EDITORIAL

O imposto dos pobres

Só porque já era previsto que a inflação de 2015 ficaria acima de 10%, rompendo a barreira dos dois dígitos, o brasileiro, especialmente o mais pobre, está dispensado da indignação. A inflação sob controle é mais do que uma necessidade. É uma conquista da sociedade brasileira. A inflação é medida de valor e de credibilidade […]

Só porque já era previsto que a inflação de 2015 ficaria acima de 10%, rompendo a barreira dos dois dígitos, o brasileiro, especialmente o mais pobre, está dispensado da indignação. A inflação sob controle é mais do que uma necessidade. É uma conquista da sociedade brasileira.
A inflação é medida de valor e de credibilidade da moeda de um país. Ela também reflete a seriedade e a capacidade técnica do governo de zelar pelo poder de compra da moeda e, portanto, dos salários de quem ganha a vida honestamente. A menos que o país esteja enfrentando uma guerra ou uma imensa catástrofe, o descontrole inflacionário é doença que resulta do descaso e da inépcia.
É por isso que a inflação oficial de 2015, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor — Amplo (IPCA), divulgada na sexta-feira pelo IBGE, de 10,67%, é simplesmente inaceitável. Menos ainda por ter vindo sobre pelo menos três índices igualmente ruins: 6,46% em 2014, 5,84% em 2013, e 5,77% em 2012.
Todos eles desmentem categoricamente as juras da presidente Dilma Rousseff de que jamais se afastaria do combate à inflação. Mas o IPCA de 2015, primeiro ano de seu segundo mandato, foi além: comprova que a presidente não teve até hoje qualquer compromisso com as metas de inflação e, portanto, com o poder de compra dos trabalhadores que ela e seu partido prometem defender.
E não há como culpar São Pedro nem fatores externos. Os números oficiais falam por si: foram os preços administrados pelo governo que mais pesaram no custo de vida. Energia e combustíveis foram vilões implacáveis da inflação do ano passado. As trapalhadas do governo no setor elétrico — que ainda não foram de todo absorvidas pela sociedade — pesaram bem mais do que a falta de chuva e obrigaram o consumidor a pagar conta 51%, em média, maior do que a de 2014.
Todos lembram que não foi apenas a corrupção que derrubou a Petrobras. À má gestão da maior empresa brasileira se somou a absurda e demagógica política de contenção dos preços dos derivados de petróleo nos últimos seis anos. A estatal foi obrigada a vender barato o óleo e a gasolina que importava caro. Passada a eleição de 2014, os preços tiveram de ser reajustados, com grande impacto sobre a inflação. Afinal, eletricidade e combustíveis movem a maioria das cadeias produtivas, inclusive a de alimentos.
Esta, por sua, vez, não deixou de comparecer, passando de 8,03% em 2014, para 12,03% em 2015. Não foi o grupo de preços que mais subiu, mas é, proporcionalmente, o que mais pesa no custo de vida. Por isso mesmo, é fundamental manter a inflação geral baixa, para que as oscilações desse e de outros grupos menos controláveis causem menos estragos no bolso do consumidor. A inflação é o pior dos impostos para as famílias de baixa renda, elas não têm como escapar de seus efeitos danosos.
Em café que tomou com os jornalistas na quinta-feira, Dilma reafirmou os compromissos com o combate à inflação e com o ajuste fiscal, até agora não cumpridos. Ela também repetiu que seu maior erro foi demorar a perceber a crise, em 2014. A pergunta inevitável é: e quanto às de 2015 e 2016, vai demorar também?
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