No videoclipe da música Walk, lançada pelo Foo Fighters em 2011, o vocalista Dave Grohl interpreta um trabalhador frustrado com sua rotina. Enquanto está parado no trânsito, esse sentimento de tédio e impaciência fica mais evidente por causa de adesivos em outros carros com dizeres como “o punk está morto”, em apoio ao então presidente George Bush; de declarações de amor a Justin Bieber e ao Coldplay. Ao ser perguntado por um canal alemão se o Foo Fighters odeia o grupo britânico, Grohl respondeu: “Nós não odiamos o Coldplay, nós apenas adoramos zoá-los. É diferente! Sabe quando teus amigos te zoam o tempo todo? É o que caras fazem. E se nós estamos ferindo os sentimentos deles… Bem, desculpe!”.
A resposta traduz bem o que o Coldplay representa na cultura pop. Ao mesmo tempo em que a banda é vista por parte do público e colegas como sentimental demais e seus integrantes, excessivamente bons moços para serem levados a sério como uma banda de rock, o sucesso e a grandeza do grupo, inegáveis, a tornam impossível de ser ignorada. Essa postura fracionária em relação ao quarteto britânico nunca ficou mais evidente do que no início do mês, quando a banda lançou o sétimo álbum da carreira, A head full of dreams, e foi anunciada como atração do intervalo do Super Bowl, a decisão da liga norte-americana de futebol americano.
Apesar de as baladas emotivas carregadas pelo piano ainda estarem presentes, o disco é um claro esforço de apresentar uma sonoridade mais dançante e com letras mais positivas após o macambúzio Ghost stories — gravado e lançado durante o processo de separação de Chris Martin com Gwyneth Paltrow. As participações de Noel Gallagher, Beyoncé e até do presidente Barack Obama e da ex de Chris, Gwyneth Paltrow, no entanto, não foram suficientes para tornar o Coldplay, mais feliz e bem-resolvido, em unanimidade entre os críticos.
O respeitado site Pitchfork, por exemplo, deu a A head full of dreams nota 4,8 de 10. “Com suas diversas inocentes ruminações sobre estrelas e luas e corações e diamantes, parece que Chris Martin tira inspiração de suas letras de uma caixa de cereais”, escreveu Stuart Berman, responsável pela crítica. Já a revista Rolling Stone deu ao trabalho quatro de cinco estrelas. “Se esse for o último álbum do Colplay (como Martin sugeriu em entrevistas), eles irão se despedir de forma graciosa.”