Em novembro, quando se comemora, dentre outras datas, o Dia Nacional da Consciência Negra, a produtora Negro Axé apresenta o show Terra de Encantaria, dia 19, com entrada franca. O espetáculo musical que irá saudar os caboclos e encantados das religiões de matriz africana será em palco armado no Anfiteatro Beto Bittencourt (Praia Grande), com a presença dos artistas Alessandra Loba, Andrea Frazão, Gisele Padilha, Heriverto Nunes, Marco Duailibe, Maria Vitoria e Mauro Cesar, sob a direção do músico Erivaldo Gomes.
A direção religiosa é de Ylê Ashé Oba Yzoo Ayzam. As entidades Cravo Roxo, Mariana, Tupinambá, Rei Sebastião, Rei Bandeira, Légua, Rosa Menina, Menina da Ponta da Areia, João de Una, Manezinho, dentre outras, serão reverenciadas no show.
Idealizado pelo graduado em Direito e produtor cultural Raydenisson Sá, esse é só mais um dentre os inúmeros eventos realizados pela produtora em reverência à religião de matriz africana e ao negro.
Negro Axé é o nome de uma música de autoria de Marco Duailibe, de 2012, e que foi gravada pela cantora Célia Sampaio. A escolha do nome, segundo Raydenisson, que produz desde 2006 (quando tinha 15 anos), foi por ter tudo a ver com a proposta da produtora que é trabalhar especificamente com a cultura afro e a música negra. “Só que o leque vai se abrindo e nós fomos realizando pautas, mas a necessidade que eu vi foi de utilizar a música como forma de reverência, de chamar a atenção para o preconceito que sofremos. A música faz esse enfrentamento”, assegura o produtor.
Com quase trinta produções em pouco tempo de existência e a maior parte delas gratuita, ou a preços populares, o produtor acredita que tenha consolidado o nome da produtora por causa do diferencial que apresenta no segmento específico da música negra, de trabalhar com artistas negros, em sua maioria, e por exaltar a religiosidade de matriz africana, a qual pertence o tambor de mina.
Trabalhando quase sempre com o mesmo time de artistas em produções coletivas, a produtora abre possibilidades para trabalhos desconhecidos ou pouco conhecidos, considerando a qualidade técnica e estética em nível viável e diferenciado, dos que dedicam a vida numa valorização do trabalho artístico em suas especificidades e riqueza rítmica.
O produtor destaca que dá vez e voz a artistas locais com potencial nem sempre tão aproveitados, e cita Camila Boueri (Show Clara e Elis, outubro de 2013). “O nosso trabalho é só com a cultura maranhense, valorizar, exaltar, dar oportunidade de trazer novas pessoas para o nosso meio. Foi o caso da Camila Boeuri que considero uma intérprete e tanto e que fez um show com a gente levando o teatro ao delírio”, elogia.
Terra de Encantaria
O show Terra de Encantaria tem o direcionamento espiritual do pai de santo de Raydenisson, Ylê Ashé Oba Yzoo Ayzam. A última produção em agosto, o show Ayabás, era para exaltar os orixás, desta vez a homenagem é para os encantados e suas nações ou famílias. “O show vai saudar as famílias e entre um show e outro vai haver narração sobre as famílias feita pela atriz Lúcia Gato”, conta Raydenisson.
Antes do show, porém, a produtora realiza ainda a Missa dos Quilombos, dia 14, às 17h30, na Igreja Santo Antônio (Centro). A Missa dos Quilombos é uma missa afro celebrada pela igreja católica no período de novembro pelo Dia Nacional da Consciência Negra, e é a primeira vez que vai ser realizada em São Luís. A missa tem todos os traços da cultura afro, desde os cantos que são acompanhados por tambores, até a decoração da igreja. Povoados e quilombos de todo o estado virão participar da Missa.
5 perguntas
Você nasceu dentro da religião de tambor de mina?
A minha tia era dona de terreiro e faleceu em 1998. Do falecimento dela até 2006, quando entrei para o Centro de Cultura Negra, eu vivia na igreja católica. Até que me encontrei no CCN cultural e religiosa-mente. Foi lá que me identifiquei.
Nos shows que você realiza já aconteceu algo inusitado?
De alguém “cair”? (risos). Não. Nunca aconteceu. Mas acho que nesse, Terra de Encantaria, vai. Acho que pode acontecer algo dessa vez, porque vamos mexer com espiritualidade.
Muitos shows que você produz são gratuitos…
A Negro Axé é uma ferramenta. Quando os artistas precisam de mim eu também coopero. Muitas vezes eles não recebem cachê. Contamos com ajuda de alguns apoios, mas às vezes o dinheiro não dá nem para pagar as contas… (risos)
Mas você continua produzindo…
O que nos move é o amor que temos pela religião. Os católicos não fazem a Via Sacra? Os evangélicos não tem as Cruzadas? Mas a gente não vê facilmente manifestação afro nas ruas, por isso fazemos essas produções, porque amamos, porque nós somos de religião de matriz africana. E vem mais coisa por aí!
O quê, por exemplo?
Em 2016 nós vamos realizar o projeto Festival de Música Negra. Serão três dias e três shows por dia, sedo dois locais e um de expressão nacional. E também estamos tentando viabilizar a criação de um estúdio e de um selo para que os artistas possam utilizar sem precisar pagar. Porque tem muitos artistas que gravam o CD, mas na hora de finalizar não conseguem. Queremos viabilizar isso.
Sobre o show Terra de Encantaria?
Uma homenagem para os encantados. São com os artistas Alessandra Loba, Andrea Frazão, Gisele Padilha, Heriverto Nunes, Marco Duailibe, Mauro Cesar e Maria Vitoria, sob a direção do músico Erivaldo Gomes. Esses artistas sempre têm participado das nossas produções, a maioria é da religião afro, e a novidade é a Maria Vitória, cantora mirim que vai cantar para os encantados crianças. Sempre em nossos shows colocamos alguém novo para as nossas produções. A direção espiritual é do meu pai de santo Ylê Ashé Oba Yzoo Ayzam, bem como o repertório que foi guiado por ele.