lson Mateus Rodrigues, de 52 anos, já fez de tudo um pouco. De garimpeiro na Serra Pelada, no Pará, a vendedor de pinga em uma mercearia de cinco metros quadrados, no município de Balsas. Atualmente, é um dos mais promissores empresários do estado do Maranhão. Proprietário do Grupo Mateus, Ilson Mateus tem hoje 57 empreendimentos espalhados em três estados do Brasil (Maranhão, Pará e Tocantins). Sua empresa está entre as maiores redes regionais do país, com segmentos no varejo, no atacarejo, em eletroeletrônicos, em móveis, na indústria de pães, na distribuição de produtos farmacêuticos e no atacado.
Indiferente à crise financeira brasileira, que tem levado muitas empresas a fecharem as portas, o Grupo Mateus mantém seu projeto de expansão imune aos acontecimentos. E dar a dica, a crise econômica “acaba também sendo uma oportunidade”. Confira a entrevista exclusiva de Ilson Mateus ao jornal O Imparcial.
O IMPARCIAL – Gostaria que o senhor falasse desta visão de empreendedor, de quem começou com uma mercearia de 5m quadrados para 57 empreendimentos espalhados em três estados brasileiros (Maranhão, Pará e Tocantins), e em contínua expansão?

Ilson Mateus – Acho que isso não é coisa nem de empreendedor, mas de um sonhador, né? Quando a gente é muito jovem… E naquele período a gente passou por várias crises no Brasil, mas nós jovens daquela época queríamos muito subir, crescer, mandar sua mensagem para o mundo. Acho que naquele período as pessoas eram empreendedoras por necessidade, e foi desta necessidade que começamos a nossa empresa. As pessoas olham para nossa empresa e não imagina quantos anos de história e falam quando me olham – ‘Poxa! O Mateus entrou ontem em São Luís é já está deste tamanho, né?’… Mas são 29 anos, né? Mais outros tantos que a gente trabalhou como funcionário e em duas outras empesas que não deram certo. Se você for somar isso aí, vai dar uns 36 anos, né? A gente precisa acreditar mesmo diante das difi culdades. Temos que ter um pensamento positivo. As pessoas me perguntam como eu consigo abrir uma loja em uma crise desta, mas a crise é um pouco psicológica. Ela existe, mas tem muito do psicológico. Nós já passamos por muitas crises, inclusive piores, como a do plano cruzado, então, ela acaba também sendo uma oportunidade. Cada crise dessas tinha suas oportunidades. São momentos diferentes, são cenários diferentes. E esta que estamos passando não é diferente.
Pode ter certeza que tem muitas oportunidades. Hoje mesmo recebi uma pessoa aqui que estava me oferecendo a empresa dele, que são lojas em outros estados. Ele queria que assumisse e desse somente uma participação a ele. Eu tinha feito essa previsão há 5 anos de que este cenário iria acontecer e estamos vendo ele muito mais claro agora.
Primeiro, que a gente não pode ostentar, você precisa estipular muito bem e é o que a gente faz aqui. Em termo de infraestrutura, a gente não visa nada superficial. A empresa precisa de um RH muito forte, que é a base, a formação. A maioria dos nossos gerentes é formado em casa (na empresa). A empresa precisa ter um financeiro sólido, ou seja, não damos passo maior do que a perna. Uma empresa não pode crescer sozinha, porque os investimentos que a gente faz são muito grandes. Para você abrir uma loja, como a que abrimos recentemente (Mix Mateus Jardim Tropical), só de obra de construção civil são R$ 15 milhões, fora o terreno e os equipamentos. E isso a gente não consegue sozinho. Uma empresa precisa estar estruturada logisticamente, porque o que vale e o que difere uma empresa da outra hoje em dia é exatamente seu custo operacional. Se você consegue sair com 6% mais barato, a chance do seu competidor sobreviver é pequena. Eu falo todo dia para a minha equipe que o mercado é soberano. Ele se mexe sozinho, tem vida própria, então, temos que atacá-lo, absorvê-lo. Agora é uma guerra diária. É uma guerra de custo, uma guerra de estratégia, uma guerra de estrutura, que para sobreviver temos que nos ater a esses pontos. Às vezes, ela se fragiliza de um momento para outro. Como por exemplo, essa do dólar, que você saiu de R$ 2 e pouco para R$ 3,80. Você imaginou as oportunidades que já tive para fazer investimentos em dólar? Mas eu nunca quis. É um investimento que você dobra sua dívida de um dia para o outro. Então, isso é um ponto! São coisas que devemos ficar atentos. Outro ponto que é fundamental fundamental é você ter uma visão de futuro, você não pode só pensar no hoje.
Você tem que estar sempre preparando a empresa para o futuro, porque você precisa estar estruturado para um momento de crise, porque as oportunidades virão. Então, quando eu falo que a gente não pode crescer sozinho, a gente buscou isso no passado. Nós buscamos investidores que queriam ficar lado a lado com a gente, que não eram construtores, mas que constroem para gente. A gente buscou muito financiamento de longo prazo, porque uma empresa de varejo que tem uma margem baixa, ela não pode tomar dinheiro de curto prazo,
porque o dinheiro de curto prazo tem juros alto, que nossa margem não absorve. São todas essas variáveis que a gente precisa estar se preocupando. No varejo, nós não temos dia fácil.
É comum ver o senhor visitando in loco as suas redes de supermercado. Essas visitas também são um ponto importante para o empreendimento ter bons resultados?
A gente precisa rodar muitas lojas para ter noção de como está nosso negócio. Temos que descer da sala com ar-condicionado e temos que ir para a loja. Temos feito muito isso ultimamente. Acompanhando o fechamento da loja, acompanhando montagem de loja e o comportamento da equipe. Para que tudo isso? É necessário? Outros empreendedores fazem isso? Não sei! Mas, para a formação da nossa equipe, é importante. Pois estamos descobrindo talentos. Eu preciso saber para quem estou entregando a minha loja, que custa aí uma média de R$ 25 milhões. Para que a gente possa entender qual é o melhor formato de projeto de
Training. Por conta dessas visitas, estamos mudando muitos projetos, pois é o projeto que nos dá sustentação para que possamos abrir novas lojas. Se eu não tiver gente formada, como um gerente, um subgerente e um gerente de setores, eu não consigo abrir loja.
E tem uma coisa muito importante, que tenho falado muito, para abrir loja e para consolidar o negócio não é só dinheiro, precisa ter formação de gente.
Existe uma capacitação para os funcionários do Grupo Mateus?
Nós temos times que dão treinamento para açougueiro, peixeiro, setor de frios, hortifrúti, padaria, lanchonete, lojas. Ou seja, para cada setor destes, nós temos um treinamento técnico. E, do nível gerencial para cima, nós temos treinamento com professores em nível de universidade. Nós temos uma universidade interna. Damos treinamento com empresas renomadas. Sempre trazendo treinamento de ponta.
Em termos de números, qual a contribuição do Grupo Mateus para a geração de emprego e renda da população de São Luís e demais estados?
Hoje a gente tem 17.300 funcionários com formação contínua. A gente sabe da importância
disso, pois a responsabilidade é muito grande e estamos sempre procurando fazer o melhor
que a gente pode. É o deficiente, é o menor aprendiz, são projetos importantes porque temos funcionário como gerente de loja e gerente de setor que vieram desta base. Sem contar que nossos gerentes também vêm da nossa base. A maioria dos que são promovidos também.
Existe a possibilidade da cidade de São Luís ter um supermercado 24 horas?
Existe sim! Tem necessidade e já deveríamos ter colocado. Agora a gente precisa balancear as coisas, temos sempre que pensar em custos. Como a gente anda muito preocupado com o custo operacional, esse projeto a gente está empurrando com a barriga. Porque uma loja para abrir 24 horas ela é mais para prestar serviço à população do que ter retorno financeiro. E para um custo de energia como está, se você abre uma loja 24 horas, por menor que seja seu quadro, você vai gastar o dobro.
Quais as metas de expansão do Grupo Mateus para São Luís?
Para São Luís, eu acho que a gente está muito bem posicionado, já temos lojas praticamente
em todos os bairros. Mas ainda temos duas lojas para fazer, uma no bairro Renascença e outra em frente ao Grand Park, que é uma loja diferenciada e deve ser feita só no ano que vem.
Qual sua mensagem para os 403 anos de São Luís?
Quero desejar a todos os ludovicenses, para que nestes 403 anos, cada um de nós colabore para que esta cidade viva melhor, para que a gente possa ter um trânsito mais tranquilo, pessoas mais tranquilas e, se cada um fizer um pouquinho para cuidar da beleza da cidade, da limpeza da cidade e do bem-estar da cidade vai ser muito bem-vindo.