ESTATÍSTICA
País fecha o ano com 59 milhões de pessoas inadimplentes
Em época de crise é preciso ficar alerta para escapar do endividame
Até agosto passado, conforme dados da Serasa Experian, 57,2 milhões de pessoas tinham faturas com atraso superior a 90 dias. O dado parou de ser computado pela entidade devido a mudanças na legislação do Estado de São Paulo, que obriga o envio de carta registrada ao consumidor antes que ele tenha o nome incluído no cadastro de inadimplentes. No entanto, prognóstico feito pela Associação Nacional dos Birôs de Crédito (ANBC) indica que a inadimplência continua em alta, impulsionada pelo desemprego, que subiu para 8,9% no terceiro trimestre e só deve começar a cair em 2017. Pelas estimativas do consultor Roberto Luis Troster, o número de calotes chega a 59 milhões atualmente.
O biólogo José Washington Aguiar faz parte dessa triste estatística. Ele conta que nunca enfrentou problemas tão difíceis. “Estou com muitas pendências, meu nome está sujo devido ao uso de cartão de crédito e de empréstimos”, explica. A dívida dele ronda R$ 5 mil e os pagamentos já chegam a comprometer 80% do salário. “Acabou o lazer para mim. Antes, eu frequentava bares e restaurantes, mas, hoje, opto por lugares em que não preciso gastar dinheiro, como parques, por exemplo.”
A família do microempresário Roberto Leite, 36 anos, é outra vítima dos juros exorbitantes do cartão de crédito. “Por conta disso, tivemos que conter despesas até com comida”, lamenta. Antes das dificuldades financeiras, a família gastava R$ 1.200 com alimentação. Hoje, o valor se limita a R$ 700. “No ano que vem, vamos nos organizar melhor. Quitar as dívidas virou a nossa prioridade”, disse.
Michele Vieira, 24 anos, atendente em uma loja de doces, ultrapassou o limite do cartão de crédito quando viajou. “A pendência já foi quitada, mas me descontrolei de novo e acabei fazendo uma nova dívida, em setembro”, explica. Michele mora com o marido e o filho de 8 meses. A renda da família é de R$ 1.300, e a dívida ultrapassa R$ 3 mil. “Tivemos que diminuir as compras do mês e os gastos com o bebê. O lazer não faz mais parte da nossa vida, pelo menos por enquanto”, conta. Ela pretende parcelar a dívida em 10 vezes, mas diz que vai continuar usando o cartão. “O salário não sustenta todos os gastos. Fica difícil pagar tudo no débito”, argumenta.
A comerciária Zuraide Teixeira, 54, perdeu o emprego há dois anos. Acabou contraindo uma dívida que hoje, com os juros, chega a R$ 20 mil. O banco ofereceu a ela quitar o débito por R$ 4 mil. “Mas nem isso eu tenho, então, não consegui me livrar. Agora, só se eu ganhar na Mega-Sena”, diz. O salário de Zuraide não passa de R$ 2 mil e, só o aluguel é de R$ 850. “Eu ainda gasto R$ 250 com remédios todo mês. Não consigo ver solução para a dívida, já que meu salário é só para pagar conta e comer”, lamenta. “Minhas duas filhas ajudam no que podem”, conta. (Colaborou Rosana Hessel)
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