Em dezembro de 1997, chegava às prateleiras das principais operadoras norte-americanas e europeias o celular — quase nada smart — 6110, da finlandesa Nokia. Com ele, um joguinho incrivelmente popular desde os anos 1970, que, pela primeira vez estava ao alcance do bolso. Snake e suas variações (Blockade, Surround etc.), o famoso jogo da cobrinha, era monocromático, tinha apenas quatro comandos e uma capacidade quase infinita de viciar. Mais do que entretenimento de fila de banco, o minúsculo software, embutido num aparelho celular, representava o início de uma era em que parece inconcebível existir um telefone que apenas faça e receba ligações.
“As inovações trazidas por aparelhos lançados há duas décadas possibilitaram a criação de aplicativos mais interessantes, por causa dos recursos que traziam embarcados. Também ampliaram a base de usuários potenciais. Hoje, por exemplo, temos, no mundo, mais usuários de smartphones do que de computadores tradicionais”, avalia o professor de Inteligência Artificial do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) Paulo Rogério Foina.
Em uma manhã de 1994, o mercado americano acordou com o protótipo de um dispositivo que pode clamar a paternidade — nessa mesma fila, há versões suecas e japonesas — dos atuais smartphones: o Simon Personal Communicator, da IBM. Ele vendeu 50 mil unidades nos Estados Unidos, até fevereiro de 1995, quando deixou de ser fabricado. Tinha tela sensível ao toque e acesso rápido a e-mails, numa época em que a internet engatinhava. Custava de US$ 599 a US$ 1 mil.
Naquela época, os aplicativos eram um recheio ainda simplório de hardwares não muito mais avançados. Mais do que a velocidade de processamento e as inúmeras funcionalidades de hoje, a principal diferença estava na produção. A indústria entendia o software como propriedade de quem vendia o dispositivo, e não de terceiros. Assim, as primeiras aplicações desenvolvidas para celulares acessavam e-mails, aparelhos de fax, calendários, agendas e blocos de anotações, mas nada muito além disso, até porque a produção era restrita.
Independentes
Com lojas virtuais de aplicativos ao alcance de dois cliques nos dias de hoje, recuperar o mercado de uma década atrás ajuda a entender a evolução de todo o processo. O predecessor das atuais stores surgiu há 12 anos, mais de cinco antes da App Store, que acabou popularizando o mercado. Em 2003, foi ao ar a norte-americana Handango, uma das primeiras lojas com pequenos softwares para embrionários smartphones e PDAs (personal digital assistants). Fundada pelo texano Randy Eisenman, a Handango também contava com um programa, o Handango InHand, que tornou possível procurar e instalar apps, gratuitos ou pagos, games, temas e ringtones nos aparelhos, sem necessidade de conectá-los a computadores.