Em cada grito de incentivo, cada abraço, a equipe brasileira mostrava sua vontade de fazer uma grande apresentação logo na abertura da classificatória masculina do Mundial de Glasgow, ontem. Com Arthur Zanetti, Arthur Nory, Caio Souza, Francisco Barretto, Lucas Bitencourt e Péricles Silva, o time verde-amarelo entrou na Hydro Arena como um forte candidato à final e, consequentemente, à vaga olímpica por equipes. Só que muitas quedas colocaram a seleção sob risco. Mesmo melhorando um pouco no somatório em relação ao Mundial de Nanning (349,058 pontos, contra 348,100 de 2014, quando ficou em sétimo na classificatória), o posto entre os oito melhores está ameaçado. “Isso que vimos é competição, tem queda, não adianta, mas um cai e o outro substitui a nota. A equipe do Brasil está de parabéns, fez um belo trabalho justamente porque, quando um caia, vinha mais um para substituir a nota, entrava com a cabeça tranquila e acertava a série. Por isso a equipe está de parabéns”, disse Zanetti.

Por abrir a competição, o Brasil teve de enfrentar o rigor dos juízes, que tomam os primeiros competidores como parâmetro. Ao menos a equipe tinha ao lado os britânicos como referência, já que os anfitriões são favoritos ao pódio. Como as quedas aconteceram em aparelhos dife-rentes e há sempre uma nota de descarte por aparelho, o Brasil ainda conseguiu entrar na zona de pontuação esperada pela comissão técnica, entre 349 e 351 pontos. A distância para os anfitriões ingleses também diminuiu de nove pontos em 2014 para 5,360 pontos em Glasgow.

O destaque brasileiro foi Arthur Nory, que mostrou segurança e consistência para somar 88,182 pontos e ser o melhor da equipe no individual geral. Em série bastante esperada era a do campeão olímpico Arthur Zanetti nas argolas. Ele não foi tão bem quanto de costume e ainda contou com o rigor dos juízes para receber a nota de 15,433, sua pior do ano. “A série com certeza não foi uma das minhas melhores. Fiz a minha parte, e os árbitros estão com um critério bem rigoroso mesmo. Vimos pela nota do portorriquenho (Tommy Ramos), que também é finalista olímpico, e tirou uma nota muito baixa. Espero que eles mantenham esse critério até o fim. Pode acontecer de eu não pegar uma final sim, dentro da área de competição esse risco corre a todo o momento, vai depender dos outros ginastas”, disse Zanetti, que sofreu uma queda na série de solo.

As outras quedas do Brasil foram com Chico na barra fixa (seu melhor aparelho) e com Caio, tanto no cavalo com alças como nas barras paralelas. Melhor brasileiro do individual geral no Pan, o ginasta disse ter sentido o peso da estreia. “Até a entrada no ginásio eu estava bem, mas entrei no cavalo muito nervoso. Deu um frio na barriga, uma ansiedade a mais. Não fiz a série de cavalo que pretendia. Tive de levantar a cabeça. Nas paralelas eu não esperava. Era uma série que estava bem segura para mim, mas faz parte do esporte. É trabalhar e vamos esperar para ver se vamos nos classificar ou não”, disse Caio. Em segundo lugar na subdivisão inicial, o Brasil acredita que está na briga pelas três últimas vagas na final por equipes Japão, China, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Rússia já eram considerados imbatíveis antes da competição, assim como em 2014. Alemanha, Romênia, Coreia do Sul, Ucrânia, Suíça e França são os concorrentes diretos. As classificatórias masculinas só terminam na segunda-feira.

Os brasileiros entraram confiantes e concentrados na Hydro Arena para abrir a competição justamente no aparelho que foi o Calcanhar de Aquiles em anos anteriores: o cavalo com alças. Estreante, Caio Souza foi o primeiro da equipe a entrar em ação, começou bem sua série, mas sofreu uma queda e tirou apenas 12,633. Os brasileiros não se abalaram, sabiam que tinham um descarte e teriam de acertar as apresentações seguintes para a nota de Caio não contar, e foi o que fizeram, primeiro com Lucas (13,800), depois com uma ótima série de Nory (14,533), com Chico (14,366) e com Péricles (14,266). O Brasil somou 56,965 pontos no aparelho, mais de dois pontos melhor do que o Mundial de 2014. Enquanto isso, os fortes anfitriões britânicos tiveram duas quedas na barra fixa e não conseguiram abrir muita vantagem (0,467).