Foto: Rodrigo Clemente / Estado de Minas.
River Plate sobrou em campo. Poderia ter feito quatro ou cinco, mas marcou "apenas" três vezes no Mineirão
Nem no pior dos pesadelos ou no mais negativo pensamento, o torcedor do Cruzeiro poderia esperar um golpe tão duro como esse que recebeu na noite desta quarta-feira, no Mineirão. Já a “hinchada” do River Plate viverá nos próximos dias – ou semanas – uma sensação única, indescritível, inigualável, inimaginável. O Gigante da Pampulha foi palco de um feito histórico. De um dos maiores vexames da história da Raposa, que, depois vencer em Buenos Aires por 1 a 0, levou um verdadeiro baile diante de 55 mil torcedores. O River fez 3 a 0, mas pelo volume de jogo apresentado, poderia ter marcado quatro ou cinco vezes. Tal como os 7 a 1 da Alemanha contra o Brasil, na Copa do Mundo de 2014, houve um novo “Mineirazo”, desta vez nas quartas de final da Copa Libertadores.
Pode parecer ironia, mas foi justamente diante de seu grande freguês sul-americano que o Cruzeiro perdeu pelo placar mais elástico na história da Copa Libertadores. Até então, as maiores derrotas do clube celeste na competição sul-americana haviam sido contra São Paulo (2010) e Once Caldas (2011), ambas por 2 a 0. E, nessa altura do campeonato, fica em segundo plano o fato de o River ter vencido apenas o quarto duelo em 14 confrontos com a Raposa. Depois de fracassarem na Libertadores de 1976, na Supercopa de 1991 e na Recopa Sul-Americana de 1998, os argentinos enfim comemoram uma classificação diante da equipe azul e branca.
Com a eliminação do Cruzeiro, o Internacional é o único brasileiro que ainda disputa a Copa Libertadores. Vai enfrentar o Tigres-MEX na semifinal. O River Plate, por sua vez, aguarda o vencedor de Guaraní-PAR x Racing-ARG. No primeiro duelo, vitória dos paraguaios, por 1 a 0.
Abalado pela goleada, a Raposa reúne forças para a disputa de Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil. No domingo, às 18h30, o time comandado por Marcelo Oliveira enfrentará o Figueirense no Estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis, pela quarta rodada da Série A.
A festa antes do jogo foi bonita. Os quase 54 mil cruzeirenses presentes no Mineirão entoaram o nome de Marcelo Oliveira assim que foi respeitado um minuto de silêncio em memória de sua mãe, Luiza Oliveira. Ela faleceu nessa terça-feira aos 86 anos de idade em decorrência de câncer. Levando consigo um semblante de concentração, o treinador celeste acenou para a torcida e agradeceu. E logo aos 2min, quase viu sua equipe abrir o marcador no Gigante da Pampulha. Willian ganhou de Maidana na dividida e poderia ajeitar a bola com mais calma. Contudo, o atacante celeste decidiu chutar de qualquer jeito, sem muito capricho. Bateu com o pé esquerdo, por cima do gol.
Se Willian tivesse feito o gol, talvez a história da partida seria outra. Talvez não haveria pressão por parte do adversário. Talvez o próprio grupo celeste se mostraria mais tranquilo para ditar o ritmo da partida. Mas nem “talvez” e muito menos “se” existem no futebol. O River Plate passou a incomodar muito. Controlou a posse de bola, finalizou mais vezes, foi mais presente no campo de ataque. Depois de chegar três vezes com perigo, a equipe argentina abriu o placar, aos 19min. Num contra-ataque, Teo Gutiérrez tocou para a grande área e Sánchez finalizou rasteiro: 1 a 0. O Cruzeiro não deu nenhum sinal que reagiria no primeiro tempo. Pelo contrário: permaneceu acuado e sem criatividade. O River, que não tinha nada com isso, continuou em cima e conseguiu o segundo gol. Aos 44min, Maidana, de cabeça, escorou para as redes o escanteio cobrado por Ponzio: 2 a 0. Incrédulos, alguns torcedores deixaram o Mineirão no intervalo do confronto.
Ao Cruzeiro, só restava partir com tudo no segundo tempo para tentar o empate. Marcelo Oliveira chamou Gabriel Xavier, xodó da torcida, e tirou De Arrascaeta, mais uma vez apagado. Entretanto, os seis minutos iniciais transformaram em pesadelo o pequeno fio de esperança que ainda restava nos corações dos cruzeirenses. Teo Gutiérrez, que havia marcado no Mineirão pela Seleção Colombiana na Copa do Mundo de 2014, voltou a sorrir em Belo Horizonte. Em linda jogada individual, o camisa 19 driblou Bruno Rodrigo e bateu rasteiro no canto esquerdo de Fábio: 3 a 0.
O placar era dilatado demais para ser invertido em tão pouco tempo. O Cruzeiro esteve ameaçado até de levar o quarto gol, mas, por sorte, o River Plate errou as finalizações. Na frente, Leandro Damião e Alisson – este entrou no lugar de Willian – foram os mais perigosos, acertando uma bola na trave cada. Mas era pouco, muito pouco. No fim, o desespero de Gabriel Xavier ao tentar matar um contra-ataque argentino mostrou bem o que foi a tônica do jogo. Expulso aos 41min depois de falta cometida sobre Martínez, o camisa 18 teve o nome gritado pela torcida em sinal de apoio por ter evitado um vexame ainda maior.