Filmes favoritos ao Oscar assumem tom de crítica ao modo de vida americano

O sentimento de ‘Basta, América!’ alimenta os dois títulos mais cotados em A grande aposta, de Adam McKay;e em ‘Spotlight %u2014 Segredos revelados’, de Tom McCarthy

Termômetro da produção adulta de uma Hollywood agrilhoada a franquias teen de super-heróis, o Oscar está acostumado a ter entre seus pretendentes filmes pautados pela desilusão, pela desesperança e pela denúncia. Mas raras vezes — ponha aí 40 anos cravados — a autocrítica e o senso de falência moral guiou tanto a cerimônia anual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA quanto se vê na festa de 2016, na qual parece difícil até apontar “o” favorito.

Por mais que a queixa de racismo alardeada por Spike Lee e Will Simth (para muitos uma desculpa para o fato de ambos terem sido esnobados nas indicações) possa sugerir uma miopia ética, o protesto guia a briga pela estatueta dourada hollywoodiana. O sentimento de “Basta, América!” alimenta os dois títulos mais cotados, de um lado a crônica sobre a crise econômica A grande aposta, de Adam McKay; do outro, o grito de desespero da imprensa escrita chamado Spotlight — Segredos revelados, de Tom McCarthy.

E percebe-se a mesma saturação e azia política em dois dos longas-metragens de maior bilheteria entre os candidatos ao prêmio máximo — e únicos que realmente merecem o rótulo de obra-prima — da festa: O regresso, do mexicano Alejandro González Iñárritu, e Mad Max: Estrada da fúria, de George Miller. Há exatamente quatro décadas, na edição de 1976, foi a última vez em que o Oscar se deixou embebedar no fel do desconforto.

Angústias

Naquele ano um cheiro de pólvora perfumava todos os concorrentes: Barry Lyndon, de Stanley Kubrick; Um dia de cão, de Sidney Lumet; Nashville, de Robert Altman; Tubarão, de Steven Spielberg; e (o vencedor) Um estranho no ninho, de Milos Forman. Era um momento de conciliação entre novas práticas narrativas e velhas angústias sociopolíticas que enfim ganhavam voz. O mesmo se repete neste ano em que os estúdios americanos foram buscar fora de suas fronteiras promessas de renovação de linguagem, como é o húngaro László Nemes, favorito ao Oscar de filme estrangeiro com O filho de Saul, cuja técnica de filmar, colada ao corpo dos atores, introduz uma nova mecânica.

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