LITERATURA
Clássico da literatura mundial, “Alice no país das maravilhas” faz 150 anos
O livro, que encantou crianças de todas as gerações, é celebrado em todo o mundo
— Que espécie de gente vive por aqui?
— Naquela direção, explicou o Gato, acenando com a pata direita, vive um Chapeleiro; e naquela direção, acenando com a outra pata, vive uma Lebre de Março. Visite qual deles quiser: os dois são loucos.
— Mas não quero me meter com gente louca!, falou Alice.
— Oh! É inevitável, disse o Gato. Somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca.
Conversas assim, cheias de charadas e afirmações absurdas, você só encontra no País das Maravilhas, lugar fantástico que apenas uma garota visitou até hoje, mas que é conhecido por crianças ao redor do mundo inteiro. A própria Alice não esperava viver todas essas aventuras que se transformaram em um dos maiores clássicos da literatura mundial, mas, a partir do momento em que caiu na toca do coelho, não teve escolha senão mergulhar com tudo em uma terra onde o impossível era bem… Possível. Saiba mais sobre essa jornada aqui.
Passaporte para um mundo novo
Há 150 anos, Charles Lutwidge Dogson, mais conhecido como Lewis Carroll, nome que ele escolheu para escrever histórias, havia terminado de colocar no papel a primeira versão da saga da menina. A obra chegava às livrarias por meio de um livro recheado de desenhos e ilustrações, porque, como a própria Alice disse no início da história: “Para quê serve um livro, sem ilustrações ou diálogos?” Essa foi a observação feita pela garota enquanto a irmã dela lia à beira de um rio, que acabou ficando com sono de tanto apertar os olhos para as letrinhas miúdas.
Mas a tarde de Alice, que até então estava muito chata, dá uma reviravolta quando um coelho branco vestido com roupas pomposas passa na sua frente. “Por minhas orelhas e meus bigodes, como está ficando tarde!”, o coelho disse e consultou um relógio de bolso, atrasado para um compromisso importante. Aquela foi a primeira vez que Alice viu um animal falar — mas não seria a última. O espanto da menina durou pouco, porque, no País das Maravilhas, cuja porta de entrada era a toca do coelho branco, todas as criaturas eram tagarelas.
E isso não era tudo: várias vezes durante a história, a menina precisa mudar de tamanho para atravessar portas minúsculas ou alcançar o topo de mesas gigantescas. Ao tomar o líquido de um frasco em que estava escrito “bebame”, ela encolhe; ao comer um pedaço de bolo, Alice cresce até ficar gigante. (E você que nunca acreditou quando sua mãe disse que a gente precisa comer para crescer!)
Nesse vai e vem desgovernado, a brincadeira do estica-encolhe segue adiante, porque ela nunca parece ter o tamanho certo — e olha só: Alice não está sozinha nessa.
— Às vezes, os adultos me dizem que sou pequena demais para fazer algumas coisas e grande demais pra fazer outras. É confuso!, diz Maria Cecília Marques Lopes, 11 anos, que acredita que todas as crianças são como a Alice, porque tamanho é um negócio relativo.
E depois, como Alice faz para voltar para casa de novo? Tem que ler (ou ver os filmes) para saber!
Toda história tem um começo
Lewis Carroll, o autor de As aventuras de Alice no País das Maravilhas, nasceu em 1832, na Inglaterra, e era professor de matemática. No entanto, ele não fazia muito sucesso entre os alunos, porque suas aulas eram consideradas monótonas (imagine se os alunos soubessem das loucuras que ele tinha imaginado para Alice!). Carroll era tímido, gago e surdo de um ouvido, mas, pelo menos, tinha uma facilidade impressionante para contar histórias.
A ideia que deu origem ao livro surgiu em uma viagem de barco pelo Rio Tâmisa, em 1862. Durante a jornada, Carroll encantou as três filhas de um amigo com uma porção de histórias, cuja protagonista era inspirada em uma delas, Alice Lidell, que tinha 10 anos na época. As meninas gostaram tanto das aventuras de Alice que pediram a Carroll que as colocassem no papel, para poderem ler umas para as outras.
Três anos mais tarde, em 1865, Alice no País das Maravilhas foi publicado, seguido pelas continuações Alice através do espelho e O que Alice encontrou por lá, em 1871. Alice não fez sucesso só entre a criançada, não. A Rainha Vitória, que governava a Grã-Bretanha na época, e o escritor Oscar Wilde eram fãs de carteirinha da história.
Eita carinha inteligente!
Além de Alice no País das Maravilhas, Carroll escreveu 11 livros sobre matemática. Ele tinha um pensamento muito rápido, e era conhecido por conseguir escrever 12 páginas em apenas duas horas e meia, o equivalente a 20 palavras por minuto. Lewis adorava se corresponder com os amigos e, em uma época em que a gente nem sonhava com e-mail, escrevia uma média de 2 mil cartas por ano. Mas, como as charadas do Gato de Cheshire, às vezes as cartas de Lewis podiam ser difíceis de decifrar: algumas delas eram escritas de trás pra frente!
Dos livros para a telona
— Tem muita gente na vida real que é meio Rainha de Copas e berra tanto que fica com um cabeção, brinca Mariana Alves Oliveira, de 9 anos.
Mariana é fã dos filmes da Alice, que tiveram 18 adaptações desde que o livro foi escrito, sendo que a primeira versão para a telona foi lançada há 112 anos, em 1903, apenas sete anos depois da invenção do cinematógrafo, uma espécie de primeira câmera do cinema.
Entre todos os personagens no País das Maravilhas, o favorito de Mariana é a própria Alice:
— Eu não gosto de coelhos, então acho que não seguiria o coelho branco até a toca dele, mas a Alice é muito corajosa por ter feito isso. Acho que a coisa mais legal que a história ensina é a acreditar no nosso coração, reflete Mari.
— É, o livro ensina que viver com medo de ganhar bronca não é bom, então, às vezes, tudo bem seguir nossos instintos e fazer algo inesperado, completa Maria Cecília, que concorda com Mariana que Alice é a personagem mais legal da história.
Manoela Bayer Ximenes, 8 anos, assistiu à adaptação de Alice de 1951, da Disney, que encantou crianças de muitas gerações, e a mais recente, de 2010, uma megaprodução dirigida por Tim Burton.
— Eu sou meio medrosa, então não seguiria o coelho branco até a toca. Imagina se eu não conseguisse voltar e ficasse lá para sempre?, indaga Manu.
Já para Renato Pinheiro, 10 anos, passar uma temporada no País das Maravilhas seria sensacional, porque ele adora os personagens da história, principalmente o Chapeleiro e o Gato de Cheshire:
— Quanto mais maluco, melhor! Acho que 40 dias seria o tempo ideal na toca do coelho. Mais que isso deve enjoar, que nem viajar de férias pra um lugar superlegal e ficar tempo demais. Dá saudade de casa, pondera.
Renato é fã de carteirinha da história de Lewis Carroll e leu quatro versões do livro. Para ele, a coisa mais importante que aprendeu no País das Maravilhas foi que é preciso lutar contra a tristeza, contra a maldade e confiar mais nas pessoas, principalmente nos amigos.
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