SÃO LUÍS 403 ANOS

O progresso do comércio ludovicense

O teólogo e empresário do ramo imobiliário, Douglas Pinho, relembra a trajetória do comércio varejista de São Luís

O rico comércio de São Luís
“O comércio era a troca. Não se lidava muito com dinheiro naquela época. Esse tipo de comércio perdura até hoje, mais fortemente nos interiores, de maneira moderada, devido ao progresso e avanços tecnológicos”. Quem relata é o historiador, teólogo e empresário do ramo imobiliário Douglas Pinho. Nascido no município maranhense de Vargem Grande, veio para São Luís em outubro de 1955, aos 13 anos, com a família.
Foto: Karlos Geromy/OIMP/D.A Press.


Karlos Geromy/OIMP/D.A Press

Centro Histórico de São Luís-MA. Rua Portugal

O pai, comerciante de miudezas, lhe pôs nos primeiros passos dos negócios. Relembrando a evolução deste setor ao longo dos anos, partindo da década de 50, ele avalia que as mudanças culminaram em mais individualidade, mecanicismo do cotidiano e depreciação das relações humanas. O empresário afirma, contudo, que não se deixou contaminar por esta faceta das transformações. “Eu continuo valorizando a família, mantendo as amizades e prezando o bem viver”.
Douglas relembra que o coração do comércio na capital era o bairro da Praia Grande com sua efervescente atividade atacadista de gêneros diversos – alimentos a produtos de uso pessoal, vestuário e higiene. A Rua Grande também tinha sua importância comercial, porém, em menor monta, no segmento varejista, e despontando como espaço de moradia. Hoje, diferentemente, os papéis parecem ter-se invertido. A Praia Grande conserva poucos estabelecimentos e lá se instalaram atividades de bens, serviços e turismo; já a Rua Grande tem se esvaziado como área de habitação e virou referência do comércio varejista.
Foto: Gilson Teixeira/OIMP/D.A Press.


Gilson Teixeira/OIMP/D.A Press

Centro Histórico de São Luís

Contrapondo com este cenário, os shoppings vêm tomando espaço e oferecendo ao cliente uma nova opção, mais confortável e segura de consumir. “Diminuíram as práticas com o progresso. Comportamentos de outrora, que são importantes, como a amizade e a proximidade com o outro, o sentimento de cooperação e solidariedade se mantêm com dificuldade”, analisa.
Família de comerciantes
O rico comércio de São Luís

A história do pai esbarra na falência dos negócios da família, e, após, em sua morte prematura aos 55 anos de idade. Mas o jovem Douglas, então com 28 anos, militou em outro segmento comercial, o imobiliário. Durante décadas trabalhou na Mercearia Neves, Construtora Recife e Lojas Americanas – esta considerada por ele uma escola do varejo. Entre os empresários destacados, estão Edésio Menezes de Barros, dono da sapataria Desfile Calçados, que há mais de três décadas funciona na Rua de Santana.

Douglas relata “a experiência e longevidade do empresário no ramo do comércio”. A loja de tecidos, Rio Anil, do falecido Paulo Abreu, era ponto disputado, em um período em que as roupas eram fabricadas por alfaiates. A Casa Paris, loja de presentes e variedades, que funcionava na Rua Grande e após passou à Rua da Cruz, era outra referência do comércio varejista, pertencente ao empresário Nicolau, hoje com cerca de 90 anos de idade.
Apesar dessa efervescência, o comércio funcionava de maneira artesanal. “Na mercearia que trabalhei, o vendedor atendia o cliente em tudo que ele queria. Hoje, com os supermercados, esse cenário se modificou totalmente”, compara. São Luís tinha aproximadamente 130 mil habitantes, pouco mais de 100 veículos e o comércio da Praia Grande e Rua Grande como espinha dorsal do setor. Douglas Pinho cita a descentralização dos negócios, onde os bairros são independentes comercialmente e as pessoas conseguem atender suas necessidades de consumo na área onde moram. Ele cita os bairros Cohatrac, Cohab, Anjo da Guarda, Cidade Operária, Renascença como bairros autônomos no comércio.
Em 1972, com 30 anos, Douglas deixou o comércio varejista e enveredou na venda de imóveis na Imobiliária Roma, referência à época, pertencente ao empresário Romão de Albuquerque, já falecido. Eram apenas três empreendimentos deste ramo e a modalidade venda em lotes iniciava. Apenas três anos depois, Douglas montou a própria empresa, a Setran Imobiliária, que completa 41 anos. Ele pontua que não ficou rico e administra com bastante dificuldade, mas se apoia no legado do pai. Naquela época, diz, os pais deixavam para os filhos a herança do caráter e honradez. “O que hoje pouco se vê. O progresso trouxe consigo a falência das virtudes humanas”, diz. Douglas reitera que o comércio cresceu e os avanços, mesmo os negativos, não podem ser ignorados, citando a abrangência da internet. “Hoje, temos o mundo nas mãos – do comércio aos serviços – com a internet. Isso não pode ser ignorado”.
O rico comércio de São Luís
Século XVII: princípio das atividades econômicas
O início da atividade comercial no Maranhão se deu na primeira metade do século XVII, com o cultivo da cana-de-açúcar. Durante todo o período colonial e Império, sobressaiu-se o cultivo do algodão, que serviu de base para a indústria têxtil e, já no século XX, a atividade extrativista – com destaque para o cultivo do babaçu – e industrial. Nesse contexto, destacam-se no século atual os micro, pequenos e médios negócios, que são marcados pela interiorização, aumento do emprego e renda e substituição às importações. São diversos ramos, entre estes, desponta a construção civil, seguida da fabricação de produtos alimentícios e bebidas, produtos minerais não metálicos, vestuário, acessórios, móveis e máquinas.
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