Fábio Porchat é um campeão de audiência. Ator, roteirista, apresentador e diretor, seu nome está diretamente ligado à nova safra do humor nacional. Seja com o coletivo Porta dos Fundos, do qual é um dos fundadores, seja com comédias rasteiras que levaram milhões aos cinemas (‘Vai que dá certo’, ‘Meu passado me condena’), seja ainda com séries de TV (‘Vai que cola’), Porchat sabe fazer rir.
Pois o longa-metragem ‘Entre abelhas’, que estreia hoje, não tem absolutamente nada a ver com a extensa (e intensa) produção recente de Porchat. Dono da ideia original do filme, como também seu protagonista e produtor, o comediante está longe de fazer o que se espera dele. É essa inversão de expectativas um dos méritos do filme, primeira incursão na direção de longas de Ian SBF, também nome oriundo do Porta dos Fundos.
Porchat é Bruno, um cara que está chegando aos 30 anos e tem que voltar para a casa da mãe (Irene Ravache) quando sua mulher (Giovanna Lancellotti) decide se separar dele. Com a vida pessoal e o trabalho indo de mal a pior, ele começa a perceber que as pessoas ao seu redor estão, aos poucos, desaparecendo. Mas somente ele não as enxerga. A partir daí, com a ajuda da mãe, começa a tentar viver da maneira que é possível.
O mote está longe de ser o de uma comédia. Com uma trama sui generis para os padrões comerciais, ‘Entre abelhas’ parece feito para mostrar que Porchat pode ir além dos personagens que desempenhou até hoje (todos num mesmo tom). Bruno não. O personagem entra num caminho, aparentemente, sem volta, quando as pessoas, próximas ou não, começam a sumir diante de seus olhos. Sempre sério, a um passo da depressão, ele é o oposto de seus personagens solares feitos até então.
Em contrapartida, o entorno do protagonista parece saído do Porta dos Fundos. Tem seu melhor amigo, Davi (Marcos Veras), estereótipo do machão sem caráter que só pensa na próxima conquista; Rebeca (Letícia Lima), a garota de programa que tem bom coração; Nildo (Luis Lobianco), entregador de
pizza que não tem onde cair morto e faz qualquer coisa para ganhar uns trocados a mais. Todos integrantes do coletivo de humor da internet, não fazem muito diferente do que já foi visto nos vídeos curtos.
É Irene Ravache, a estranha nesse filme de turma, quem consegue, no tom certo, fazer rir. Sem piadas prontas como os colegas de elenco, involuntariamente ela se sobressai como uma senhora comum, que faz de tudo – inclusive contratar um pobre coitado que recebe até um banho de tinta para ver se consegue ser visto – para ajudar o filho.
‘Entre abelhas’, a começar pelo título – cuja explicação só aparece no meio da narrativa – é um filme estranho. Vai pelo caminho mais “difícil” – não explora os cartões-postais do Rio de Janeiro; mostra pessoas comuns, tem até um tom esmaecido, entre o cinza e o azul; e apresenta um final abrupto, que deixa para o espectador a função de fechar a história. Mas basta ler nas entrelinhas para ver graça na estranheza.
Assista ao trailer de ‘Entre abelhas’: