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Brasileiro corta viagem a lazer, bar e cinema

Pesquisa mostra que gastos com lazer são a primeira vítima do cenário de alta inflação e baixo crescimento. Idas ao bar caíram 46%, e 45% já vão menos ao cinema e ao teatro

Fã de boa prosa regada a cerveja e petiscos, o estudante universitário Pedro Andrade, de 26 anos, reduziu suas idas aos bares contra sua vontade: reflexo de uma economia em recessão, em que os avanços dos preços, juro e desemprego apertaram o orçamento familiar. “Eu costumava tomar umas com os amigos quatro vezes na semana. Agora, diante da crise, no máximo duas.”
O estudante de administração faz parte de uma estatística que prejudica a economia de Belo Horizonte, rotulada de a capital dos bares. Levantamento da MeSeems, especializada em inteligência de mercado, revela que 46% dos brasileiros reduziram a frequência aos bares nos últimos dois anos.
Os passeios aos cinemas e teatros ficaram mais raros para 45% da população. E 49% diminuíram também as viagens a lazer. Os dados são nacionais e mostram o quanto as pessoas mudaram o hábito de consumo em razão da crise no país. “O brasileiro está escolhendo e priorizando o que levar para casa”, concluiu Ricardo Srulovici, analista de pesquisa da MeSeems.
No caso dos bares, porém, a queda atormenta principalmente os empresários da capital mineira, onde a importância do setor para a economia é reforçada numa antiga frase: “quem não tem mar vai ao bar”.
Embora não exista uma estatística oficial que revele o número exato desses estabelecimentos na cidade, um estudo da seção mineira da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG) informa que o grupo de alimentação fora do lar, setor que também reúne restaurantes e lanchonetes, conta com 18.613 empresas. Elas geram mais de 112 mil empregos diretos e movimentam em torno de R$ 4,5 bilhões anuais. Em Minas Gerais, esse universo é de 105.598 empresas, que empregam cerca de 630 mil empregos diretos e movimentam aproximadamente R$ 22 bilhões. Diante da crise econômica, com o governo já tendo admitido que o Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 deva fechar negativo, os números tendem a cair.
Se depender das amigas Isabella Souza, de 20, e Iara Scarpelli, de 21, a queda no ramo de bares será certa ao longo do ano. “Eu saía com amigos três fins de semana por mês. Agora, apenas um. Tudo ficou caro. A porção de batata frita, que há poucos meses custava R$ 16, está saindo por R$ 25 (alta de 56,5%)”, comparou Isabella. Iara reforça o coro: “Eu ia duas vezes aos bares por semana. Agora, vou apenas uma. Tudo ficou caro”.
A redução dos bate-papos regados a cerveja e petiscos nas mesas desses estabelecimentos também foi constatada no último levantamento da Abrasel, que mostra que o faturamento nacional no setor recuou 8,39% no confronto entre o primeiro trimestre de 2015 e o último de 2014. A queda real, explica Lucas Pêgo, diretor-executivo da Abrasel-MG, foi de 2,39%, descontada a sazonalidade. “Tem que se adaptar à realidade do público”, afirmou.
DÍVIDAS
A nova realidade do brasileiro pode ser detalhada em diversas estatísticas que tratam do comprometimento da renda, como uma divulgada no início da semana pela Fecomércio-MG. Nela, o endividamento do consumidor da capital mineira saltou de 58,6%, em maio, para 62% em junho, o maior do ano e o mais alto desde fevereiro de 2013 (74%).
Ontem, a consultoria Boa Vista, dona do maior acervo de dados de proteção ao crédito no Brasil, revelou que o volume total de dívidas protestadas em cartórios no país acusou crescimento de 25% no primeiro semestre desse exercício em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com a Boa Vista, mantida essa base de comparação, “tanto os protestos de empresas quanto os de consumidores seguem a mesma tendência, 20,9% e 30,7%, respectivamente”.
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