ENTREVISTA

Geraldo Azevedo relembra parceiros e trajetória musical

Cantor e compositor pernambucano fala sobre a sua jornada desde os tempos de Petrolina até a fama e o sucesso. Evoca os tempos que tocou com Geraldo Vandré e defende o Rio São Francisco

Alceu

João Gilberto e Ivete Sangalo colocaram Juazeiro no mapa da música popular brasileira. Bem próxima daquela cidade baiana – separada por uma ponte sobre o Rio São Francisco – está a pernambucana Petrolina, terra natal de outro grande nome da MPB, o cantor, compositor e violonista Geraldo Azevedo.

Em 2015, Geraldinho, como é chamado pelos amigos, comemora 50 anos de trajetória artística. O início de tudo foi em Recife, com o Grupo Raiz, do qual faziam parte, também, Carlos Fernando, Teca Calazans, Naná Vasconcelos, Marcelo Melo e Toinho Alves. Os dois últimos, tempos depois formariam o Quinteto Violado.
Mas foi no Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1967, com a intenção de integrar a banda da cantora Eliana Pitman, que ele viu a carreira decolar, depois de muita batalha. Com o Quarteto Livre, que formou com Naná Vasconcelos e outros músicos, passou a acompanhar Geraldo Vandré, após a repercussão obtida por Para não dizer que não falei das flores, no Festival Internacional da Canção, em 1968.
Logo depois, conheceu o conterrâneo Alceu Valença, com quem gravou o LP Quadrafônico. O primeiro disco solo não demorou. Mas o grande público só veio tomar conhecimento do trabalho de Geraldo quando, em 1979, ele lançou pela CBS (atual Sony Music), o álbum Bicho de sete cabeças. Seguiram-se mais 16 títulos – o mais recente é o Assunção de Maria, que saiu pela Som Livre. Geraldo participou, ainda, de projetos como Cantoria e Grande Encontro, que também ganharam registros fonográficos.
Geraldo qual é a sua origem?
Nasci em Jatobá, na zona rural de Petrolina. Minha mãe, Almira, era a professora do lugar. Ela tinha uma grande visão cultural, incentivava o teatro e cantava. Meu pai e meus tios tocavam violão. Eu me lembro que com quatro anos de idade já cantava Sabiá, de Luiz Gonzaga. Sabia o caminho. A cultura de Petrolina era misturada muito com a cultura baiana. 
Você saiu de Petrolina direto para Recife?
Não. Quando comecei a tocar nas escolas e depois no ginásio, virei animador cultural. Aos 16 anos, tinha um grupo musical e passei a me interessar pela bossa nova. Descobri em Juazeiro o disco de um cara chamado Walter Santos, que era amigo de João Gilberto. Os arranjos de Tom Jobim me influenciaram muito.
Quando foi a ida para a capital?
Depois que conclui o ginásio é que fui para Recife, dar continuidade aos estudos. Eu não tinha nenhum plano em relação à música, que, para mim, era um hobbie. Não a via como profissão, até porque havia um preconceito, por eu viver com o violão para todo lado. Me chamavam de Geraldo Boemia. Meu projeto era me formar em arquitetura, porque sempre gostei de desenhar. .
Mas a música acabou prevalecendo, não é mesmo?
Isso foi depois que comecei a me informar, ler sobre o movimento artístico da região. Formei o chamado Grupo Raiz, com meu futuro parceiro Carlos Fernando e outras pessoas começamos a nos apresentar. Aí, a TV Jornal do Comércio nos convidou para fazer um programa que se chamava Chegou a vez, que tinha também literatura, folclore. Era uma coisa de manifestação da cultura pernambucana. Na TV, tinha um outro programa, o Noite de gala, no qual se apresentavam artistas consagrados como Caubi Peixoto, Nelson Gonçalves. A Eliana Pitman foi outra convidada. Ela me viu tocando num bar, ficou entusiasmada e me convidou para fazer parte do grupo que a acompanhava.
Você foi de imediato para o Rio de Janeiro?
Não. Relutei um pouco para deixar o Recife, mas acabei indo. Fiquei trabalhando com a Eliana, e busquei fazer contatos com outros músicos. Logo depois, formei o Quarteto Livre, que passou a acompanhar Geraldo Vandré, depois que ele classificou-se em segundo lugar no Festival Internacional da Canção, com Para não dizer que não falei das flores (Caminhando).
Como foi trabalhar com o Vandré?
A repercussão do Para não fizer que não falei de flores foi enorme. Por ser uma canção que contestava o regime vigente, Vandré ficou na mira dos militares da ditadura. A turnê que fizemos acabou não se prolongando, pois ele passou a ser perseguido. Fomos fazer o show em Goiânia e de lá viríamos para Brasília, onde nos apresentaríamos no Iate Clube. Aí, o Vandré voltou para o Rio e ficou escondido na casa do Guimarães Rosa. Foi durante a clandestinidade dele que compusemos Canção da despedida, que ele gravaria no exílio, em Paris, no disco Das terras de benvirá.
Por acompanhar o Vandré, você também foi alvo da ditadura?
Acredito que estava também sendo monitorado, até por minha militância em movimentos sociais. Acabei sendo preso e torturado em 1969. Levei meu violão para a prisão e, certa vez, me tiraram da solitária e pediram que eu tocasse para o major, responsável pelos interrogatórios.
E como se deu o encontro com Alceu Valença
Já morando no Rio, fui fazer show em Recife, e o Alceu foi assistir. Ainda não o conhecia. Na época que eu comecei a compor com o Alceu, ele já estava morando no Rio Ele ia muito à minha casa e começamos a compor em parceria. As três primeiras inscrevemos num festival universitário, promovido pela TV Tupi. Aí, em 1972, lançamos o LP Quadrafônico, pela gravadora Copacabana, e fizemos juntos o filme A noite do espantalho, dirigido por Sérgio Ricardo. Fui,ainda, autor dos arranjos das músicas para a trilha sonora.
Você compôs músicas para o disco de estreia de Elba Ramalho. Onde a conheceu?
Conheci Elba no Rio e durante três anos moramos juntos. Naquele tempo, ela trabalhava como atriz e fez peças com o Luiz Mendonça, entre elas a Viva o cordão encarnado. Depois de participar do musical Ópera do malandro e gravar O meu amor, com Marieta Severo, Elba se lançou como cantora. Para o primeiro disco dela, o Ave de prata, fiz a música Canta coração, que veio a ser o seu primeiro sucesso.
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