A reserva queima

Desta vez não foi malária ou balas de espingarda de nenhum jagunço. A ameaça chegou em forma de fogo e já consumiu mais de 30km de florestas da Reserva Arariboia, situada entre os municípios de Arame, Grajaú, Santa Luzia, Bom Jesus, Amarante e Buriticupu, no sudoeste do Maranhão. Quase um terço das terras indígenas já […]

Desta vez não foi malária ou balas de espingarda de nenhum jagunço. A ameaça chegou em forma de fogo e já consumiu mais de 30km de florestas da Reserva Arariboia, situada entre os municípios de Arame, Grajaú, Santa Luzia, Bom Jesus, Amarante e Buriticupu, no sudoeste do Maranhão. Quase um terço das terras indígenas já foram transformadas em cinzas.
Cerca de 180 brigadistas dos estados do Maranhão, Tocantins, Rio de Janeiro, São Paulo e do Distrito Federal estão na área tentando apagar o fogo. A extensão devastada corresponde a 11 mil campos de futebol.
Cerca de 7.300 índios habitam a Reserva Arariboia, distribuídos em 140 aldeias, muitas delas encravadas em áreas de difícil acesso ao longo de 338 mil quilômetros de extensão em matas selvagens.
E, na luta para apagar o incêndio devastador que já dura mais de 40 dias, buscam-se, também, os culpados. Como explicar que, de repente, o fogo apareça e saia consumindo tudo pela frente? Os índios dizem que o incêndio é criminoso e acusam os madeireiros da região. Não se sabe o motivo, mas o momento é de grande tensão. Também não é hora de buscar culpados, mas, sim, de agir.
É inegável que os povos indígenas da pré-Amazônia maranhense vêm sofrendo ao longo de décadas um processo de extermínio lento e silencioso. Além dos Guajajaras e dos Gaviões, que são os donos da Reserva Arariboia, a ameaça, seja em forma de fogo, de balas de espingardas ou de doenças tropicais, atingem, também, a nação Awá-Guajá, uma das últimas tribos nômades da Amazônia brasileira e que ainda não teve contato com a civilização branca.
Não são meras suspeitas, os fatos são concretos e confirmam que realmente há em curso um processo de eliminação dos povos indígenas no Maranhão. E continuar de braços cruzados não é apenas crime de omissão, como, também, um ato de extrema covardia.
Diante deste cenário, é louvável a iniciativa da juíza Selecina Henrique Locatelli, da Comarca de Arame, que em um ato de coragem decidiu deixar por algumas horas os processos no seu gabinete e adentrar, sozinha e sem qualquer tipo de segurança pessoal, as matas da Reserva Arariboia para se reunir com os índios da aldeia Zutiwa. O fato aconteceu no dia 9 deste mês, marcando, na história do Poder Judiciário do Maranhão, a primeira audiência pública dentro de uma aldeia indígena com a presença de um magistrado.
O gesto da juíza merece reconhecimento não apenas pela sua bravura, mas, principalmente, por ter servido para comprovar que, ao contrário do que é noticiado, os povos indígenas não querem guerra, precisam apenas sobreviver.
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