Sonhos não envelhecem. Se você sabe ou curte um pouco sobre MPB, certamente conhece esse álbum. O trabalho emblemático na história da nossa música, referência também no exterior, é símbolo de uma nova estética e do valor da amizade de jovens músicos mineiros que se encontravam nas esquinas da vida para tocar, cantar, criar, ousar. Era o Clube da Esquina, que surgiu há mais de quatro décadas e inspirou o show Sonhos Não Envelhecem – Canções do Clube da Esquina, com os artistas Milla Camões e Jeff Soares.
A homenagem será nesta sexta-feira, 15, no Faladeli Tabacaria, Bar e Café (Rua do Ribeirão, Centro). O Clube da Esquina foi algo que resultou da amizade de Márcio Borges, Fernando Brant e Milton Nascimento, e depois os mais novos Beto Guedes e Telo Borges, Lô Borges, Thomas Roth e Luiz Guedes, Toninho Horta, Ronaldo Bastos, Tavinho Moura, Nelson Ângelo, Tavito e tantos outros.
Regado a bom papo, idas a cinemas para ver filmes como Jules et Jim, de François Truffaut, audição de jazz e uma vida quase comunitária, esse cadinho cultural foi capaz de gerar um grande número de composições das mais relevantes para a evolução da música brasileira desde o advento da bossa nova no fim dos anos 50, como não deixa de comprovar a influência exercida pelo mais bossa novista dos mineiros, o grande compositor Pacífico Mascarenhas, além das harmonias de Tom Jobim, é claro.
Há mesmo quem defenda o surgimento do Clube da Esquina como um genuíno movimento estético na evolução da música brasileira. Se formos prestar atenção nas melodias e harmonias, é possível identificar pitadas do jazz misturadas às músicas brasileiras e latino-americanas e até do rock’n’roll. O que os mineiros do Clube da Esquina ousaram e verdadeiramente fizeram foi promover uma a renovação da sonoridade e qualidade na Música Popular Brasileira com reflexos até mesmo em nível internacional, como atestam o interesse despertado em grandes músicos do jazz e pop pela arte de Milton Nascimento e Toninho Horta.
Sonhos Não Envelhecem – Canções do Clube da Esquina religa bom gosto e influências musicais num reencontro que a cantora Milla Camões e o criativo músico Jeff Soares fazem com as linhas sinuosas das montanhas musicais de Minas Gerais. Milton Nascimento, também carioca como Milla, foi o primeiro quem fez essa viagem e deixou o caminho aberto para realização desse show. “Seremos eu e Jeff no palco e ele se revezará entre guitarra e cello. Será uma noite para os admiradores do Clube. E tomara que tanta gente seja apaixonada como eu”, avalia Milla Camões, que afirma ter selecionado 22 músicas do Clube que vão de Milton Nascimento a Lo Borges, de Beto Guedes a Flávio Venturini. Clássicos e não clássicos como: Clube da Esquina nº 2, Rua Ramalhete, Nascente ou Chuva na Montanha, Tudo o que você podia ser, Quando te vi, entre outros.
“De todo o repertório a que eu mais gosto, talvez seja a mais lado B de todas: A página do relâmpago elétrico, do Lô Borges. Foi o primeiro LP que ouvi com referências do Clube e me apaixonei pela sonoridade que era altamente rock e ao mesmo tempo de um lirismo fantástico”, conta Milla sobre a sua relação com as músicas do Clube da Esquina.
Milla lembra que essas canções estavam presentes quando ela começou a carreira cantando em barzinhos. “Essas músicas estavam muito presentes no meu repertório, porque como fazia voz e violão, queria algo que fizesse um contraponto com a docilidade da Bossa Nova, que eu também fazia demais. Fiz esse tributo uma vez há muitos anos no Dom Calamar e agora refaço e era algo que eu queria fazer já há algum tempo”, lembra