CINEMA

Inspirado no caso Pedrinho, ‘Mãe só há uma’ é lançado em festival alemão

Um ano depois de vencer o prêmio de público da mostra Panorama do Festival de Berlim com o filme Que horas ela volta?, a diretora Anna Muylaert retorna à maratona

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Naomi Nero no filme Mãe só há uma: elogios em Berlim

Um ano depois de vencer o prêmio de público da mostra Panorama do Festival de Berlim com o filme Que horas ela volta?, a diretora Anna Muylaert retorna à maratona alemã com Mãe só há uma. Se o longa anterior alimentou discussões acaloradas sobre a relação patrão e empregado na cultura brasileira, o novo drama familiar foca em questões como definição de parentesco e identidade sexual.
Livremente inspirado no caso de Pedro Rosalino Braule Pinto, roubado de sua mãe biológica por Vilma Martins Costa em um hospital de Brasília, em 1986, Mãe é só há uma descreve as transformações sofridas por Pierre (Naomi Nero, sobrinho do ator Alexandre Nero) um adolescente de 17 anos que é obrigado a voltar para sua família biológica depois que sua suposta mãe é presa por sequestro de bebês em maternidades.
A adaptação à nova casa se revela difícil, porque o rapaz resolve confrontar os pais com sua transexualidade. Matheus Nachtergaele e Dani Nefussi interpretam os pais biológicos do rapaz. “Fiquei muito impressionada com o caso do Pedro, quando veio à tona, em 2002”. Sempre fico assim com histórias de crianças perdidas”, conta Anna em entrevista ao Correio, após as primeiras projeções em Berlim.
Entrevista Anna Muylaert

O projeto do Mãe só há uma já existia antes do Que horas ela volta? Desde quando trabalha nele?
Não. Ele nasceu bem depois no final do É proibido fumar, em 2008, e foi desenvolvido paralelamente pensando em fazer um filme de baixo orçamento com atores desconhecidos. Acabei ganhando o edital do B.O. (baixo orçamento) em 2012. Desde então, venho trabalhando nos dois projetos. E filmei em novembro de 2014 enquanto finalizava o Que horas?

Foi uma questão de qual seria viável financeiramente mais rapidamente?
Não. O Que horas? é um filme bem mais caro e ambicioso e demorou muito mais tempo para captar. O Mãe só há uma ganhou o edital do MinC (Ministério da Cultura), que nos deu imediatamente quase todo o dinheiro do orçamento. Filmei o Que horas? primeiro porque já estava mais maduro. E fiz o esforço de rodar esse filme no mesmo ano porque tínhamos prazo de entrega no MinC.

Os dois filmes foram feitos em um curto intervalo de tempo, são centrados em relações familiares, mas cada um tem um estilo diferente. O que ditou o estilo de Mãe só tem uma?
Como o protagonista é jovem e o orçamento do filme era pequeno (US$ 400 mil), achei que era hora de sair da minha zona de conforto na forma de escrever e de filmar e arriscar uma nova linguagem mais fluida: câmera na mão e uma narrativa menos clássica, mais sensorial — mais jovem.

O caso do Pedrinho de Brasília foi revelado em 2002. Você já era mãe na época. Como reagiu àquela história terrível?
Fiquei muito impressionada. Sempre fico com histórias de crianças perdidas. Aliás, no Durval discos (2002) já existe uma criança roubada. E no Chamada a cobrar (2012) também. É algo forte no meu imaginário. Mas nesse filme, o que mais me interessou foi desenvolver a questão da identidade do personagem do menino roubado, e a sua crise a partir daí. Se de repente tudo o que você era não é mais e todos que você ama não estão mais, o que sobra de você?

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