O que dizer do passeio de Lewis Hamilton no Japão? O tri do inglês só não vem se ele abandonar o campeonato e ainda poderia vir mesmo assim com alguma sorte. Acumulando 48 pontos na frente de seu cada vez mais diminuto companheiro de equipe, Nico Rosberg, Lewis corre para o título como correu para a vitória em Suzuka, sozinho. A maior preocupação da Mercedes na Terra do Sol Nascente foi reclamar de ter aparecido pouco na transmissão. Um dos raros problemas de quem eventualmente domina a Formula 1. Depois de ter liquidado a pole de Rosberg já na primeira curva, Lewis só seria visto pelos menos atentos, no pódio, recebendo o troféu pela vitória.
As equipes estão pensando duas vezes antes de autorizar corridas de recuperação ou a categoria está mais equilibrada do que parece em ritmo de prova? As regras atuais induzem ao abandono para evitar desgastes de equipamento contado e, mesmo assim, a Williams manteve Felipe Massa na pista até o final, apesar de o piloto ter perdido uma volta por causa de um pneu furado na largada. O brasileiro tinha nas mãos um prejuízo irrecuperável. Já na metade da prova, na pior das hipóteses, era visível que ele não conseguiria chegar nos pontos em circunstâncias minimamente normais.
Ficou também a impressão de que a Ferrari não quis arriscar nada. Preferiu fazer uma prova burocrática com seus carros e acumular um prejuízo mínimo. No início da prova, o tradicional colapso de Rosberg parecia abrir uma porta para que os italianos tentarem tirar mais pontos do alemão. O fato é que Kimi, que poderia ter se lançado ao sacrifício, não atacou e Vettel apenas acompanhou o segundo piloto da Mercedes quando perdeu a posição na última rodada de pit stops.
A Ferrari pode ainda estar correndo pensando no campeonato, apostando no “sobrenatural de almeida”? Provavelmente não, mas vai saber. Acho que a equipe poderia arriscar mais, mas isso iria contra o signo da atual Formula 1, que premia os muquiranas e pune a audácia. Em 1986 a McLaren vinha em posição semelhante, sendo um franco atirador durante um período de hegemonia da Williams. A equipe não pensou duas vezes em sacrificar seu segundo piloto da ocasião (Keke Rosberg) para, pelo menos, confundir os adversários em corridas suicidas. Naquele ano funcionou e Alain Prost arrebatou um título improvável, sem ter em mãos o melhor equipamento. A própria Ferrari fez algo parecido em 2007 com Kimi Raikonen, mas sabe que, diferentemente daqueles anos, a equipe dominante não vive uma disputa interna da qual eles poderiam se aproveitar. A dominação da Mercedes se assemelha mais à era em que Schumacher nadava de braçada acumulando títulos pelos italianos sem qualquer desafio interno.
No Japão, o time de Maranelo não fez uma coisa nem outra. Seus dois pilotos correram para chegar sem riscos. Devem estar apostando que Rosberg vai acabar falhando gravemente mais alguma vez nas últimas cinco etapas, entregando de bandeja o vice-campeonato para um Vettel que não deve mais arriscar um deslize como o furo de pneu em Spa. Eles confiam tanto que o segundo piloto das Flechas de Prata vai desmoronar sozinho que, para eles, vale mais a pena manter Kimi na pista para roubar mais pontos a serem desperdiçados por Nico do que usá-lo como coelho em ajustes de pouca durabilidade para andar na frente e tentar provocar este mesmo erro. Provavelmente estão certos.
Em tempo
Alonso completou num heroico e tragicamente irrelevante 11º. Poderia ter pontuado em caso de qualquer incidente. Chega a ser desconcertante ver tanto talento desperdiçado. Mesmo assim, insultar a Honda gritando que o motor seria de GP2 (categoria de acesso) na casa dos japoneses é muito grave. Só faz sentido se ele estiver, pela enésima vez na carreira, querendo cavar uma demissão. Não seria surpresa, mas simplesmente não existem vagas confiáveis se abrindo. Quem sabe a Renault ,aonde ele foi bicampeão dez anos atrás, que volta com equipe própria ano que vem. Mais do que nunca este comportamento do espanhol parece fruto do desespero e pode acabar por ejetá-lo da categoria da forma mais infame imaginável. De toda forma, como já dissemos aqui, não é de hoje que ele vem cavando a própria sepultura.
Felipe Nasr apareceu bem no início da prova, mas perdeu rendimento depois da metade. Ele ainda colhe os frutos de ter andado bem no início do ano, quando a Sauber sempre vai bem, mas tem de se ligar. Ter o segundo ano garantido numa equipe conhecida por não conseguir desenvolver o carro ao longo do ano é a garantia de deixar sempre uma má impressão no final da temporada. Aliás, é só por isso que Marcus Ericsson ainda está atrás dele na tabela apesar vir andando melhor. A equipe do avaro Peter Sauber é uma boa porta de entrada na Formula 1, mas uma péssima sala de espera em busca de melhores oportunidades.
Quem está aparecendo cada vez melhor na foto é Max Verstappen. Depois de dizer um sonoro não para uma ordem de equipe em Cingapura, o jovem de apenas 17 anos vem calando a boca de muita gente, amadurecendo rápido e aparecendo bem durante as provas. Na volta 45, ele assinou uma ultrapassagem tradicional sobre seu companheiro de equipe, o monótono Carlos Sainz Jr, mostrando como se faz. Não seria surpresa se ele superasse a dupla do Force India e Romain Grosjean na disputa pelo décimo posto na tabela. Um senhor resultado no ano de estreia.