MEIO AMBIENTE
Temperaturas da capital estão até quatro graus mais elevadas
A revelação foi feita pelo coordenador do Mestrado em Meio Ambiente da Universidade Ceuma, doutor Fabrício Brito
Graduado em Agronomia, com atuação no monitoramento ambiental a partir de dados de satélite, mestre em desertificação e doutor em sensoriamento remoto pelo Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o professor Fabrício Brito Silva publicou neste ano, na Revista Brasileira de Meteorologia, um estudo sobre as mudanças climáticas no Maranhão.
O estudo foi realizado em parceria com alunos do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Ceuma (Uniceuma). Os dados, contudo, são alarmantes. Principalmente a informação sobre a elevação de temperatura. Na Ilha que abriga a capital São Luís e mais as cidades de São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar, as temperaturas médias estão de 3 a 4 graus mais elevadas.
A pesquisa foi realizada com recursos do Laboratório de Geotecnologia da Uniceuma, que permitem o monitoramento ambiental via satélite de todo o Estado e em todas as suas dimensões: atmosfera, solo, água e vegetação. O avanço da produção de conhecimento na área Ambiental pelos grupos de pesquisa da universidade culminou no lançamento, no início
deste mês julho, de edital com 20 vagas para o Mestrado em Meio Ambiente, cujo coordenador é justamente o professor doutor Fabrício Brito Silva.
A equipe de O Imparcial esteve no Laboratório de Geotecnologia do Uniceuma e conversou com o professor Silva. Ele falou sobre Mestrado em Meio Ambiente, que é aberto para graduados de qualquer área profi ssional, e também sobre a problemática ambiental no Estado.
O que levou a Universidade Ceuma a abrir o Mestrado em Meio Ambiente?
Desde que o Ceuma se tornou Universidade, a instituição tem investido muito em pesquisa, o que tem se consolidado ao longo dos últimos anos. Nós começamos a consolidação desse grupo há uns três anos. Vínhamos trabalhando em equipe até o momento em que se percebeu que o mestrado era o próximo passo. Nós temos aqui uma graduação em Engenharia Ambiental, uma especialização em Engenharia Ambiental; e temos agora o Mestrado em Meio Ambiente. Então o próximo passo agora certamente será o doutorado.
Como será o mestrado?
O mestrado tem duas linhas de pesquisa: Planejamento e Qualidade Ambiental e Saúde e Meio Ambiente. Então esses grupos de pesquisa foram se consolidando dentro da instituição. O que acontece? O que a gente enxerga como tendência no mercado é a versatilidade do profissional. Nós saímos daquela fase de especificidade. Hoje, com a escassez de recursos, o mercado exige aquele profissional mais versátil. Então o Mestrado em Meio Ambiente é multidisciplinar. Ele agrega profissionais de todas as áreas. A sustentabilidade se tornou um tema multidisciplinar.
Quem pode participar? Qual é o público alvo?
O mestrado em Meio Ambiente vem para aquele profissional que quer ter conhecimento na área ambiental, mas que atua nas mais diversas áreas. E esse conhecimento, sem dúvida nenhuma, faz com que o profissional transite nesse ambiente da sustentabilidade de uma forma muito mais fácil.
O senhor pode explicar melhor as linhas de pesquisa, começando com planejamento e qualidade ambiental?
Quando a gente planejou o Mestrado em Meio Ambiente, pela formação do corpo docente, nós procuramos linhas nas quais pudéssemos ter uma visão holística, uma visão completa. Então pela concepção do mestrado, nós partimos do que a gente chama de indicadores de qualidade ambiental.
O ambiente é muito complexo. É formado por clima, solo, vegetação, água; tem a ação antrópica; o homem faz parte do Meio Ambiente; ele interage e sofre as consequências dessa interação. E os próprios benefícios para a saúde humana estão muito vinculados ao meio ambiente: mudanças climáticas… Menos chuva, mais seca… Mais alergias e doenças respiratórias, dengue, zika, etc. Então o que acontece, o Meio Ambiente, ele pode ser visto por indicadores de qualidade ambiental. A água… Ela tem indicadores de qualidade: o pHda água, teores de nutrientes, nitrato, nitrito… Tudo isso são indicadores de qualidade.
Então o profissional que vai trabalhar com Planejamento e Qualidade ambiental, ele vai justamente olhar para esses indicadores de qualidade ambiental; ganhar e produzir conhecimentos que façam com que ele desenvolva a habilidade de gestão do ambiente por meio dos indicadores de qualidade ambiental. Então, se a água tá fora dos parâmetros de qualidade, o que precisa ser feito? Que tecnologia pode ser desenvolvida? Qual a metodologia mais adequada? Parte-se dos indicadores de qualidade ambiental. Essa linha gera subsídios para isso.
E a outra linha?
A outra linha, que é Saúde e Meio Ambiente, se vale dos indicadores de qualidade ambiental. A preocupação da Saúde e Meio Ambiente é, sobretudo, com a qualidade de vida do homem. E, partindo das doenças, da Epidemiologia… O grande exemplo que a gente tem hoje são as arboviroses – a zika, a dengue e chikungunya, transmitidas pelo vetor Aedes aegypti, que na verdade teve essa proliferação mais por conta do desmatamento. Com isso os inimigos biológicos naturais, os predadores do mosquito, foram eliminados.
Têm as doenças respiratórias causadas pelas queimadas: fumaça, partículas de cinzas, monóxido de carbono se disseminam na atmosfera e nós sofremos as consequências através das doenças respiratórias. No Oeste do Maranhão, por exemplo, região que faz parte do arco de desmatamento da Amazônia, no período seco você tem um incidência muito grande queimadas, consequentemente, a incidência de doenças respiratórias nessa região é muito maior.
Enfim, nós temos doenças ligadas à ausência de saneamento básico. Infelizmente no Maranhão, mais de 90% dos municípios não possuem tratamento de água adequado. Então o esgoto corre a céu aberto. Essa linha se vale desses indicadores, só que com o foco na saúde humana; fazer a gestão desses indicadores com foco na saúde humana.
Sobre o laboratório de Geotecnologia? O que é produzido lá?
Nós fazemos trabalhos de toda ordem. Nós laçamos uma pesquisa recentemente, que foi publicada na Revista Brasileira de Meteorologia, sobre mudanças climáticas no Maranhão. O nosso estado fica na transição entre o bioma amazônico e o cerrado, nós agregamos vários tipos de ecossistemas, uma riqueza muito grande, com planícies inundáveis, na Baixada Maranhense; serras, na Chapada das Mesas; semiárido, restinga, dunas! Então o que acontece? Nós percebemos que todos esses ecossistemas estão sendo impactados pelas mudanças climáticas. Nosso trabalho foi pioneiro no estado por isso. Nós temos a informação de quanto a temperatura está variando em qualquer parte do Estado. E é alarmante! Por exemplo, na Ilha, as temperaturas mínimas estão aumentando de 3 a 4 graus, em média! Nossas máximas também!
Neste laboratório a gente consegue fazer o monitoramento ambiental do Estado, em todas as suas dimensões: atmosfera, vegetação, solo, água e também a dimensão humana, com dados socioeconômicos e mapeamentos para saber onde os fenômenos ambientais ocorrem de maneira mais concentrada. Agora a gente vai instalar uma antena para conexão direta com satélite, o que vai diminuir o nosso tempo de aquisição de imagens e dados de 30 para 15 minutos! A gente já consegue, por exemplo, fazer previsão do tempo aqui.
Nós estamos registrando as temperaturas mais altas de toda a história. Com a construção de prédio na orla, diminuiu a circulação de vento no interior da Ilha. Só que, nós vivemos os últimos quatro anos com o clima sob o regime do El Niño, que geralmente é associado à seca. Agora nós vamos viver o inverso disso, com o La Niña, associado ao aumento de chuva no Norte e Nordeste do país. Então nós viver alagamentos!
O que mais vocês observaram? O que é mais preocupante em relação às condições ambientais do estado?
É difícil dizer. Amarante, por exemplo, é um dos municípios com maiores índices de desmatamento do país. Na época da seca nós temos queimadas em várias cidades do estado. Nós somos um estado sem florestas. Nosso remanescente de floresta é a floresta do Gurupi, mas é difícil você encontrar uma floresta primária no resto do estado, porque o desmatamento em relação a pasto e a soja foi brutal. A Ilha! Arrisco a dizer que nos não temos um rio com água em condições adequadas para o consumo humano. E tudo isso tem reflexo no clima! Então é muito difícil a gente dizer qual é o problema ambiental que nós não temos! Nós temos um projeto na área do Rio Mearim e verificamos que o curso do rio está mudando, por exemplo! Talvez a Educação Ambiental seja o maior desafio nosso!
O mestrado vai ajudar nesse sentido?
Esse mestrado surgiu de uma maturidade de que nós, hoje, aqui no Uniceuma, estamos produzindo resultados compatíveis com o conhecimento produzido em diversas universidades pelo mundo. É para aquele profissional que quer dar mais robustez ao seu currículo, que quer se especializar na área de sustentabilidade. É para profissionais que querem esse conhecimento para utilizar em sua área de origem.
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