Petrobras: ações caem mesmo com fim da participação obrigatória no pré-sal
O projeto que abre a possibilidade para empresas estrangeiras participarem sozinhas dos próximos leilões do pré-sal precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados e sancionado pela presidente Dilma Rousseff para entrar em vigor
O fim da participação obrigatória da Petrobras na exploração do petróleo na camada pré-sal do subsolo marinho brasileiro não surtiu efeito no mercado financeiro. As ações da companhia acumulam queda desde que o Senado aprovou o projeto que elimina a exigência de a companhia deter pelo menos 30% dos consórcios de exploração.
Somente hoje (26/2), as ações ordinárias da Petrobras – que dão direito a voto nas assembleias de acionistas – caíram 1,29%, para R$ 6,89. As ações preferenciais – que dão preferência na distribuição de dividendos – caíram 0,41%, para R$ 4,87. Na quinta (25), dia seguinte à aprovação do projeto, as ações ordinárias tinham recuado 0,71%. Ontem, os papéis preferenciais tinham subido 0,41%, mas a alta foi anulada nesta sexta.
A queda ocorreu mesmo com as recentes altas do petróleo no mercado internacional. Nos últimos dois dias, o barril do tipo Brent, negociado em Londres, acumula alta de 2,26%, sendo vendido a US$ 35,19 nesta sexta. O barril do tipo WTI, negociado em Nova York, subiu 2,27% na mesma comparação, fechando a semana em US$ 32,88.
A mudança no modelo de exploração da camada pré-sal não é imediata. Depois da aprovação pelo Senado, o projeto que abre a possibilidade para empresas estrangeiras participarem sozinhas dos próximos leilões do pré-sal precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados e sancionado pela presidente Dilma Rousseff para entrar em vigor.
Dificuldades
Os dois principais campos de produção do pré-sal, Tupi e Iara, têm volume estimado de 8 bilhões a 12 bilhões de barris de petróleo. No entanto, os geólogos estimam que a camada tenha potencial para produzir entre 70 bilhões e 100 bilhões de barris de petróleo e de gás natural.
Com o barril cotado a US$ 50, o pré-sal renderia US$ 5 trilhões ao país. Isso se apenas o óleo bruto for extraído. Caso o petróleo seja refinado e transformado em derivados como gasolina, querosene e óleo diesel, esse valor pode ser multiplicado.
Com o barril atualmente em torno de US$ 30, o potencial de arrecadação cai para US$ 3 trilhões. Na cotação atual do dólar, em torno de US$ 4, isso equivale a duas vezes o Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país), que somou R$ 5,6 trilhões em 2014.
O plano de negócios da Petrobras, no entanto, previa a exploração da camada pré-sal com o preço do barril a US$ 45. Caso a cotação se mantenha na faixa de US$ 30 nos próximos meses, a estatal não poderá explorar todo o petróleo na camada pré-sal, extraído a partir de 5,5 mil metros de profundidade do nível do mar.
As dificuldades de exploração do pré-sal complicam o plano da companhia de reduzir o endividamento num cenário de petróleo barato e dólar valorizado. Atualmente, a dívida da Petrobras está estimada em cerca de R$ 505 bilhões, dos quais 73% são atrelados ao dólar.