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Em Os 33, Rodrigo Santoro faz o papel de um político, oministro chileno Laurence Golborne
“Foi desafiador e inesquecível. Daí em diante, teria que me sentar com você para conversar enquanto a gente come um bom queijo mineiro”, brinca Rodrigo Santoro, ao comentar a experiência de interpretar Jesus Cristo na refilmagem de Ben-Hur, com lançamento prometido para o ano que vem. Rodrigo está na série Westworld, dirigida por J. J. Abrams (Lost), contracena com Natalie Portman, no faroeste Jane got a gun, e com John Malkovich, no experimental Dominion. Todos filmes ainda por vir.
O ator brasileiro que mais trabalha no exterior, sobretudo nos Estados Unidos, tem muito para contar, embora sejam apenas 10 minutos – no relógio – para dar entrevista. Rodrigo veio ao Brasil só para a sessão de estreia de Os 33 no Festival do Rio. Dia 29, o longa entra em cartaz no país.
Dirigida pela mexicana Patricia Riggen, a coprodução norte-americana, chilena e colombiana reconstitui o acidente ocorrido em 2010 na mina de Copiapó, no deserto chileno do Atacama. Durante 69 dias, 33 mineiros ficaram presos a 800 metros de profundidade depois de um deslizamento. Todos sobreviveram sob a rocha de 1 milhão de toneladas com o dobro da altura do Empire State, o antológico edifício de Nova York.
Rodrigo viu pela CNN a primeira notícia do acidente. “Depois, comecei a seguir pela internet e me envolvi com aquela história”, diz. Naquele mesmo ano, ficou sabendo que produtores americanos levariam o drama para o cinema. Ele ficou de olho. “Inicialmente, eles me propuseram um dos mineiros”, revela. Dois anos depois, quando o roteiro final e o cronograma chegaram, Santoro estava comprometido com Golpe duplo (2015), no qual contracenava com Will Smith.
O ator escalado para interpretar Laurence Golborne, o ministro da Energia do Chile, desistiu do projeto. Melhor para o brasileiro. “As filmagens desse personagem eram em janeiro. Aí, poderia fazer o papel. Fiquei muito feliz. Ele é um homem cheio de desafios: exerce uma série de funções políticas e administrativas, tem vínculo muito grande com as famílias. Isso humaniza”, comenta.
De dezembro de 2013 a fevereiro de 2014, Os 33 foi totalmente rodado – sem estúdio de som – em locações chilenas e colombianas. Assinado por Mikko Alanne, Craig Borten (Clube de Compras Dallas) e Michael Thomas (O dublê do diabo), o roteiro se baseia na trama de José Rivera (autor de Diários de motocicleta) e no livro Na escuridão: A história do resgate dos 33 mineiros chilenos, de Hector Tobar.
Vencedor do prêmio Pulitzer, o jornalista Tobar foi escolhido pelos próprios mineiros para narrar sua história. Embora se trate de um episódio midiático – o resgate foi transmitido ao vivo para o mundo –, poucos sabem o que se passou dentro da mina. Antonio Banderas interpreta Mario Sepulveda, líder do grupo, e Juliette Binoche faz o papel de Maria Segovia, irmã de um dos mineiros.
Rodrigo Santoro diz que o elenco teve oportunidade de conhecer os personagens reais. Quando ficou a sós com Laurence Golborne, preocupou-se em captar o universo interior do político. “Falei pra ele: ‘Não vou tentar te imitar’. Estou interessado em como você lidou com aquilo tudo”, relembra.
Críticas
Apesar de reconstruir um evento chileno, ser dirigido por uma mexicana e com vários latinos no elenco, Os 33 é falado em inglês. Principalmente por causa disso, o filme foi recebido com ressalvas no país do poeta Pablo Neruda, do músico Victor Jara e da compositora Violeta Parra. “Não estou defendendo a escolha do produtor, mas, se ele fosse falado em espanhol, não atingiria tantas pessoas. Foi uma opção comercial e muito consciente para expandir o mercado para o filme”, afirma Rodrigo.
Desde 2003, quando rodou As panteras, esse brasileiro que investe na carreira internacional já experimentou um pouco de tudo. Cada produção é um aprendizado. “A gente não é, vamos sendo”, sintetiza Rodrigo. O ator acaba de voltar do Canadá, onde rodou Dominion. Adorou a experiência. “Ele é totalmente independente, não tem dinheiro americano. Tenho aprendido muito por aí. Blockbusters só estão comprometidos com o lucro”, explica. “O mercado independente é mais comprometido com a história, com o artístico. Não é muito diferente do cinema brasileiro. A variação está no tamanho”, compara.
Santoro se diz entusiasta da produção nacional contemporânea. Fã de Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, conta que viu o filme, indicado pelo Brasil para concorrer a uma das vagas ao Oscar, em uma sessão lotada em Los Angeles. “Fiquei com o pescoço torto, porque sentei lá na frente. Adorei”, elogia. O ator vai ciceronear a campanha brasileira pela estatueta. “Topei com todo prazer, porque acredito nesse filme. O que puder fazer para que ele seja reconhecido, vou fazer”, garante.
TRÊS CORAÇÕES Os 10 minutos concedidos à reportagem acabaram há algum tempo, mas Rodrigo continua o papo. Quando chega o novo aviso, ele brinca: “Acho que vou ter de ir aí comer um pão de queijo. Você sabia que minha família é mineira?”. O avô materno é de Três Corações, no Sul de Minas. “Meu Junqueira Reis é daí”, revela.
Assessores fazem novo sinal, mas, mineiramente, ele prossegue com a prosa. “Antes de desligar, preciso falar dos meus amigos daí.” O primeiro é Maurício Tizumba, com quem trabalhou no filme Heleno. “Esse camarada me ensinou muita coisa. Não é só ator, mas um artista completo. Tem um astral e uma alma muito iluminada.” Depois vêm os colegas do Grupo Galpão e a coreógrafa Cassi Abranches, do Grupo Corpo, com quem trabalhou em Rio, eu te amo.
“Sempre gosto de falar de artista. A gente precisa disso para se movimentar”, explica Rodrigo, antes de se despedir. “Agora não tem mais jeito, tenho que ir mesmo. Até a próxima”, diz, com outra brincadeira sobre o queijo mineiro. Pelo jeito, o Junqueira está louco por uma fatia de canastra curado.
Carreira Internacional
As panteras: detonando (2003)
A participação de Rodrigo Santoro foi pequena e polêmica. As falas do ator foram cortadas e isso causou bafafá no Brasil.
Simplesmente amor (2003)
Na produção britânica escrita e dirigida por Richard Curtis (Um lugar chamado Notting Hill), Rodrigo fez pequena participação como o par romântico de Laura Linney.
300 (2006) e 300: A ascensão do império (2014)
O brasileiro ganhou seu primeiro papel de destaque internacional: o malvado Xerxes, na adaptação da graphic novel da Marvel. Rodrigo levou o prêmio MTV Movie Awards na categoria vilão.
Lost (2006/2007)
Interpretou Paulo na terceira temporada da série.
Leonera (2008)
A produção dirigida pelo argentino Pablo Trapero, sobre uma penitenciária feminina, estreou no Festival de Cannes.
Che: O argentino e Che 2: A guerrilha (2008)
Interpretou Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, nos longas dirigidos por Steven Soderbergh.
O golpista do ano (2009)
Fez o papel de namorado de Steven Russel, personagem de Jim Carrey.
O que esperar quando você está esperando (2012)
Na comédia sobre grávidas, fez par romântico com Jennifer Lopez.
Rio, Eu te amo (2014)
Fez um bailarino no episódio dirigido por Carlos Saldanha. Contracena com Bruna Linzmeyer.
A coreografia foi criada por Cassi Abranches, do Grupo Corpo.
Golpe duplo (2015)
Pequena participação como namorado da golpista Jess, papel de Margot Robbie.