VIDA MARINHA

Tubarões do Maranhão em perigo

Eles são em 21 espécies, além de 20 espécies de raias marinhas e 6 espécies de raias de água doce encontradas no estado.

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Tubarões. Quando você ouve falar, o que vem à cabeça? Criatura feroz? Violenta? Ou apenas um animal marinho? Os tubarões, que fazem parte do grupo de elasmobrânquios, povoam a mente da humanidade, seja quando estão sendo estudados, pesquisados, perseguidos, ou, ainda,’ admirados, temidos…

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No Maranhão, eles são em 21 espécies, além de 20 espécies de raias marinhas e 6 espécies de raias de água doce encontradas no estado. Um estudo intitulado “Revisão Sobre a Diversidade, Ameaças e Conservação dos Elasmobrânquios do Maranhão”,  foi publicado como um dos capítulos do livro “Tópicos Integrados de Zoologia”, e contou com um conjunto de especialistas em espécies marinhas, como: oceanógrafos, biólogos, pesquisadores de várias universidades federais do Brasil e também da Austrália.

O trabalho aponta que o litoral norte do Brasil, composto pelos estados do Amapá, Pará e Maranhão, é um hotspot global para elasmobrânquios, sendo o estado do Maranhão um local de grande importância ecológica para o grupo zoológico.

Segundo o estudo, o Maranhão é um dos mais importantes sítios ecológicos para elasmobrânquios na costa amazônica devido à presença de áreas berçários e uso de várias áreas úteis para o grupo na região, como reprodução, alimentação, refúgio  (LESSA et al., 1999).

O estado do Maranhão está localizado na porção leste da costa amazônica brasileira e apresenta uma extensa linha costeira com 640 km.

A região é dominada por áreas de manguezais que compreendem estuários, canais, ilhas, dunas, poças de maré e formações de recifes mais distantes da costa (NUNES et al., 2011).

“De acordo com a última lista nacional publicada, a fauna brasileira de elasmobrânquios marinhos compreende 168 espécies (91 tubarões; 77 raias), pertencendo à 7 ordens (seis ordens de tubarões e uma ordem de raia)”, diz o estudo.

Porém, o que preocupa os especialistas é o grande número desses animais que estão em risco: Criticamente em Perigo (CR), Em Perigo (EN) e Vulneráveis (VU). Das 21 espécies encontradas no Maranhão, 6 delas estão em potencial perigo de extinção.

Segundo o estudo, “o estado apresenta uma das maiores taxas de captura incidental de elasmobrânquios do país, porém até o presente não existem plano de manejo ou avaliações de risco na região. Esta revisão teve como objetivo caracterizar a diversidade, abundância, status de ameaça e padrões de captura no Maranhão por meio de dados compilados de estudos realizados nos últimos 40 anos”.

Segundo Jorge Luiz Silva Nunes, professor associado da Universidade Federal do Maranhão (integrante do Departamento de Oceanografia e Limnologia de São Luís, do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação, Programa de Pós-Graduação em Saúde e Meio Ambiente e BIONORTE, rede de Biotecnologia e Biodiversidade), o fato do Maranhão fazer parte do litoral amazônico e do estado ter a maior linha contínua de manguezais do planeta, facilita que o litoral tenha uma grande abundância desses organismos.

“Caravela, tubarão, raia, golfinho, temos vários grupos de organismos. Nossa costa tem tubarão todo dia. Nossos tubarões, raias e golfinhos residem aqui no nosso ambiente marinho, lógico que alguns estão de passagem, mas alguns utilizam nossos estuários para reprodução. Nós observamos, em um trabalho recente que fizemos, que esses organismos tem um gasto energético muito grande durante essas migrações e eles chegam bem debilitados”, disse.

Muitas pessoas associam o tubarão ao perigo. Perguntei ao professor do risco desses animais para os humanos. “Risco é algo imprevisível. Por exemplo, o tubarão tigre é um animal associado a alguns incidentes com humanos em todo o planeta e temos o tubarão tigre aqui no Maranhão, muitos deles são de pequeno porte, enquanto algumas espécies mesmo de grande porte podem utilizam grande parte dessa área para se alimentar quando estão na fase juvenil.

O tubarão cabeça chata também tem essa associação, e pode ser encontrado tanto no litoral, quanto na água doce”, relatou Jorge Nunes.

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Habitam no nosso litoral uma grande diversidade de tubarões, de pequenos a grande porte, que aqui, optamos por colocar o nome como são popularmente conhecidos:

  • Urumaru;
  • 2 espécies de Tubarão canejo/Tubarão Sebastião;
  • Cação flamengo/Sacuri-branco;
  • Tubarão Lombo Preto;
  • Tubarão boca redonda/Tubarão cabeça-chata;
  • Sacuri da galha preta;
  • Cação azul;
  • Cação junteiro;
  • Cação abudo/cação galhudo;
  • Fidalgo;
  • Tintureira/Guajará/Tigre;
  • Cação tapogi/cação quati;
  • Cação frango/Figuinho;
  • Cação figuinho/Rabo Seco;
  • 5 espécies de Sphyma: sirizeira/rudela/comudo;
  • Rudela/panã amarelo;
  • Boneta;
  • Martelo/Rudela/ panã branco;
  • Rudela/panã preto.

“Temos espécies que só ocorrem aqui na região amazônica e são extremamente ameaçadas, infelizmente ficando próximas da extinção. Temos tubarões com a capacidade de adentrar nossos rios, nós temos um trabalho que registra tubarão no Rio Mearim. Na região da Baixada Maranhense já encontramos duas espécies”, explicou o professor.

O especialista faz questão de desmistificar a figura do tubarão. Para ele, é preciso haver uma reflexão sobre o papel do animal na ecologia, e destaca o trabalho do Laboratório de Organismos Aquáticos (LabAqua), coordenado por ele.

“Quando falamos de tubarões a ideia é que estamos falando de fera do mar, de comedor de pessoas, de monstros ou coisas do tipo, mas esses animais há muito tempo várias espécies estão sofrendo declínio populacional e muitos destas espécies estão na rota da extinção”

“Precisamos elucidar melhor o papel ecológico desses animais. Esses animais existem há meio bilhão de ano, e aqui no Maranhão a gente sempre teve muito tubarão. Tanto que o que fez a primeira pesquisadora (Dra. Rosângela Lessa) vir para o Maranhão estudar tubarões foi exatamente essa abundância. Existe uma história que é muito mais trágica do que os filmes relatam. Hoje em dia precisamos trabalhar para entender esse processo ecológico, embora a conservação desses animais seja mais importante do que outra coisa”, disse.

O professor fala de uma situação mundial que deixa o pais em um destaque nada favorável: o de consumo de carne de tubarão. “Hoje o laboratório está engajado em um trabalho mundial sobre consumo de carne de tubarão.

Toda a questão de degradação ambiental é movida por dinheiro. Então, no caso dos tubarões, é o consumo e o comércio de barbatanas nadadeiras para o mercado asiático, mas também existe um consumo de carne, grande no Brasil, colocando o país como um dos grandes consumidores. Só que a carne é vendida como de qualquer tipo de peixe, e esses animais carregam uma série de contaminantes, como os metais, que acabam passando para o consumidor”, alerta.

As espécies que pedem socorro

Animais que estão em declínio devido a exploração, diminuição de habitat e que  fazem rara aparição no litoral maranhense: Cação fidalgo – em perigo; cação junteiro – criticamente em perigo; cação cagulho ou cação abudo – criticamente em perigo; tubarão limão ou tubarão papa terra – vulnerável; panã branco – criticamente em perigo; panã amarelo – criticamente em perigo; tubarão canejo – em perigo; panã preto – em perigo; urumaru – vulnerável; cação poti ou tapoji – criticamente em perigo.

Em tempo

O e-book “Tópicos Integrados de Zoologia” é organizado por José Max Barbosa de Oliveira Júnior; Lenize Batista Calvão. (Org.), lá você pode encontrar o capítulo Revisão Sobre a Diversidade, Ameaças e Conservação dos Elasmobrânquios do Maranhão, de autoria de Natascha Wosnick (UFPA), Ana Rita Onodera Palmeira Nunes (UFMA), Leonardo Manir Feitosa (UFPE), Keyton Kylson Fonseca Coelho (UFMA), Rafaela Maria Serra de Brito (UFMA), Ana Paula Barbosa Martins (Centre for Sustainable Tropical Fisheries and Aquaculture), James Cook University e Australian, Getulio Rincon (UFMA), Jorge Luiz Silva Nunes (UFMA).

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