EDITORIAL
Sinais de preocupação
O Brasil teve deficit de US$ 3,37 bilhões em maio nas transações com outros países. Há razões para enxergar o número com certo alívio – e outras que suscitam preocupação. O lado benigno é que o resultado foi inferior à previsão do Banco Central (BC) para maio deste ano, de US$ 5,4 bilhões. A diferença […]
O Brasil teve deficit de US$ 3,37 bilhões em maio nas transações com outros países. Há razões para enxergar o número com certo alívio – e outras que suscitam preocupação. O lado benigno é que o resultado foi inferior à previsão do Banco Central (BC) para maio deste ano, de US$ 5,4 bilhões. A diferença é ainda mais significativa quando se observa o mesmo período do ano passado, em que foi registrado balanço negativo de US$ 7,9 bilhões.
A expectativa da autoridade monetária para junho é de que as contas do país com o exterior fiquem no vermelho em US$ 3,5 bilhões, bem menos do que os US$ 5,1 bilhões do mesmo mês de 2014. Agora, se espera que o deficit total deste ano fique em US$ 81 bilhões, o equivalente a 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB). Antes, a previsão era de US$ 84 bilhões negativos (4,42% do PIB).
Fazer frente ao rombo, por outro lado, segue problema nada trivial. Até 2012, os recursos provenientes do exterior para o aumento da capacidade produtiva ou para a compra de empresas serviam para equilibrar, com sobra, o dinheiro gasto por brasileiros com importações e turismo, além das remessas de capital daqui para fora.
O investimento estrangeiro direto (IED) não é mais suficiente para cobrir o deficit externo. E os números são cadentes. Nos cinco primeiros meses do ano passado, o IED foi de US$ 39,3 bilhões. Neste ano, ficaram em US$ 25,5 bilhões. O descompasso entre os recursos que entram e os que saem deveria levar a forte desvalorização do real, o que teria grande efeito inflacionário. Não será assim, possivelmente, porque, além do IED, o Brasil atrai, em grandes volumes, capital especulativo, que vem atrás das taxas de juros estratosféricas pagas pelo governo.
A razão de a Selic estar em patamar tão elevado, de 13,75% ao ano, é que o BC finalmente está empenhado em levar a inflação para o centro da meta de 4,5%. Nos últimos quatro anos, a instituição se eximiu da tarefa, contentando-se em segurar a carestia abaixo do teto de 6,5%. Tenta-se, agora, apagar a leniência do passado recente com choque monetário. E também compensar a dificuldade do governo de controlar seus gastos. Para o mercado, não há dúvidas de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai estourar o teto neste ano. Mas as expectativas para 2016 vêm se mantendo estáveis em 5,5%.
Em meio à árdua missão de reconquistar credibilidade, o BC, provavelmente, decidirá elevar ainda mais a Selic até o fim do ano. O problema de tal medida está patente em vários indicadores, incluindo as contas externas divulgadas ontem. A economia brasileira está em queda livre. Importações e viagens ao exterior caíram, mas também a produção e o emprego.
Em apenas uma semana, as expectativas de redução do PIB passaram de 1,35% para 1,45% segundo o boletim Focus, divulgado pelo BC. Muitas analistas falam em 2%. Insistir no aperto poderá mergulhar o país em recessão muito maior do que se antevê hoje. Não se discute a importância da política monetária. Mas é preciso considerar que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose
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