Há 14 anos, o diretor alemão Sebastian Schipper ganhou prêmio máximo em festival internacional de cinema de Brasília, à época, organizado na Academia de Tênis. O feito veio com o longa Gigantic, detido numa noite de aventuras para três adolescentes.
O mais recente filme dele, Victoria, também alonga uma noite para uma manhã decisiva — mas o grande diferencial foi que a encenação se deu em registro único, sem cortes. Longe de exibicionismo oco, o recurso, com a câmera de Sturla Brandth, torna a fita uma absorvente experiência de imersão.
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Sem edição, o longa vem pontuado, na narrativa, pelos efeitos de som, ora modulados, ora ausentes. No enredo, a falta de uma comunicação direta da protagonista — uma espanhola culturalmente perdida na Alemanha — é compensada pela forma amistosa e dada com a qual se relaciona com estranhos.
No rol de novos amigos da estrangeira, abordada por um grupo de arruaceiros durante uma noitada, estão Boxer, Blinker, Fuss e Sonne (Frederick Lau, o mais destacado no elenco). Versado em inglês, o último, também o mais sensível do quarteto, serve como porto seguro e cicerone para a protagonista interpretada por Laia Costa.
Ambientes diversificados, improvisações (por vezes, incômodas) e atos inconsequentes, típicos de uma rebeldia juvenil, colorem com realismo o longa que foi premiado, no mais recente Festival de Berlim, pela aguçada contribuição artística da câmera.
Sem espaço para truques audiovisuais baratos, o filme abraça clima exasperante, quando apresenta um cerco policial, numa fuga de assalto. Em tempos infestados por 3D, Victoria é experiência de efeito único.