COVID-19

Quem desenvolveu forma leve da doença pode estar imunizado

Pessoas que não desenvolvem sintomas graves da covid-19 produzem anticorpos nos primeiros 15 dias da infecção e até quase um mês após a cura, mostra estudo francês

Foto: Agustin Marcarian

Quem foi infectado pelo novo coronavírus e desenvolveu uma forma leve da covid-19 tem chance de estar protegido da doença, segundo cientistas franceses. Isso porque “uma grande maioria” desses pacientes desenvolve anticorpos que podem imunizá-los por pelo menos “várias semanas”, de acordo com estudo do Instituto Pasteur, na França, divulgado na plataforma on-line MedrXiv.

O trabalho foi realizado com 160 profissionais da saúde de Estrasburgo, no leste do país europeu, que apresentaram sintomas leves da covid-19. Os testes sorológicos, feitos para indicar sinais de infecção, mostraram que, com exceção de apenas uma pessoa, todo o resto do grupo produziu anticorpos em duas semanas.

Sabíamos que pessoas com formas graves da doença desenvolviam anticorpos nos primeiros 15 dias após o início dos sintomas. Agora, sabemos que isso também é verdade para formas leves, mesmo que os níveis dessas moléculas protetoras sejam mais baixos

ressalta, em comunicado, Arnaud Fontanet, um dos autores do estudo e chefe do Departamento de Saúde Global do Instituto Pasteur.

Outro teste feito com os mesmos pacientes mostrou que a presença das moléculas de defesa se mantém por um tempo significativo: 98% deles tinham desenvolvido anticorpos neutralizantes 41 dias depois de apresentarem os primeiros sinais da enfermidade e também 28 dias após curados. “Nosso estudo mostra que os níveis de anticorpos são, na maioria dos casos, compatíveis com uma proteção contra uma nova infecção por Sars-CoV-2  pelo menos até 40 dias após os primeiros sintomas”, afirma, também em comunicado, Olivier Schwartz, responsável da Unidade de Vírus e Imunidade do Instituto Pasteur, e também autor do estudo.

A longo prazo

Ainda não se sabe se infectados pelo novo coronavírus adquirem uma proteção natural à doença, o que faria com que eles não fossem novamente acometidos pela covid-19. Tentando buscar respostas nesse sentido, os pesquisadores franceses darão prosseguimento ao estudo. Os planos são focar na duração da proteção observada nos primeiros experimentos. “O objetivo, agora, é avaliar a persistência da resposta dos anticorpos a longo prazo e sua capacidade de neutralizar o vírus”, conta Olivier  Schwartz.

Mesmo sem repostas nesse sentido, a equipe defende a realização de testes sorológicos em pacientes que tiveram versões leve da covid-19 e se recuperaram. “Eles podem contribuir para esse acompanhamento, ajudando a desvendar o tempo de persistência desses anticorpos protetores no organismo”, justificam os autores do artigo.

Marli Sartori, infectologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro titular da Sociedade Brasileira de Infectologia, acredita que os dados são bastante positivos, mas há  necessidade de análises futuras. “É algo que temos visto em outras pesquisas e já desconfiávamos. Algumas infecções, depois de curadas, podem gerar anticorpos protetores. É possível que isso se repita com a covid-19. Mesmo com os dados animadores, é necessário esperar, porque, só com o tempo, poderemos dizer se essa proteção durará um período longo, como um ano, por exemplo”, explica.

Monitoramento

A infectologista também acredita que pesquisas feitas com membros da equipe médica, como o estudo francês, têm  grandes vantagens. “É uma boa estratégia acompanhar esses pacientes, pois eles estão em um ambiente que facilita a realização do monitoramento e têm contato direto com o vírus. Isso quer dizer que temos ainda mais provas de que eles estão realmente protegidos de uma segunda infecção”, justifica.

Segundo a médica brasileira, uma imunidade provocada após a cura da infecção é algo animador também para pesquisas dedicadas ao desenvolvimento de vacinas. “Se esses anticorpos vistos nesses pacientes são realmente duradouros, poderemos ter um material extremamente positivo como base para fórmulas de imunização. A possibilidade das vacinas gerarem uma resposta mais eficaz aumenta bastante, que é o que mais buscamos no momento”, detalha Marli Sartori.

  • Melhores resultados com remdesivir

    Um estudo publicado, ontem, no The New England Journal of Medicine mostrou que o uso do medicamento remdesivir foi superior ao tratamento padrão da covid-19. A análise foi feita com base em dados do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), nos Estados Unidos, referentes a 1.063 pessoas. O relatório mostrou que os pacientes que receberam remdesivir, criada originalmente para combater o ebola, tiveram um tempo menor de recuperação do que aqueles que receberam placebo. Foi considerado recuperação receber alta hospitalar ou ficar medicamente estável para passar a receber assistência médica menos complexa. O tempo médio de recuperação foi de 11 dias para os pacientes tratados com remdesivir, contra 15 dias para os que receberam placebo
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