Boyle explorou defeitos de Jobs para traçar um perfil realista do gênio
Cineasta diz que personalidades como criador da Apple devem prestar contas à sociedade; cinebiografia é estrelada pelo ator Michael Fassbender
Lenda do Vale do Silício, arrogante, visionário da tecnologia, tirano. O cofundador da Apple Steve Jobs, morto em 2011, será sempre lembrado com admiração por muitos e repúdio por outros tantos. E é esse ser imperfeito que o cineasta Danny Boyle (Trainspotting e Quem quer ser um milionário?) persegue em Steve Jobs, nova cinebiografia do executivo estrelada pelo ator Michael Fassbender. O filme levou dois Globos de Ouro (atriz coadjuvante, para Kate Winslet; e roteiro, para Aaron Sorkin, criador das séries The newsroom e The West Wing, além de roteirista do longa A rede social). Em 28 de fevereiro, Michael Fassbender e Kate Winslet brigam, respectivamente, pelo Oscar de melhor ator e melhor atriz coadjuvante.
“Todas aquelas pessoas eram dedicadas a Steve Jobs, o adoravam das maneiras mais doidas. Jobs era como um planeta. E essas pessoas orbitavam à sua volta sem conseguir se libertar desse centro gravitacional, por causa do seu sucesso, da personalidade, do comportamento. É estranho ver como ele exercia esse domínio. E, mesmo quando você fala com essas pessoas agora, anos depois, elas ainda estão orbitando ao redor dele”, lembra Danny Boyle.
Inicialmente, a direção de Steve Jobs seria de David Fincher (A rede social), mas ele deixou o projeto. Quando lamentava o fracasso de sua ideia de fazer um musical sobre David Bowie, Boyle recebeu o roteiro do filme, além das bênçãos de Steve Wozniak, cofundador da Apple, vivido por Seth Rogen no longa. E, então, uma afirmação de Wozniak para Jobs se tornou a pergunta que norteia a cinebiografia: “É possível ser brilhante e correto ao mesmo tempo?”.
“Isso não é algo binário, é uma escolha. Às vezes, você pode estar destruindo pessoas para avançar com suas crenças, e isso não está certo. No filme, acho que Jobs acaba seguindo uma direção em que reconhece que, apesar de fazer coisas lindas, se considera malfeito e inadequado de alguma maneira”, aposta Boyle. (Agência Globo)
Ensaio geral
Danny Boyle exigiu semanas de ensaios dos atores de Steve Jobs. Fez o mesmo, aliás, enquanto preparava a abertura das Olimpíadas de Londres, em 2012, quando dirigiu sete mil voluntários e conseguiu que a rainha Elizabeth II dissesse “Boa noite, mr. Bond” para o ator Daniel Craig. “Normalmente, você só tem uns 25 minutos de ensaio num filme.
Tende-se a achar que ensaio desperdiça dinheiro, porque é um tempo que se perde quando se poderia estar gravando. Acho o contrário, porque no ensaio você identifica erros e os resolve”, explica ele.
O outro Steve
O gênio da Apple já é “veterano” na telona. Em 2013, foi lançado o longa Jobs, dirigido por Joshua Michael Stern. Ashton Kutcher (foto) interpretou o rapaz ambicioso que se transforma no arrogante magnata do mundo dos computadores. Críticos questionaram a opção
de traçar um retrato maniqueísta do cofundador da Apple. Stern focalizou duas décadas da vida de Steve Jobs – da criação da empresa, numa casa modesta da Califórnia, à “volta por cima”, em 1996, quando ele retomou as rédeas da companhia.