Cinco meses se passaram desde a primeira manifestação de rua contra o mandato da presidente Dilma Rousseff. No período, a crise econômica eclodiu mais forte, arrastando para dentro do governo a insatisfação popular, o desânimo no setor produtivo e o recrudescimento da crise política. A oposição surfa na onda das mídias que dão amplitude às mazelas da corrupção no âmbito da Operação Lava-Jato, da inflação e do desemprego. Mesmo assim, o movimento “Vem pra rua”, que usou até o horário partidário do PSDB para conclamar o povo, não conseguiu sequer igualar, em volume de público, o ocorrido em março deste ano.
A mobilização de 800 mil pessoas nas ruas de dezenas de cidades brasileiras traz um dado surpreendente. Foi menor que a anterior, mesmo diante de uma realidade sociopolítica mais aguçada. Se se comparar, por exemplo, com a tradicional parada gay, que arregimenta de um a dois milhões de pessoas só no centro de São Paulo, constata-se uma discrepância entre o apelo para protestar contra a crise atual e a invocação à causa dos gays e similares. Porém, esse é tema para cientistas. Mas há espaço até para comparar os 800 mil do impeachment com os 54 milhões que em 2014 deram mais quatro anos a Dilma.Seja como for, povo nas ruas é democracia palpitando.
No livro clássico O Povo Brasileiro, o sociólogo e político Darcy Ribeiro disse que os descendentes de escravos e de senhores de escravos do Brasil “serão sempre servos da malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, mulheres e crianças, convertidas em pasto de nossa fúria”.O jornal inglês The Guardian escreveu ontem o que os jornais do país não viram: “A mais recente onda de protestos é de um grupo mais velho, mais branco e mais rico, reunido após vigorosa cobertura antecipada da grande mídia”.
Não sem argumentos, várias personalidades do Brasil atual analisaram o movimento de domingo por diferentes prismas. O presidente do Bradesco, maior banco do Brasil, com sede na Avenida Paulista,Luíz Carlos Trabuco, disse que a crise é “mais política do que econômica” e fez apelo para que se separe o “ego pessoal do que é melhor para o País”. Já o senador tucano José Serra viu no movimento “um apelo para Dilma renunciar”. Porém, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, preferiu a direção oposta: “Ela foi eleita, tem que respeitar”.
Magistrados-heróis
Pelo Facebook, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), aliado de Dilma Rousseff, disse que “a crise política é impulsionada pela Lava-Jato”. E acrescentou que “a sociedade se agarra a ‘magistrados-heróis’” por conta de uma “crise de representação política”. As manifestações são “insuficientes para impulsionar o absurdo discurso do impeachment”, arrematou.
Sozinho na linha de fogo
Até agora nenhum integrante do grupo Sarney arriscou jogar a boia salvadora a Ricardo Murad. Ele virou alvo preferencial das ações judiciais do governo Flávio Dino, embora a razão seja sua participação de homem forte no governo Roseana. Murad faz parte tanto da relação de parentesco quanto foi no poder. Agora está sozinho no tiroteio.
Bulindo em marimbondos
O deputado do PPS na Assembleia Legislativa do Maranhão, Wellington do Curso, resolveu discutir, em audiência pública, “as consequências negativas”da extinção da prova do exame da OAB. Trata-se do Projeto de Lei 5.054/2005, que tramita na Câmara, com o apoio do presidente Eduardo Cunha. O relator é o deputado Ricardo Barros (PP/AL).