Não é novidade que as mulheres são minoria em profissões ligadas à área de exatas — segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), há cerca de 115 mil engenheiras no país, o que equivale a 16,2% dos quadros da profissão; no DF, há 1.729 engenheiras, o que corresponde a 15,6% do total —, assim como nas salas de aula das faculdades — de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as mulheres são responsáveis por 5% das matrículas em engenharia e 3,7% dos registros em física, matemática e ciências da terra. Projetos de extensão da Universidade de Brasília (UnB) lutam para reverter esse quadro e plantam sementes entre alunas da educação básica. É o caso do Meninas na Computação. Desde 2009, a iniciativa leva atividades de programação em arduíno — placas de computador simplificadas que permitem a montagem de sistemas de eletrônica — ao Centro de Ensino Médio Paulo Freire. Em mais de cinco anos de projeto, os resultados são visíveis. “Tivemos meninas que participaram e resolveram fazer computação”, comemora a professora Aleteia Favacho, do Departamento de Ciência da Computação.
“As empresas estão perdendo com a falta de engenheiras, já que companhias com homens e mulheres provam ser mais rentáveis”, observa a professora Maristela Holanda. “Poucas mulheres entram no curso de engenharia da computação, dessas, 30% desistem ou reprovam e saem”, percebe a professora Maria Emília Walter. Para as jovens que nem cogitam fazer engenharia, Aleteia deixa um estímulo. “É um ramo em que se trabalha muito, e no qual o profissional precisa se atualizar o tempo inteiro. No entanto, quem entra não fica desempregado e recebe um bom salário.” Para a equidade de gênero, ainda há muito a avançar. “É uma área vista como muito masculina, há muita piadinha sem noção”, critica Maristela.
Na prática
No semestre em que ingressou na UnB, Ingrid Santana, 19 anos, era a única aluna da turma em engenharia da computação e passou por situações desagradáveis. “Em uma aula, disseram que eu deveria ir para a cozinha em vez de estar ali”, conta. No quarto semestre do curso, a jovem integra o projeto Meninas na Computação e mostra, com seu exemplo, que as mulheres podem e devem se impor em exatas. “Fiz um semestre de física, e só havia três meninas na minha turma. O importante é gostar da área, porque temos capacidade para ser melhores que os homens”, defende. Inspiradas por exemplos como o de Ingrid, que ministra oficinas, as alunas de ensino médio Azucena Batista, Luiza Beatriz Macedo, 17, Líbni Saraiva, Ana Carolina Azevedo, Danila Marinho, 16, e Kailany Rocha, 15, ainda não decidiram a carreira a seguir, mas estão com um pezinho na engenharia, já que começaram a ver a área com outros olhos. Azucena não poderia estar mais satisfeita. “Adoro quando consigo fazer o sistema funcionar. Dá trabalho, mas é lógico. É uma opção que passei a considerar para o vestibular”, empolga-se. “Eu nem gostava de computador, mas estou curtindo. É um conhecimento que posso levar para a vida”, observa Líbni.
Elas podem tudo
Chegando ao terceiro ano de existência, o projeto Meninas Velozes leva atividades sobre engenharia mecânica e automotiva às salas de aula do Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria. As práticas, aplicadas por cinco professoras e 10 alunas de graduação, giram em torno do conhecimento que permeia os carros de corrida e mostram a abordagem de física e de matemática do ensino médio contextualizada ao universo automotivo. “As participantes aprendem, na prática, conceitos como velocidade e aceleração”, explica uma das coordenadoras do projeto, a professora Dianne Magalhães Viana, do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB. No ano passado, 22 estudantes foram beneficiadas. “Elas percebem que é possível a mulher seguir essa carreira.”
Outra iniciativa que incentiva a aproximação de meninas da área de exatas é o projeto Electron. Uma equipe de 15 estudantes de graduação atende de três a quatro escolas por semestre, levando maletas didáticas de elétrica, que são verdadeiros laboratórios portáteis. Quando surgiu, há dois anos, a iniciativa não estava ligada a questões de gênero, mas, em 2014, a iniciativa assumiu um novo compromisso. O nome do projeto continuou o mesmo, mas, desde então, pelo menos 50% das vagas têm que ser ocupadas por mulheres, e o grupo promove reflexões sobre a questão. “A escolha da engenharia não é estimulada por família e amigos no caso das mulheres. Quebramos paradigmas e mostramos que todos podem cursar o que quiserem, independentemente do sexo”, explica o professor do Departamento de Engenharia Elétrica Rafael Amaral Shayani.