Em tempos de crise, o cenário de efetivações não é dos melhores. Contudo, para aqueles que ainda estão começando no meio corporativo, esta é a melhor hora. De acordo com especialistas, a primeira temporada de 2016 é uma ótima época para os jovens que buscam qualificação em suas áreas de estudo. O Núcleo Brasileiro de Estágio (Nube) estima que sejam ofertadas 31 mil novas vagas no primeiro trimestre de 2016. O número é 10,1% menor em relação a 2015, mas a oferta ainda é grande. São 5,5 mil oportunidades para alunos de ensino médio e técnico, e 25,5 mil para os dos níveis superior e tecnólogo.
“Tradicionalmente, os primeiros três meses do ano são positivos. Os universitários que concluíram o curso no fim do ano anterior deixaram vagas disponíveis para novos estagiários”, explica Yolanda Brandão, coordenadora de Treinamento do Nube. Outro bom motivo para arregaçar as mangas e procurar uma nova experiência agora é que, no período de férias, muitos jovens não estão tão preocupados com a vida acadêmica. Eraldo Vieira, responsável pelo Webestágios, agência on-line de vagas, explica que muitos esperam as aulas voltarem para pensarem na vida profissional.
Até o fim de março, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) tem uma expectativa de gerar 100 mil vagas em todo o país. Para Eduardo de Oliveira, superintendente de Educação do CIEE, as empresas não deixaram de investir em novos talentos. “Nós ainda temos uma grande demanda por estagiários. Apesar da crise, as instituições continuam capacitando jovens e investindo na formação de mão de obra”, destaca. Ele ressalta ainda que há vagas para estudantes de todos os cursos, basta estar atento às oportunidades. Entre as áreas que oferecem mais vagas, estão administração, direito, pedagogia, comunicação social, tecnologia da informação e educação física. Por meio do CIEE, 52% das contratações são feitas pela iniciativa privada, e os 48% restantes, pelo setor público.
Prática
O estágio é a atividade certa para ter certeza da escolha de profissão e vivenciar o que está sendo visto em sala de aula. Foi por isso que Janaína Rocha, 23 anos, que está no 10º semestre de direito no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), decidiu procurar uma nova chance nas férias. O contrato do estágio anterior, na consultoria jurídica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT), estava vencido, então ela quis tentar uma vaga em um escritório de advocacia. Depois de fazer a entrevista e um teste no fim de dezembro, foi selecionada para começar no mês passado. “Durante os cinco anos de curso, eu não tive esse contato com a advocacia. Fazer uma faculdade de direito sem estagiar, vendo na prática o trabalho de um advogado, não faz sentido”, opina.
A jovem ainda não tem certeza de qual área quer seguir depois de formada, mas se diz encantada por direito de família e sucessões e está animada com o novo momento de aprendizagem. Segundo ela, com o suporte necessário que está recebendo no escritório, a experiência será decisiva até para a produção da monografia de fim de curso. “Ainda é recente, mas posso dizer que está superando as expectativas. Dificuldades existem, porque sempre aparece algum assunto que não estudamos com profundidade na faculdade, mas aqui eles me dão um apoio muito bom”, acrescenta.
Contrato
A admissão de jovens em formação é interessante tanto para as empresas quanto para eles, porém cuidados devem ser tomados para que a relação ocorra da melhor maneira possível. O contrato é regido pela Lei nº 11.788/2008, que prevê que ele não gera vínculo empregatício, desde que requisitos sejam respeitados. Cristiana Benedetti, advogada da área trabalhista e gestão de RH, explica que, para o período ser considerado válido, o aluno deve executar atividades que contribuam com a formação acadêmica, tendo a supervisão e o auxílio de um profissional capacitado.
“Enquanto um empregado é responsável pelo próprio trabalho, o estagiário executa todas as atividades de forma supervisionada, sendo que a responsabilidade por eventual falha nos serviços é atribuída ao supervisor”, completa. Também é importante lembrar que a jornada máxima é de seis horas diárias e 30 semanais no caso de estudantes de ensino médio e universitários, não sendo admitidas prorrogações, ou seja, não podem haver horas extras. No caso da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, são quatro horas diárias ou 20 horas semanais.
Quanto ganha?
Pesquisa da consultoria Mercer com 48 empresas de diversos setores concluiu que a média da bolsa auxílio para nível superior no país é de R$ 1,6 mil. Em nível técnico, a maior parte das remunerações gira em torno de R$ 673 no Centro-Oeste. Os processos seletivos para estágio costumam ter concorrência de 95 candidatos por vaga. Todas as companhias declararam exigir domínio de inglês para recrutar profissionais em desenvolvimento; espanhol (11%) e francês (7%) aparecem em seguida. Estudantes do ensino superior ainda são os mais procurados, mas o nível técnico tem ganhado relevância: 37% das empresas têm estagiários desse nível. Além disso, o levantamento mostrou que, após o término do estágio, 43% dos jovens são efetivados, dos quais 90% continuam nas organizações um ano após a admissão.