DIA DOS PAIS

Música e arte de pai para filho

A reportagem de O Imparcial mostra as particularidades da relação entre pais e filhos do ator e diretor de teatro César Boaes, do cantor e compositor Bruno Batista e também do cantor e guitarrista Lucas Sobrinho

Já se foi o tempo em que ter um artista na família causava certo desconforto aos pais, que a priori almejavam para os filhos uma carreira acadêmica. Esse pensamento ainda ocorre? Muito provavelmente sim e na maioria dos lares, mas em uma família onde o pai já é um artista, ou um amante das artes, a probabilidade da “cria” seguir o caminho artístico é bem alta. Afinal de contas, é na convivência, no dia a dia de uma infância compartilhada entre pai e filho, que são plantadas as sementes que serão colhidas ao longo da vida. É naquele momento que as referências são tomadas como base para a vida toda, e quando essas referências se baseiam em uma música, uma poesia, um desenho, um instrumento musical, elas se tornam condição ímpar para o surgimento de um talento.
Neste domingo especial, domingo dos pais, mostramos em alguns artistas da nossa cidade essa ligação tão especial com seus pais. Quando e em que situação eles se sentiram influenciados pelo pai? Até que ponto o modo como eles se relacionaram na infância foi essencial para os artistas que se tornaram hoje? Conversamos com César Boaes, ator e diretor de teatro, atualmente em cartaz com a peça Pão com Ovo, e seu pai, o escritor Álvaro Melo. Também temos depoimento do cantor e compositor Bruno Batista, que fala de como o seu pai, o médico Paulo Gilmar, foi importante para que ele não desistisse da música.
Finalmente, falamos com o cantor e guitarrista Lucas Sobrinho, que ao lado do irmão, o baterista Cassiano Sobrinho, segue a trilha do casal de artistas Josias Sobrinho e Lenita Pinheiro.
Pai escritor, filho ator
Foto: Karlos Geromy/OIMP/D.A.Press .


Karlos Geromy/OIMP/D.A.Press

César Boaes, carinho do filho com o pai, seu Álvaro Melo

César Boaes é o mais novo de três irmãos. O carinho do filho com o pai, seu Álvaro Melo, e vice-versa, é visível nas lembranças de uma infância tranquila na cidade de Pedreiras. César nasceu e cresceu acostumado a ver o pai ler, escrever e apresentar a eles a poesia e a música.

Suas lembranças remontam à poesia de Castro Alves, com Navio Negreiro, uma das muitas lidas em voz alta; e à música de Nelson Gonçalves (A Volta do Boêmio), Altemar Dutra (Sentimental), músicas que o pai ouvia sempre em casa. “Lembro com carinho que o meu pai fazia questão de levar a gente uma vez por mês para comprar disco e a gente tinha liberdade para comprar o que quisesse, e claro com a referência que tínhamos e com a parte estética a que fomos apresentados, fomos muito estimulados a gostar de música boa e de livros. Foi uma infância muito tranquila de passeios, férias, ensinamentos, tudo que uma criança precisa ter para ser feliz”, comenta Boaes.
Sobre a profissão que seguiu, de forma alguma o pai se opôs, pelo contrário, o apoiou. “Sem esse apoio da família seria muito mais difícil”, diz Boaes. Para seu Álvaro, a vocação foi despertada bem cedo em César.
“A escola era perto de casa e todos os dias após a aula ele ficava para ver o ensaio da peça teatral. Um dia um dos atores faltou e a professora perguntou se ele não queria substituir, ele não pensou duas vezes. Foi e deu conta do texto todo. Para o filho, o pai é um herói, então, ele se dedicou para essa parte e a gente foi apoiando. Sempre dei liberdade para os meus filhos, mas uma liberdade vigiada”, lembra seu Álvaro.
Mas o dia em que o filho fez o pai chorar foi quando de surpresa César participou do lançamento do livro São Bento dos Peris, interpretando o índio Urubatan. “Eu não sabia e me emocionei muito”, conta.
Seu Álvaro assistiu à peça Pão com Ovo oito vezes e afirma que César vive a vocação dele. “Ele fez uma cirurgia que deixou uma pequena cicatriz quando era pequeno. Desde então, ele ficava com vergonha de tirar a roupa perto da gente, de ficar nu. E quando soube que ele ia fazer uma peça em Teresina completamente nu para todo o público ver, eu disse: ‘Então ser ator é o que ele quer mesmo. É indeclinável”. Boaes usa o sobrenome da mãe e seu Álvaro comenta que ele, dos três filhos, sempre foi mais ligado à mãe. Pergunto se ele não sente uma pontinha de ciúmes por isso. Ele ri e diz que não. “As pessoas se surpreendem quando sabem que ele é meu filho por causa do sobrenome. É assim mesmo.”
As melhores lembranças
Foto: Divulgação.


Divulgação

'Ele (Paulo Gilmar) é um entusiasta do meu trabalho' Bruno Batista

De toda a influência musical que o cantor e compositor Bruno Batista herdou do pai, o médico Paulo Gilmar, de 59 anos, o melhor foi o gosto apurado pela música popular brasileira.

Bruno afirma que se tornou músico por causa dele, principalmente, e pela história de vida deles, permeada pela música. A relação musical começou desde muito cedo, pois Paulo gostaria que o filho fosse maestro, por isso, aos 9 anos, matriculou Bruno para aulas de piano.
“Ele queria que eu desenvolvesse o estudo do piano clássico, mas não deu muito certo, porque logo depois de dois, três anos, eu abandonei o piano e fui para o violão, que era o instrumento que os meus tios já tocavam, e também comecei a compor, mas o primeiro estímulo foi dele, que é colecionador de discos, apaixonado por música brasileira”. Era nas viagens que seu Paulo se realizava quando varava as madrugadas passando as músicas dos LPs para as fitas cassetes que iriam tocando no trajeto de São Luís para Teresina, onde a família passava as férias.
“Às vésperas das viagens, eu me lembro dele passando a madrugada gravando os cassetes, lado A, lado B, sempre música brasileira. Essa lembrança é muito bela, algo que não me sai da memória…
Ele organizando essas viagens, as fitas, preparando tudo para que a gente pudesse viajar ouvindo música. A gente, sempre que se encontra, temos todos os outros assuntos que pais e filhos têm, mas sempre acaba terminando em música. Ele é um entusiasta do meu trabalho, um cara que me dá muito apoio, inclusive, se não fosse pelo apoio que me dá e sempre me deu, eu provavelmente já teria desistido da música”, analisa Bruno. Das músicas que mais se lembra, vem à memória a de Chico Buarque, Maninha, e um trecho que até hoje o deixa triste: “Mas não me deixe assim, tão sozinha/A me torturar/Que um dia ele vai embora, maninha/Pra nunca mais voltar…”.
“Eu escutava essa música e associava à partida do meu pai, então, e eu também tenho uma irmã, e isso nos deixava entristecidos.
Depois, mesmo depois de entender o real sentido da música, ainda assim, até hoje, eu fico entristecido.”
Ecletismo musical em família
Foto: Divulgação.


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'Eu, graças a ele (Josias Sobrinho), conheço muita música, de muitos autores' Lucas Sobrinho

O pai curte música brasileira e maranhense, um filho gosta de samba e pagode, e o outro, de rock, blues e pop. A família mais que eclética é de Josias Sobrinho (o pai) e os filhos Cassiano e Lucas Sobrinho.

O pai não cabe em si de orgulho de que os filhos tenham seguido a carreira musical. Um caminho natural já que foram criados em um ambiente completamente musical e foram inseridos no círculo artístico de Josias Sobrinho ainda pequenos.
Cassiano, o filho mais velho, enveredou pelo samba e pagode e hoje é baterista do grupo Argumento. Lucas é cantor e guitarrista e atualmente realiza o projeto/tributo aos Beatles com a banda Liver Paul. “Os meus filhos sempre tiveram muito contato com a música. Eu e a Lenita Pinheiro somos cantores. Então, quando eram menores, a gente os levava para tudo que era lado, shows, ensaios, o Cassiano com 6 anos já estava comigo no palco do Teatro Arthur Azevedo, então, o ambiente musical sempre foi muito intenso, tinha todo um cenário propício para que eles seguissem a música. Agora, as preferências musicais deles a gente não interferiu, tanto que são bem diferentes e eles sempre tiveram total liberdade para fazer o que quisessem dentro da área. O Lucas me acompanha nos shows também e eu acho que a liberdade de escolha tem que estar sempre presente”, avalia Josias.
Para Lucas, hoje com 27 anos, o contato com o violão começou aos 13 anos. Depois, veio a primeira banda de pop rock, em seguida, a outra com metal pesado, e agora o rock pop dos Beatles.
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