FORMULA 1

Felipe Nasr mira top-6 em 2016 e lamenta más condições do Autódromo de Brasília

Piloto brasileiro reconhece limitações da Sauber, mas aposta na evolução do carro no ano que vem

Felipe nasr
Mais audacioso do que às vésperas da estreia na Fórmula 1, o brasiliense Felipe Nasr aproveita o resto das férias em Brasília — a competição foi interrompida, mas retorna em 23 de agosto —, sem parar de pensar em velocidade. Entre planos e avaliação da primeira parte desta temporada, o piloto número 1 da Sauber vislumbra um top-6 no próximo ano — “Quem sabe?” —, sem esquecer as limitações de iniciante.“Tenho total consciência da equipe em que eu estou hoje e do meu equipamento, que não é para brigar por vitórias e pódios.”
No ano passado, em entrevista ao Correio, Nasr destacou que a meta era apenas pontuar na primeira temporada, mas ele largou na F-1 com o melhor resultado da história de um estreante. Agora, o capacete da corrida de abertura na Austrália fica guardado na capital. Apesar de se vigiar constantemente para manter os pés no chão, o piloto sabe o valor do feito. O não a um torcedor europeu que ofereceu 8 mil euros por um capacete é sinal disso. “Recusei, um dia vai valer muito mais”, aposta, ao mostrar parte da sua coleção.
Com mais trabalho do que descanso na agenda, o piloto recebeu a reportagem, ontem, no local que o leva de volta às primeiras referências de automobilismo. Ao lado do autódromo de Brasília e do kartódromo em que iniciou a carreira, com apenas 7 anos, Nasr passeia entre troféus e capacetes guardados na Oficina do Amir, tio dele. “Eu lembro que naquela época o movimento aqui era muito grande. Existia uma frequência altíssima de corridas”, diz.
As lembranças do piloto de Fórmula 1 formado na cidade contrasta com um autódromo fechado para reformas que não sai do papel. Por lá, ele nem quis tirar foto. “Tá horrível”, lamenta. “É uma realidade ruim. Esse autódromo foi referência para tanta gente. Até mesmo pra mim, que dei minhas primeiras voltas num carro fórmula aqui. É um desperdício a gente vê-lo nesse estado.”
Como você avalia esta metade de temporada, agora, com alguma experiência?
Olhando agora, já foram 10 provas, e só posso dizer que foi superpositivo. Conseguimos atingir a maior parte dos objetivos. O primeiro era terminar uma corrida, marcar meus primeiros pontos e ter consistência. Acho que consegui tudo isso.
E para esta etapa final da temporada?
Continua sendo este mesmo objetivo, de aprender cada vez mais sobre esse meio da Fórmula 1, o entrosamento com a equipe. Eu vejo que as coisas estão melhorando. E acho que tem muito foco em cima do desenvolvimento do carro, que deve começar nesta segunda metade, já pensando no conceito de 2016.
A renovação do meio do ano foi precipitada?
De jeito nenhum. A renovação já tinha sido conversada desde que eu entrei na Sauber. Acho que foi a melhor coisa pra mim. Assim, eu consigo dar continuidade ao trabalho. E o conceito de 2016 é muito melhor do que o deste ano. O carro de agora não teve tanto investimento porque a equipe não pontuou no ano passado. Acho que só aumenta a confiança em mim e na equipe. Todos estão motivados para melhorar o carro, trazer bons resultados, e acho que isso é o principal.
Na hora de renegociar, você avaliou se haveria mais investimento em 2016?
A perspectiva é boa. Ruim é quando você tá em uma situação que não vê melhorias para frente. Eu acho que a Sauber tem um potencial valioso. Já estamos focando mais no conceito de 2016 do carro e providenciando um simulador pra equipe no ano que vem. O objetivo para 2016 é estar nesta zona de pontuação mais frequentemente e pensar aí, quem sabe, até em um top-6, algo assim.
Em dezembro, você falou que a meta era pontuar, mas você começou com o melhor resultado de uma estreia.
Uma coisa que eu aprendi é que nada é impossível. Quando você tem essa vontade e as pessoas ao seu lado no momento certo, você consegue avançar etapas. E essa foi a minha primeira etapa. Foi um resultado excelente, uma estreia que nem eu esperava. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho os pés no chão, sabendo que é só o começo da caminhada. Na hora certa, acho que vamos poder dar muita alegria para os brasileiros.
Como foi na hora da corrida, quando você avançou ao quinto lugar?
Passa muita coisa na cabeça. Mas, a partir do momento que eu me vi em quinto lugar, já no meio da prova, com um carro Red Bull e uma Ferrari atrás de mim, eu falei: ‘É realmente possível’. Nunca deixei de acreditar nos resultados, na possibilidade de ter uma boa chance na F-1. Acho que aconteceu logo de cara. Mas tenho total consciência da equipe em que eu estou hoje, do meu equipamento, que não é para brigar por vitórias e pódios. Isso está bem claro.
Quais são as lembranças do autódromo de Brasília?
Eu lembro que o movimento aqui era muito grande. Ainda existia uma frequência altíssima de corridas. Até mesmo no kartódromo. Eu estava começando, com 7 anos, e o negócio foi dando certo. Fui praticando mais, me empenhando mais. Eu respirava esse meio aqui e não sabia que seria piloto um dia. Eu gostava, tinha a paixão, gostava da velocidade, de assistir às provas. Mas não sabia que o negócio se tornaria tão sério.
Quando você viu o autódromo comentou que estava ruim. Como você vê essa situação de Brasília?
É uma realidade ruim, esse autódromo foi referência para tanta gente. Até mesmo pra mim, que dei minhas primeiras voltas num carro fórmula aqui. A pista era de total referência para qualquer piloto de alto nível que quisesse alcançar alguma coisa grande no automobilismo. É um desperdício a gente vê-la nesse estado. Podíamos estar produzindo outros campeões, outros pilotos, outras categorias. Esse espaço devia estar sendo bem aproveitado pra gente dar continuidade à história do automobilismo brasiliense.
Você andou de kart nas férias?
Andei ontem (terça), no Guará. Até hoje, eu treino lá. Brasília poderia investir mais nessa área e dar condições de ter um padrão de altíssimo nível de kartódromo e autódromo. Basta dar um pouco mais de atenção a essas pistas. Eu vou sempre sozinho (ao kartódromo do Guará). Tenho a mesma equipe de quando comecei, a do Digos. Os mecânicos são os mesmos, o Raimundo e o Gil. Eles estão lá com o meu kart até hoje. São os caras que me ensinaram tudo. O kart é a base de toda a informação de um carro de corrida.
E como é voltar para o lugar onde tudo começou?
Aí vem a molecada. Os meninos querem tirar foto e, às vezes, a gente conversa mais do que anda de kart. Hoje, eu volto ao kartódromo como piloto de F-1 e tenho as pessoas do mesmo jeito que tinha no início do kart. Acho bacana ter essa amizade, e eles ficam superempolgados. Eles querem o mesmo que eu, me ver ganhar.
Como fica o assédio quando você passeia por lugares públicos da capital?
As pessoas, na maioria das vezes, reconhecem. Querem tirar foto, todos falam dessa corrida da Austrália (de estreia, em quinto lugar). Pra mim, é ótimo voltar à minha cidade e saber que a torcida aqui está acompanhando e me apoiando. Eu tenho sonhos grandes na F-1 e quero dar alegria pra muita gente.
E os fãs podem topar com você por aqui? Está saindo muito?
Às vezes, corro no Parque da Cidade ou na Península do Lago. Frequento a academia Unique, no Sudoeste, uma parceira de muito tempo. O professor Marco Paulo é o cara que tem todos os meus treinos e me acompanha. Sempre que venho, vou ao kart. Estou sempre aí.
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