FÓRMULA 1

Ferrari no Brasil terá maranhense como olheiro

O Brasil, cujo automobilismo vive, em certa medida, de um passado distante e glorioso de títulos na Fórmula 1 conquistados no século passado

Apesar de Sebastian Vettel ter arrebatado os corações dos italianos e de Kimi Raikkonen ter contrato para 2016, a Ferrari sabe que, cedo ou tarde, seus cockpits precisarão ser ocupados por outros pilotos. É verdade que isso não tende a ser uma tarefa particularmente difícil, visto que o mercado está repleto de ansiosos pretendentes. Mas a equipe não tem uma posição passiva a esse respeito.
Pelo contrário, quer ter sob suas asas o que há de mais exuberante em termos de talento precoce no automobilismo. Esteja onde estiver o imberbe, se existe um futuro Senna ou Schumacher por aí, a Ferrari quer achá-lo. Mas esse processo de garimpo não está restrito à sede de Maranello. Há olhos em todos os cantos e uma das frentes para esse fim tem sua base na sede do banco espanhol Santander, em Madri.
O Brasil, cujo automobilismo vive, em certa medida, de um passado distante e glorioso de títulos na Fórmula 1 conquistados no século passado, está sendo observado. Tanto que partiu do espanhol Pablo de Villota o convite para que a CBA indicasse um kartista brasileiro a integrar o Santander Driving Experience (SDE), programa patrocinado pelo banco com o objetivo de selecionar novos talentos para integrar a Ferrari Driver Academy. Mas não foi por acaso que o executivo do banco incluiu o Brasil em sua reduzida lista, mas resultado de uma convergência que levou Murilo Della Coletta, 15 anos, para Maranello em outubro para uma imersão de três dias.
Apesar do objetivo de encontrar algum “diamante bruto” que esteja escondido em algum kartódromo perdido pelo mundo, Villota explicou ao Diário Motorsport que o banco não patrocina pilotos individualmente. Um dos motivos é fugir de algumas armadilhas nada incomuns na relação patrocinador/patrocinado. Não fosse assim, todo o planejamento estaria comprometido pela pressão de correntistas poderosos, que eventualmente poderiam fazer uso de uma posição privilegiada na instituição bancária para ter acesso aos recursos destinados aos patrocínios.
Mais a gerência comandada por Villota tem outros grandes desafios pela frente. Ele é o primeiro a admitir que não é boa a imagem dos bancos na sociedade, de modo que as ações objetivam envolver a sociedade de algum modo. Deu como exemplo o programa de bolsa de estudo umiversitário, em conjunto com Fernando Alonso.
O Brasil entrou no programa por dois motivos. Além do fato de o país ser um dos principais mercados do banco, os responsáveis pela formação do grupo identificaram o potencial do trabalho internacional desenvolvido pelo dirigente Giovanni Guerra, que se transformou numa espécie de “embaixador” do kartismo brasileiro na Europa.
Dentista em Imperatriz (MA), Giovanni Guerra é um entusiasta do kartismo e já realizava corridas da modalidade em seu estado antes mesmo de apresentar ações suficientes para que o então presidente da CBA, Paulo Scaglione, homologasse a criação da Federação de Automobilismo do Estado do Maranhão (FAEM). E é o próprio Scaglione que o aponta como um dos dois nomes em melhores condições de assumir a presidência da entidade, que terá eleição em dezembro de 2016 para a escolha do substituto de Cleyton Pinteiro. Para o ex-presidente, o outro nome é o de Haroldo Scipião, da federação do Ceará.
As atividades internacionais de Giovanni Guerra começaram mais propriamente em 2013, quando identificou oportunidade para o kartismo no CIK Karting Academy Trophy, um programa da FIA destinado a descobrir novos talentos na modalidade, por meio de uma categoria standart. Como membro da entidade internacional, o Brasil tinha direito a uma vaga e Guerra recebeu o oval de Pinteiro para ocupá-la. Foi a partir disso que Guerra passou a frenquentar a temporada européia de kart. Viajando sempre com recursos próprios e representando a CBA, conduziu tratativas para que a FIA homologasse uma rodada Sul-americana do Academy, com sede no Brasil, ainda sem data prevista.
Agenda Internacional
Foi nessa trajetória que os caminhos de Guerra e Villota se encontraram. Enquanto o espanhol estava atento ao Academy para achar os “diamantes brutos” que tanto procura, o brasileiro estava lá justamente para apresentar os talentos locais. Essa agenda internacional do representante da CBA permitou que o Santander, por intermédio de seu executivo de patrocínio, identificasse o Brasil como um bom campo para o seu programa.
Villota deixa claro que o SDE não é uma competição, nem algo destinado a campeões. Ele exige de seus parceiros na indicação de pilotos que cumpram diversos parâmetros, tais como idade, formação, plano de carreira, atividades acedêmicas, opção pelos monopostos e muito mais. No SDE, Coletta participou de testes físicos, avaliação psicológica, aprofundamento em tecnologia, atividade em simuladores e testes em pista. “O banco apenas indica os nomes e promove o Santander Driving Experience. Não temos qualquer influência na avaliação Ferrari”, disse Pablo de Villota, que destacou que a equipe pode optar perfeitamente por não escolher nenhum dos nomes do recente grupo, do qual participaram o brasileiro, o inglês Jack McCarthy e os espanhóis Marta García e Javier Cosián.
Em busca do equilíbrio psicológico
Por outro lado, caso a Ferrari resolva apostar em algum nome disponibilizado para avaliação no programa dos kartistas, ai o banco garante financeiramente a participação do escolhido no Ferrari Driver Academy, de modo que o piloto tenha acesso à grande estrututa de formação técnica e psicológica. Isso significa dizer que o Santander não patrocinará o piloto, mas sim pagará para que ele seja assistido pela Ferrari.
No aspecto técnico, o piloto será avaliado após cada fim de semana de corrida por engenheiros da equipe de Fórmula 1, sem qualquer interferência da equipe pela qual estiver competindo nos monopostos. O intuito é oferecer elementos para que o competidor não fique perdido quanto a preparação de seu carro, permitindo que ele participe de forma ativa das discussões técnicas com seu time.
Aprender a conviver com as pressões inerentes ao automobilismo é outra ferramente que a academia da Ferrari coloca ao dispor do acadêmico, dando-lhe uma estrutura psicológica compatível com as exigências do esporte.
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