Entre abril e maio de 1993, algo aconteceu e as estações mudaram para Renato Russo. O abuso do álcool, da cocaína e da heroína levou o cantor e compositor a buscar auxílio em uma clínica de reabilitação no Rio de Janeiro. Durante 29 dias, o artista ficou internado na tentativa de se livrar das substâncias e encarar uma abstinência menos traumática. Entre as várias terapias recomendadas, Renato se debruçou sobre a escrita. Daquele período, surgiu o diário autobiográfico Só por hoje e para sempre, lançado oficialmente hoje, em São Paulo.
Sempre se soube da dificuldade do compositor com as drogas. A obra, no entanto, revela o grau de dependência de Renato e as adversidades para vencer a destruição emocional provocada pelos entorpecentes. Em certo trecho, o cantor escreve: “Quase o.d’d (contração em inglês para “morrer por overdose”) três vezes (uma vez no Rio, em casa, após uso intenso de cocaína e álcool e novamente sem me alimentar, só na base do iogurte — outra no Rio também, e dessa vez tive que pedir para chamarem um médico em casa — e a pior de todas em Brasília, onde estava com um parente meu e fui parar no hospital já quase morto eu acho, em pânico, com taquicardia etc.)”.
Além das drogas, que ocupam boa parte das 167 páginas do diário, Renato se abre ao falar das relações amorosas. De forma íntima e sincera, relembra ex-amantes e pessoas por quem se apaixonou ao longo da vida. Entre elas, o norte-americano Scott, grande paixão de Renato e que teria, supostamente, lhe transmitido o vírus HIV, e Dado Villa-Lobos, companheiro da Legião Urbana. “Dado é uma das pessoas mais admiráveis que já conheci. Um raro exemplo de beleza física aliada a sex appeal”, relata em determinado momento, e chega a assumir um “amor platônico” pelo guitarrista da banda.