NOME "SUJO"

4 entre 10 jovens estão endividados

Para ajudar os jovens a controlar e equilibrar as finanças, especialistas dão algumas dicas

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Orçamento apertado, dívidas acumuladas, nome sujo na praça. Esse é o atual retrato da situação financeira de muitos jovens brasileiros, segundo revela pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo birô de crédito SPC Brasil. As instituições mapearam a situação financeira dos brasileiros entre 18 e 24 anos, que dão os primeiros passos profissionais. Atualmente, 4 entre 10 jovens estão ou já estiveram com o nome sujo. O principal motivo é a necessidade de contribuir com as despesas domésticas, associado ao descontrole com as finanças pessoais.

Dos entrevistados, 78% possuem alguma fonte de renda, sendo que 65% afirmam contribuir financeiramente para o sustento da casa. O principal comprometimento é com a alimentação (51%). A pesquisa ouviu 801 jovens, entre homens e mulheres de todo o Brasil, entre fevereiro e março deste ano.

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Consumismo

“Quando começam a trabalhar, muitos jovens ainda estão pouco amadurecidos para a gestão das próprias finanças. É comum alguns acreditarem que podem gastar com o que quiserem, em especial, com compras que satisfaçam desejos antes não realizados pela falta de condições. Sem controle desse impulso, muitos jovens se veem em situações complicadas”, enfatiza a psicóloga Celiane Chagas.

Celiane Chagas, psicóloga.

Sem controle desse impulso, muitos jovens se veem em situações complicadas”

A especialista aproveita para lembrar que educação financeira não deve ser uma preocupação apenas no início da vida adulta, mas algo que as famílias devem trabalhar desde o início da idade escolar, respeitando cada etapa da vida da criança. “É sempre interessante demonstrar aos pequeninos que dinheiro não surge como passe de mágica; ele é resultado de um esforço laboral, do trabalho dos pais, usado para manter a família e proporcionar momentos de lazer. Se a criança sempre conseguir tudo o que deseja (ex: pede brinquedo e ganha), ela vai demorar muito mais a entender como funciona a gestão financeira em um lar, e até pode se tornar uma pessoa muito consumista e materialista. Todo cuidado começa na base mesmo”, orienta Celiane Chagas.

Mudança já

Agora, o que fazer já nas fases juvenil e adulta para lidar com essas finanças e ajustar esse comportamento? O administrador e especialista em economia, Jarbas Campelo, recomenda aos jovens bastante atenção aos próprios impulsos. “Atualmente, somos maciçamente estimulados e direcionados ao consumo por campanhas de marketing cada vez mais sedutoras, e em todos os meios de comunicação. Se antes o desejo de consumo era despertado somente pela propaganda na TV, que estimulava as pessoas a saírem de casa para ir às compras, agora a possibilidade de comprar em um clique está na palma da mão, em sites, aplicativos e redes sociais. Frente aos desejos de consumo e prazer aguçados e à falta de estrutura e maturidade acerca da gestão financeira pessoal, o desequilíbrio das finanças é fatalmente imperativo”, pontua o professor Jarbas.

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Para ajudar os jovens a controlar esses desejos e (re)equilibrar as finanças, aqui vão algumas dicas importantes do especialista:

Construção de um Planejamento Financeiro rigoroso e constantemente avaliado e controlado. Os desejos e necessidades mudam, nossos rendimentos também; logo, precisamos adaptar nosso planejamento sempre.
Gestão do uso dos cartões de crédito e débito. Além de gerarem tarifas como as anuidades, oportunizam com eficiência a satisfação de desejos de consumo imediatos, muitos desnecessários e que, quando não quitados, são submetidos a juros que elevam o montante da dívida exponencialmente.

Cautela na utilização do limite do “cheque especial”. Esse limite, muito utilizado pelos jovens, não é nada além de um empréstimo com juros estratosféricos.

Gastar além do que produz em um período. Não se deve apenas gastar menos do que se ganha. O ideal é pensar a longo prazo e tentar alocar parte dos ganhos na aquisição de ativos para investimentos.

O conhecimento e o gerenciamento dos itens acima podem não apenas minimizar potenciais “deslizes” financeiros como também podem transformar esses negativados (inadimplentes) em investidores, segundo Jarbas. Para o professor, é necessária a edificação do planejamento financeiro, saber de forma objetiva os gastos e investimentos. “O que você pretende conquistar, adquirir a curtíssimo, curto, médio e longo prazos? Lembro que há produtos financeiros específicos para cada objetivo, envolvendo variáveis importantes, como liquidez (capacidade de resgaste imediato do dinheiro investido ou não), risco e retorno do valor aplicado (em geral, medido através de taxas percentuais lastreadas na nossa taxa de juros mãe, a Selic)”, orienta.

Emergência e poupança

Quando está empregada, a pessoa tende a se sentir mais segura e, assim, não considera a possibilidade de desemprego e necessidade financeira. Por isso, o professor destaca a importância de uma reserva de emergência, o que pode ajudar em situação de desemprego, por exemplo. “A poupança de recursos que possa assegurar a saúde financeira em momentos de desequilíbrio, em geral, é o equivalente ao total de 6 meses de renda mensal. Isso proporciona fôlego em casos críticos, como surgimento de gastos inesperados e súbitos ou desemprego”, exemplifica Jarbas.

O ideal seria que os jovens pudessem poupar seus rendimentos para investir e aplicar o restante em conhecimento, mas essa, infelizmente não é realidade econômica da grande maioria da população. “Excetuando isso, vejo o fator ‘participação nos gastos domésticos’ como positivo. Os jovens podem, com isso, amplificar sua maturidade por meio da experiência com a gestão de despesas domésticas”.

Para Jarbas, os jovens precisam estar atentos a mecanismos de controle de gastos como uma simples planilha em Microsoft Excel, contendo pontos financeiros importantes, tais como: rendas, gastos fixos e variáveis e investimentos. Assim como a psicóloga Celiane Chagas, o especialista da Estácio São Luís também defende a educação financeira mais presente na vida dos brasileiros, desde a educação básica até nas especializações. “A educação financeira deveria ser item obrigatório nos conteúdos ministrados desde a educação elementar aos programas de mestrado e doutorado. Estamos em uma fase de mudanças na conjuntura socioeconômica nacional, direitos em transformação e cenários financeiros assegurados em liquefação. A educação financeira representa algo que vai além da manutenção de uma saúde financeira íntegra, possibilitando aplicação com ganhos expressivos e construção de renda passiva, sendo, portanto, ferramenta para a liberdade do indivíduo”.

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