Quem vê Chico Buarque, artista, compositor, tímido, reservado, vai se surpreender com o docu­mentário Chico – Artista Brasilei­ro. O filme conta a história dos 70 anos de Chico e dos 50 de sua obra, tendo como guia o próprio personagem, revendo tudo pela ótica de sua maturidade. É narrado por Chico em detalhada entrevista, en­tremeado por poucos, mas significativos depoimentos de amigos e colegas, usados exclusivamente com sentido narrativo; muito material de arquivo coletado no Brasil e no exterior e por números mu­sicais criteriosamente escolhidos e gra­vados especialmente para ajudar a con­tar a história.

Em cartaz no Cine Praia Grande até o próximo dia 17, a obra traz uma apre­sentação de Chico Buarque, organizada exclusivamente para a produção, mes­clada com depoimentos dele e de outros nomes da música brasileira, além de en­cenações com personagens das canções mais famosas do artista. A direção é de Miguel Faria Jr., que também comandou um filme sobre o compositor Vinícius de Moraes.

Presença permanente no cenário cul­tural e no imaginário coletivo dos brasi­leiros, pela riqueza de músicas, poemas, dramaturgia e romances construídos ao longo dos últimos 50 anos, Chico Buar­que neste filme conversa com a própria memória, mostra seu cotidiano, seu mé­todo de trabalho, seu processo criativo, sua trajetória. A montagem de um show com Chico e convidados é o eixo, ao re­dor do qual gira o filme. A partir das can­ções apresentadas, o protagonista conta ao telespectador como nasceu cada uma delas, conduz a outras, e assim faz com que o público acompanhe seu percurso.

O documentário de Miguel Faria Jr. é recheado de momentos em casa, onde, sem reservas e numa conversa muito in­formal, Chico revela-se um bem-humo­rado contador de casos. Nele, o mestre da MPB fala de sua trajetória profissional, conta histórias divertidas e diz como o longo casamento com Marieta Severo, a relação com os pais, filhos e netos, e a descoberta do irmão alemão contribuí­ram para sua produção musical e literária.

“Eu saí de um casamento depois 30 anos achando que virando a esquina já ia me casar de novo. Acho que é muito difícil a essa altura da vida me imaginar casado, assim, convivendo… não tenho problema nenhum com a solidão”, diz no documentário. Em outra abordagem so­bre a nova geração e em como será lem­brado, ele diz que se deve aprender com eles (com os novos) e que não tem essa preocupação em como será lembrado.

Para o diretor e amigo de Chico, Miguel Faria Jr, a vontade de trabalhar com Chico veio desde o começo dos anos 1970 quando ele o convidou para fazer a trilha sonora do filme Na Ponta da Faca (que acabou não saindo). “A partir daí, começamos a ficar mais próximos. Escrevemos juntos uma adaptação para o cine­ma de Para Viver um Grande Amor, peça do Vinícius. Então, ficamos amigos. Isso tem 40 anos . Quando falei em fazer o documentário, ele pediu um tempo pra pensar e acei­tou com uma condição: que ele não desse palpite”, disse em entrevista con­cedida à época do lançamento do filme.

Ao todo, foram 20 dias de entrevista para o documentário. Ainda segundo Mi­guel Faria, o assunto que era abordado por Chico nas gravações depois era pesquisa­do. “Quem for ver o filme verá que ele não esconde nada. Fala da Marie­ta ao explicar que, hoje, precisa viver sozinho por conta do trabalho”, diz um tre­cho da entrevista.

Filme: Chico – Artista Brasileiro, Brasil, 115 min, 10 anos
Direção: Miguel Faria Jr.
Roteiro: Miguel Faria Jr
Elenco: Chico Buarque
Trilha Sonora: Chico Buarque
Sessões
14h30 – Chico: Artista Brasileiro
18h – Chico: Artista Brasileiro
20h10 – Chico: Artista Brasileiro (exceto terça)