Lewis Hamilton vem dominando o mundial de 2015 baseado numa certeza que se consolidou em 2014. Nico Rosberg é um cheque sem fundos. Trata-se de uma quase fraude publicitária se considerarmos que o alemão sempre foi tido em alta conta quando não tinha equipamento vencedor. O planejamento da carreira dele vem de longe. Seu pai, o finlandês Keke Rosberg, campeão mundial de 1982, já deve ter registrado o filho na terra do chucrute apostando que seria mais fácil arrumar patrocínio na maior economia da Europa.
Foram quatro anos de brilharecos na Williams. Por menos que isso muitos consideravam a carreira de Rubens Barrichello acabada quando ele trocou a Jordan pela Stewart em meados dos anos 90. Ok, Nico venceu uma prova pelo time britânico, mas Maldonado também venceu e nunca foi incensado por isso. Uma andorinha só não faz verão e, na Formula 1, é o conjunto da obra que conta mais.
A lenda de Nico Rosberg continuou sendo inflada em seus primeiros anos de Mercedez. A equipe, que voltou para o mundial em 2010 comprando a Brawn GP, campeã do ano anterior. O companheiro de equipe era o heptacampeão Michael Schumacher, resgatado de sua aposentadoria por uma mistura de orgulho e vontade de honrar uma dívida moral com a fábrica alemã, que tanto lhe ajudara no início da carreira. Esta passagem vale um post em separado. Por hora, basta dizer que, enquanto muitos viram o baile que o sapateiro levou como uma prova da genialidade de Nico, quem vos escreve viu apenas um ex-piloto levar três anos para recuperar a boa forma a ponto de por ordem em casa.
Nocaute em 2014
Em 2013, Nico e Lewis dividiram os boxes da Mercedes com razoável equilíbrio num ano em que o carro era bom o suficiente para vencer corridas, mas não para lutar pelo campeonato. Foi uma temporada descompromissada, em que tanto eles quanto a equipe podiam usufruir da confortável posição de franco-atiradores.
A grande chance dele viria em 2014, quando a evolução do equipamento foi beneficiada pelas mudanças radicais no regulamento técnico. Rosberg deu sorte vencendo a primeira com um abandono de Hamilton e tentou levar a luta para um clinch, mantendo uma postura defensiva, marcando de perto seu companheiro.
A tática é boa e poderia ter funcionado se ele tivesse um mínimo de talento necessário para aplicar alguns golpes decisivos durante o ano, mantendo a pressão no rival. Deu tudo errado. A genialidade de Hamilton se precipitou como uma avalanche sobre os esforços de Rosberg, honestos ou não. Nico teve seu espirito de luta esmigalhado justamente quando tentou fazer o mesmo com seu rival, que é conhecido por reagir de maneira estabanada à pressão. Chegamos a 2015 no pior dos mundos para o filho de Keke, com um Lewis superconfiante e uma Ferrari que aparece cada vez mais ameaçadora nos retrovisores.
Muita atenção. Não estamos falando de ser eventualmente melhor, como Barrichello, de quando em vez, era em relação a Schumacher, mas de estar à altura do conflito. Este ano é decisivo para Nico. Ou ele reúne talento e força não se sabe de onde e parte pra cima de Hamilton ou será definitivamente relegado à condição de segundo piloto _ algo que pode ser a resposta automática da equipe se a Ferrari der um salto de qualidade grande o suficiente para dar a Vettel uma chance real de lutar pelo caneco _. Ainda há tempo e oportunidade para reagir. Resta saber se ele mesmo ainda acredita ser piloto o suficiente para bater Hamilton consistentemente.