No mais recente filme, o diretor Woody Allen sustenta uma teoria: o intelecto não capta tudo e da alçada dele lhe espapam os imprevistos. A partir disso, teremos pistas para acompanhar o destino do carismático professor Abe (Joaquin Phoenix), dono de parâmetros filosóficos instigantes como o de que “a ansiedade seja vertigem produzida pela liberdade”. Sob a ótica da aluna que Abe admira, Jill (Emma Stone), ele seria “brilhante e sofredor”. Mas o protagonista desce a ladeira de uma crise e terá pela frente muita encrenca, até reassumir a própria vida.
Sem o falatório exagerado, o roteiro de Allen acompanha Abe e seus dilemas morais. Prato cheio para as relativizações do cineasta. Curiosamente, Phoenix não dreiva de Allen nos tiques de interpretação, mas Emma Stone investe numa similitude vocal de Diane Keaton, um emblema do mundo de Woody. O homem irracional desenvolve a queda do diretor por situações que testam um prazer advindo de culpas: quase aleatoriamente, Abe resolve promover limpeza social numa mente doente e matar um malfeitor — o juiz Thomas Spangler (Tom Kemp).
Citando abertamente Alfred Hitchcock, Allen inclui, além da tensão, cenas em parque de diversões (como em Pacto sinistro). “Celebrando” a vida, Abe apela para a morte, e coloca o filme num patamar de apêndice para outras produções, como Match point e O sonho de Cassandra. Operando no discurso conceitual, a fita é favorecida pela alternância de narradores: Abe, vira e mexe, dá a vez para a voz de Jill.
Outro bom destaque no elenco é Parker Posey, intérprete da fogosa Rita. Homenageando Crime e castigo, Allen pode até não alcançar a genialidade, mas traz bom enredo que alinha coincidências, sorte, azar e personagens que se rogam o direito de ter “vontade” de respirar.
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