A temporada 2015 terminou requentando seus pequenos dramas de relacionamento e tentando pautar alguns problemas que ela mesmo criou para si, sem demonstrar qualquer arrependimento. No plano pessoal, Rosberg de fato termina o ano de maneira ascendente. Com seis poles e três vitórias consecutivas depois de o campeonato estar já decidido, há quem tente vender o alemão da Mercedes como candidato ao título do ano que vem. Trata-se muito mais de um desejo do que de uma possibilidade real. O que realmente deveria chamar a atenção nem é o fato de Lewis Hamilton tem entrado em ritmo de festa depois do tri, mas o de ele ter se perturbado a ponto de, deselegantemente, procurar fazer pouco de Rosberg.
O domínio incontornável de Hamilton sobre seu companheiro só pode ser diminuído pela instabilidade emocional do britânico, que parece nunca ter amadurecido a ponto de ser confiável sob pressão. A discrepância entre os dois chegou a ser comparada à diferença que havia entre Schumacher e Barrichello, mas precisamos reconhecer que ela é bem menor. Schumy nunca se mostrou incomodado por qualquer sucesso de Rubens ou mostrou qualquer disposição no sentido de humilhar o brasileiro. Muito pelo contrário, o heptacampeão sempre valorizou seu colega. A obsessão de Hamilton em se comparar com Senna, espezinhar Nico e agir de maneira irresponsável em sua vida particular (incluindo vergonhosos problemas no trânsito) demonstra que estamos diante de um adulto imaturo, inseguro e petulante. Uma mistura perigosa.
Se Rosberg tem alguma chance de mostrar algo melhor ano que vem, ela se deve menos a ele do que à visível incapacidade de Lewis Hamilton lidar de maneira adulta com a realidade. Ter feito questão de atrapalhar a volta da vitória de Nico depois da bandeirada em Abu Dhabi foi de um ridículo incompatível com o que se espera de alguém na posição dele.
2015 termina sob a batuta das montadoras
A categoria em si está passando por uma crise de consciência. Desde o final dos anos 80, Bernie Ecclestone e a FIA tem trabalhado para trazer as grandes montadoras para a Formula 1. No caminho, eles chegaram a prejudicar ativamente categorias que ameaçavam rivalizar em atenção com a sua menina dos olhos. O mundial de protótipos foi praticamente assassinado, sendo o atual WEC uma reencarnação que jamais lhe fez sombra. Muito se fez também para limitar a crescente envergadura do mundial de Rali, para não falar nas interferências que acabaram por “nascarizar” a DTM. A ideia era deixar a F1 como a única opção real em termos de visibilidade. De fato, nos últimos 25 anos, estão ou passaram pela F1 a Chevrolet, a Yamaha, a Toyota, a Pegout, a BMW, a Lamborguini, a Porsche…
Hoje, permanecem Honda, Ferrari, Mercedes e Renault. Só quatro das maiores empresas do mundo. Bernie e a FIA parecem surpresos com o fato de elas estarem tomando o controle do circo. As montadoras vem impondo suas posições, principalmente a respeito dos motores enquanto a velha estrutura que tanto fez para trazê-las parece cada vez mais arrependida de ter transformado a F1 na franquia mais cara de todos os tempos. Direta ou indiretamente, cada uma das montadoras tem grande influência sobre as equipes clientes num nível inédito e muito profundo graças ao regulamento que impôs uma formula caríssima e exótica de motores híbridos. 2015 pode ter sido o ano em que a categoria percebeu não apenas que era refém de interesses externos, mas também que já era tarde demais para voltar atrás.