Turistando: cozinha maranhense na berlinda
Turistas e maranhenses que moram fora contam como foram “fisgados pelo estômago” pela nossa culinária
É difícil encontrar um maranhense que não seja apaixonado pela culinária de seu estado. Também pudera! Camarão, caranguejo, peixe frito, arroz, farinha… Tudo aqui ganha um tempero especial, diferente, inigualável. Sem falar na variedade de frutas e doces feitos a partir delas. Mas… Bem… Somos suspeitos pra falar, não é mesmo? Então, decidimos ir além da parcialidade (justificável, é claro!) e conhecer a opinião de turistas e maranhenses não residentes aqui a respeito da boa fama dos pratos típicos da região.
Nascida na Romênia e depois de morar muitos anos na Bélgica, Ramona Ianosi passou curta temporada em São Luís, acompanhada do marido maranhense, que vive fora do Brasil desde os 16 anos. Ela contou como foi sua experiência aqui: “Eu gosto de comer e o visual da comida me chama muita atenção. Acho a comida daqui bonita, colorida, rica, autêntica. […] Gosto de camarão de todas as formas, menos com vatapá, mas por causa da textura e não do sabor. Gosto de sururu e caranguejo, que descobri há três anos. Ainda tenho dificuldade em abrir. Lembro que meu esposo quebrava as patinhas pra mim. Hoje descobri uma pessoa que vende a carne de caranguejo. […] Como amo cozinhar, estou aprendendo a usar os produtos locais. […] Sofri muito com os doces maranhenses, por serem muito doces. Acho que maracujá e cupuaçu foram as descobertas mais incríveis que eu fiz aqui”.
Nascida em Brasília, a confeiteira Samila Paiva, de 26 anos, morou por 17 anos em Grajaú, interior do Maranhão, de onde se mudou para Fortaleza. Em dezembro de 2017, ela, que é formada em gastronomia, e o noivo cearense Gilmar Junior, passaram férias em terras maranhenses, onde puderam matar a saudade da comida típica. “Passamos alguns dias no interior e outros em São Luís. Nessa viagem provei pela primeira vez a famosa Panelada. E não é que gostei? Nunca havia provado por preconceito mesmo. O que mais gosto da culinária maranhense sem dúvida é o nosso arroz de cuxá, inclusive gostaria que a vinagreira, ingrediente indispensável na preparação, fosse fácil de encontrar por aqui (em Fortaleza). Aqui e acolá encontramos Guaraná Jesus, que já ajuda a aliviar um pouco a saudade. De estranho na viagem, foi no dia que fomos à Praia do Meio e pedimos caranguejos, que vieram com arroz como acompanhamento. Aqui no Ceará é costume vir só o caranguejo com bastante caldo e a farofinha, arroz só se pedirmos mesmo. Apesar das semelhanças da cozinha nordestina como um todo, ainda mais na parte próxima do mar, sinto saudades sempre da deliciosa carne de sol, da peixada e de usar o óleo de coco babaçu nas preparações. Garanti um pouco agora, mas já quero saber quem vem pelo Ceará, pra trazer mais dele e aquela farinha caroçuda e crocante que só tem no meu amado Maranhão.”
O noivo de Samila, Gilmar Júnior, de 29 anos, é cearense, e esta foi a primeira vez que esteve no Maranhão. “Eu provei a maior parte dos pratos típicos do Maranhão no Ceará mesmo, afinal namorar uma ‘maranhense’ tem suas vantagens. Conheci o Arroz de Cuxá, o guaraná Jesus, e percebi que a culinária dos dois estados é muito parecida, principalmente no interior, onde se tem muito pequi, carne do sol e muita farinha. O que eu mais gostei foi do doce de espécie que comemos no Centro Histórico, um doce maravilhoso, que me disseram que é típico. Esse adoraria trazer pra Fortaleza com certeza. Ainda continuo estranhando o Guaraná Jesus, acho que vocês só tomam porque se acostumam com o gosto e passam a achar bom. Desse ainda não sou fã.”
Morando há 37 anos em Munique, na Alemanha, a maranhense, natural de Caxias, Graça Santos Schäfer já não vinha ao seu estado há pouco mais de dez anos. De férias em São Luís, está redescobriu os sabores de sua terra natal. “Os sabores da culinária me transportam para a minha infância, às muitas histórias vividas aqui. Há cerca de 30 anos abandonei o hábito de consumir carne animal, inclusive de frutos do mar, mas entre verduras, legumes, frutas e derivados que mais gosto, sinto falta (e faço questão de provar quando venho aqui) do sabor da vinagreira no arroz de cuxá, da batata doce, da macaxeira, do milho e seus derivados, da farinha de mandioca; do sabor das frutas que me encantam, como manga, carambola, juçara, cajá, cupuaçu, bacuri, pitanga, tamarindo, pitomba, jaca, coco. E acompanhar tudo isso com água de coco natural… Hhhmm! Isso faz tanto bem! Além do sabor dos alimentos, está o sabor do carinho da família, dos amigos; isso pra mim está em primeiro lugar. Desta vez fui convidada para comer sarrabulho, e fui pra cozinha fazer meu omelete com verduras, onde até maxixe não faltou. Dá certo quando tem sabor de amor. E essa é a diferença, pra mim, entre a culinária daqui e de Munique”. Na foto, Graça aprecia água de coco na praia do Caolho.