Idosa melhora vida de pacientes com gastronomia
Aos 80 anos, professora ministra oficinas de gastronomia para pacientes com transtorno de saúde mental e mães de crianças com microcefalia e ajuda a mudar a vidas
O dia da cozinheira Maria de Lurdes Serra, 80 anos, começa às 5 horas da manhã, horário em que ela se prepara para dar as aulas de culinária no Hospital Nina Rodrigues, especializado no atendimento aos portadores de transtorno de saúde mental. Os ensinamentos das oficinas de culinária são repassados para pacientes que estão tratando da depressão, ex–usuários de drogas e outros com problemas psicológicos e também para os familiares que, em alguns casos, deixam de trabalhar para cuidar e dar atenção ao parente que está em outras unidades de saúde do estado.
Sem formação na área da gastronomia, tudo o que ela aprendeu foi na rotina da casa da mãe, quebradeira de coco. Há seis anos no hospital, com uma vasta experiência no mercado, lidando com pacientes de outras unidades, a professora é chamada carinhosamente de Vovó Lourdes. As receitas, assim como quem ensina, são simples, não precisam de equipamentos industriais, e o processo de preparação dos pratos é todo manual.
“Os pratos que fazemos são comuns, com equipamentos que qualquer pessoa tem em casa. Geralmente, o que eles querem aprender aqui é fazer os pães, e é tudo manual para que eles possam chegar em casa e fazer também”, diz Maria de Lourdes.
As aulas são recheadas de receitas saborosas que ajudam não só a dar sabor ao dia dessas pacientes, mas também a gerar motivação para a vida fora da unidade de saúde.
“Aqui antigamente as pessoas pioravam o estado de saúde, porque não tinham o que fazer, eu entrei, tive coragem de ir de paciente em paciente, saber se eles queriam aprender algumas coisa e depois já não tinha mais vaga. As aulas são uma terapia, eles contam as histórias, fazem os pratos e ensino também a como embalar e vender”, acrescenta.
Laécia Conceição Barbosa, dona de casa, tem uma filha de 15 anos com microcefalia que, como consequência da condição neurológica, tem paralisia cerebral e deficiência visual. Para cuidar da filha, a mãe precisou ficar em casa e se dedicar ao tratamento.
Ela participou de duas oficinas de culinária. Logo após a primeira, já começou a vender as receitas que aprendeu e aos poucos está conseguindo ter lucro sem sair de casa e sem deixar de dar atenção a filha.
“Como não posso trabalhar fora de casa, eu cuido da minha filha e faço as receitas, comecei a fazer as empadas e a vender, quero aprender novas, pois ajuda bastante na renda”, afirma a dona de casa.
As receitas da Vovó Lourdes, além das apostilas que são dadas aos alunos, ganharam as ruas através destes três livros lançados por ela com apoio do Hospital Nina Rodrigues.
“Eu amo isso aqui, esse trabalho é a minha vida. Quando eu recupero uma pessoa que usa drogas, é um sonho realizado. Essa história de todo mundo condenar um drogado é um erro, a gente tem é que ajudar e eu já ajudei bastante, tenho certeza”, conclui a professora.