu, também letrista de música popular e parceiro de nomes como Zeca Baleiro, Chico César, Nosly e Gerson da Conceição, além do próprio Marcos Magah, com quem tem trabalhado mais de perto desde 2014, quando se conheceram.
Para ele, a canção popular brasileira é uma das mais fortes do mundo, e um excelente suporte para a criação poética. “Boa parte da criação poética do país se encontra nos discos tanto quanto nos livros, desde pelo menos a década de 1960. Me sinto à vontade em ser um artista da literatura que dialoga em pé de igualdade com os poetas da música”, afirma o poeta, que também toca violão e estudou piano clássico por cinco anos.
O autor diz que tem uma relação estável com a poesia e assume que escreve relativamente pouco. Por isso os longos períodos de distância entre um livro e outro. “Só escrevo quando sinto que a ideia vale a pena, que tem algo a comunicar. Também não planejo meus livros, pelo menos até o momento não surgiu um livro planejado. Pelo contrário, minha escrita é devagar e sempre, vou passando pelo mundo, colhendo minhas impressões e deixando outras. Quando sinto que fechou um ciclo, que se esgotou aquele impulso, organizo o livro”, conta.
O livro já está estava pronto, com a editora, mas como os poemas continuam acontecendo, dois acabaram entrando de última hora. “Meu processo é esse, orgânico, natural. Quatro ou cinco anos é o tempo médio pra mim, pelo menos até agora, pode ser que a urgência aumente com o passar do tempo, mas acho pouco provável…”, admite.

O autor
Fernando Abreu (São Luís, 1965) é um poeta e letrista maranhense, em atividade desde a década de 1980, quando passou a editar, com o grupo Akademia dos Párias, a revista Uns & Outros (1984 – 1993). Ele tem quatro livros publicados e parcerias musicais com Chico César, Marcos Magah, Chico Nô, Neto Peperi, Gerson da Conceição, Zeca Baleiro e Nosly. Os três últimos gravaram parcerias com o autor em seus discos, sendo as mais conhecidas, Alma Nova, Rock do Cachorro Doido e Guru da Galera, lançadas por Zeca Baleiro.
O autor já publicou os livros Relatos do Escambau (Exodus, 1998), O Umbigo do Mudo (Clara Editora, 2003) e Aliado involuntário (Êxodus, 2011).

parábola do falso rico
à sombra da flor de Drummond

não eram mais que cinco ou seis
garotas de uma igreja evangélica
vendendo copinhos de água mineral
no sinal de trânsito
transpirando mais de juventude &
orgulho por sua modesta aventura
fora do útero materno dos condomínios
do que pelo calor do meio-dia que derretia o asfalto
e subia entre suas pernas
e que bem podia servir como advertência
sobre o fogo eterno que as esperava
caso andassem fora da linha
mas não foi esse o recado
pelo menos para a adolescente loira
a mais bonita do grupo
que decidiu
com um sorriso que apagou
seu próprio medo ardente
dar de graça o copinho de plástico reluzente
ao homem suado que argumentava sorrindo
que, por ser um magnata,
nunca tinha trocados
e que continuou sorrindo
no caminho de casa
tendo de fato matado sua sede
mas também a raiva, o cansaço
o tédio e o medo.

(de Manual de Pintura Rupestre)

Serviço
O quê? Noite de Autógrafos do livro Manual de Pintura Rupestre
Quando? Hoje, às 18h30
Onde? Galeria Trapiche (Praia Grande)
Preço do livro: R$ 20,00

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