Caso CT Sampaio

Em nota oficial, Sérgio Frota, explica venda do terreno

Presidente do Sampaio explica acordo com empresa e admite que gastou parte do dinheiro da venda do terreno do clube na campanha do acesso à Série B, em 2002

Sergio Frota
O presidente do Sampaio Corrêa, Sérgio Frota, em notícia publicada no site do clube, deu sua versão acerca da venda do terreno da sede do clube para a empresa Hispamix Brasil em dezembro de 2009, num negócio que apresenta como proprietário e vendedor da área, Antonio Cícero Oliveira Martins, no valor de R$ 6.750.000 (seis milhões e setecentos e cinquenta mil reais) em 16 de dezembro de 2009. Além disso, ocupou a tribuna, na sessão ordinário de ontem, na Assembleia Legislativa, com o mesmo objetivo.
Frota tratou do assunto como se todos os torcedores do clube e desportistas de um modo geral soubessem do acordo do Tricolor com a empresa imobiliária Hispamix. Na verdade, muita gente só tomou conhecimento do que ocorreu há seis anos devido à reportagem veiculada em O Imparcial no último domingo, o que gerou cobrança de explicações por parte de diversos torcedores bolivianos ao dirigente sampaíno.
“Um exemplo a ser ressaltado foi a notícia em destaque na capa do jornal O Imparcial, que divulga, como se fosse um fato revelador, a venda do terreno do Sampaio para a empresa Hispamix Brasil Investimentos Ltda. Uma situação que ocorreu dentro da legalidade e que em nenhuma circunstância traria ou trará prejuízo ao clube”, afirmou no site.
De acordo com o presidente sampaíno, uma parte do montante da venda foi aplicada em 2012 para substanciar a campanha da equipe, que culminou com o título da Série D do Campeonato Brasileiro.
“Fizemos um contrato, sim, com a empresa Hispamix e foi justamente esse acordo financeiro que viabilizou a campanha exitosa do time em 2012. Do montante envolvido na negociação, recebemos R$ 2 milhões em dinheiro, que investimos no departamento de futebol do clube – não à toa, conquistamos a Série D, invictos”, enfatizou. Até então, o que todos os bolivianos sabiam é que o clube, desde que Frota assumiu, era bancado pelo presidente, que também nesse período conquistou mandatos de vereador e deputado estadual.

Frota detalhou um pouco mais a parceria do Tricolor com a empresa que, segundo ele, deve fazer uma grande reestruturação no centro de treinamento do clube, além de informar como foi utilizado o montante recebido pela venda dos 28 hectares.

“A Hispamix ainda nos deve R$ 3 milhões, que serão utilizados para fazer uma grande reestruturação no nosso Centro de Treinamento, com alojamentos, campos de futebol, quadra poliesportiva, área de vivência para integrar o sócio, além de restaurantes e outros benefícios”, afirmou.
Outra parte da negociação acabou deixando para o Sampaio uma parte do terreno em que deve ser situada a sede social doclube bem como o centro de treinamento, que deverá ser construído pela Hispamix.
“Ficamos com 5 hectares do terreno (que só ainda não estão em nome do clube porque só este ano obtivemos a negociação de todas as nossas dívidas), pelo valor de R$ 1 milhão e 750 mil”, afirma a nota.
Ocorre que se o clube vendeu 28 hectares pelo valor de R$ 6,75 milhões, o custo de um hectare seria de aproximadamente R$ 241 mil. Enquanto o clube ficou com cinco hectares com valores divulgados pelo mesmo com o custo de R$ 350 mil.
Imagens aéreas do CT do Sampaio
O presidente também justifica a falta de uma publicidade do acordo, e também o atraso das obras, por conta de divergências entre ele e a empresa quanto ao projeto de construção do centro de treinamento, bem como de um condomínio que cabe à Hispamix.
“O único impasse que existe entre o Sampaio Corrêa e a empresa, o que justifica o atraso no início das obras, é uma discordância em relação ao projeto. Pois na parte do terreno que cabe à Hispamix, será construído um condomínio que também beneficiará o clube com sua estrutura. E nós não concordamos com os projetos até então apresentados”, justificou.
Dívidas
Frota também falou sobre o que considera a legalidade do terreno e a não utilização do nome do Sampaio Corrêa como proprietário do espaço, bem como o esforço financeiro que vem fazendo nos últimos oito anos para conseguir quitar (ou renegociar) as dívidas das administrações anteriores do clube.
“Essa área nunca esteve no nome do Sampaio e já foi invadida várias vezes. Caso estivesse, já teria sido penhorada, há muito tempo, devido a diversas dívidas acumuladas em gestões anteriores, que inclusive impediram que os outros presidentes anteriores a mim, colocassem esse imóvel em nome do clube”, explicou.
O presidente, por diversas vezes, afirmou que o Sampaio, hoje, não possui nenhum tipo de dívida em aberto com o governo, conseguindo a regularidade fiscal em março de 2015, colocando o clube nos 7% do Brasil que possuem essa quitação.
“Somente em março desse ano, depois de 94 meses à frente do clube,e um grande trabalho de engenharia financeira, conseguimos obter a nossa regularidade fiscal, negociando débitos com INSS, FGTS, dívida ativa da União, Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e Justiça do Trabalho em uma dívida que ultrapassava R$ 10 milhões. Só essa regularização já nos custou mais 2 milhões de reais, em dívidas que foram herdadas pela nossa administração”, concluiu.
Perguntas sem respostas
Procuração
Qual a relação do Sr. Antônio Cícero Oliveira Martins com o Sampaio Corrêa e como a propriedade do terreno foi parar no nome dele? No documento de compra e venda, há uma procuração de Antônio Cícero dando poderes ao próprio presidente Frota para concretizar o negócio. Logo, presume-se que Frota conhece o seu procurado e pode revelar mais sobre ele e a lisura do negócio. Por que não o fez? O que aconteceu com o Centro Cívico Recreativo José Carlos Macieira? Em oitiva aos conselheiros listados no site do clube como membros da atual diretoria, nenhum dos encontrados pode explicar quem seria Antônio Cícero, apesar de demonstrarem conhecimento do acordo feito com a Hispamix.
Novo CT
Frota creditou ao Sampaio Corrêa a propriedade de cinco hectares do terreno. Por que não foi esclarecida a exata localização dessa parte que cabe ao clube? Além disso, as controvérsias acerca do projeto de construção do CT (e do condomínio) pela Hispamix foram dadas como motivo para barrar o início das obras. Mas após quase seis anos da conclusão do negócio ainda não houve um acordo? Qual o motivo?
Conselheiros 
Com a confirmação da venda do terreno, acredita-se que os conselheiros do Sampaio foram consultados e tinham ciência de todo o contrato. O site oficial lista 20 conselheiros deliberativos e três conselheiros fiscais. Nenhum se manifestou sobre a venda, e os que foram encontrados pela reportagem se recusaram a falar sobre o negócio. Todos tinham esses detalhes? Por que não vieram a público de forma transparente?
Análise da Notícia
O dever da diretoria
O presidente do Sampaio, Sérgio Frota, resistiu, mas resolveu falar. E o fez com a garra e a contundência que lhe são peculiares. Aplausos. Porém, ele cumpre nada além do que a obrigação de todo o presidente de grande clube. Dar explicações sobre a economia do maior e mais próspero time de futebol do Maranhão é dever da diretoria. É o que esperam torcedores, conselheiros e imprensa.
O atual comando do Sampaio merece respeito e méritos por suas conquistas. Devido ao competente trabalho desempenhado por Frota e sua equipe, o Sampaio escalou da Série D para a Série B em três anos. E está próximo de conquistar a tão sonhada vaga na elite do futebol. O time cresceu. A marca cresceu. A torcida cresceu. A gestão deve seguir o mesmo ritmo.
Transparência, diálogo e respeito às diversas forças que participam e contribuem para a história do time – como jogadores, conselheiros, sócios, torcedores em geral e imprensa – devem ser preocupação primeira da diretoria. Afinal, clube de futebol que arrebata multidões, movimenta milhões e ocupa milhares de páginas e minutos da mídia é patrimônio social e esportivo de sua região. Não se limita a uma razão empresarial qualquer.
É bom assinalar: políticos fazem política. Jornais fazem jornalismo. A imprensa investiga, fiscaliza e informa. Para O Imparcial é assim há 90 anos. A força que nos move não está oculta. É o jornalismo. Ele que sempre esteve e estará guiando nossas páginas. Neste episódio, tão importante para a história do Sampaio, este diário nada mais fez do que buscar detalhes em benefício dos milhares de torcedores, curiosos pelo fato. Essa é a nossa obrigação. E assim continuaremos.
 
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