ARQUIBANCADAS SEM TORCIDA

Estádios vazios, novo normal do futebol

Tudo para atender ao isolamento social e em respeito às medidas preventivas

Reprodução

O que ninguém jamais imaginou acontece agora em  todo o mundo. Um esporte capaz de levar multidões aos estádios, neste momento espelha arquibancadas vazias e milhões em frente à televisão. De forma inédita, a doença conseguiu paralisar competições e afastar os torcedores do contato com seus ídolos. Tudo para atender  ao isolamento social e em respeito às medidas preventivas.

De um  modo geral, não apenas os desportistas, mas também os atletas,  dirigentes, imprensa e até os árbitros (quem diria) sentem os efeitos do “novo normal do futebol”. Quando a situação vai ser normalizada, ninguém sabe.

Assim como ocorre em todo o país, em São Luís são muitas as lamentações. A  reportagem de O Imparcial ouviu algumas pessoas ligadas ao esporte e todas foram unânimes em afirmar que o momento é de angústia.

O atleta

Naílson, volante motense, reconhece que uma coisa é jogar com torcida, outra coisa é entrar em campo e não ouvir incentivo de ninguém. “Claro que a torcida faz a diferença. A gente vê jogos aí em que times de menor expressão tiram vantagem, aproveitando-se da situação. Com a torcida, com certeza, é um ponto positivo, mas como a pandemia ataca em todo o mundo a gente só tem a lamentar. Ficar de casa passando energia positiva já é alguma coisa importante pra gente”.

Torcida organizada

Fundador da torcida organizada Tubarões há 20 anos,  Mauro  Fernando Silva Barros (Maurão) é apenas um dos integrantes do imenso universo tricolor que lamenta a ausência dos estádios. “A sente muito. É complicado, o time da gente jogando e a gente em casa, pois estávamos acostumados  a estar sempre juntos apoiando e dando moral para a equipe com os amigos torcedores fieis. Fica agora só ouvindo pelo rádio ou vendo pela televisão. É muito chato, né? Aquele barulho das caixas de som no estádio não é a mesma coisa, e o jogador com certeza também sente falta.O calor da torcida é importante porque muitas vezes isso muda o clima da partida. Realmente, é muito monótono sem  torcida,  muito chato”.

Maurão entende que num futuro bem próximo as autoridades sanitárias poderão permitir a presença de um determinado número de torcedores nos estádios. “Acho que, por termos um estádio grande como o Castelão, a presença de quatro mil torcedores, por exemplo, é plenamente aceitável, desde que guardada a devida distância”.

Dirigente também lamenta

“Vejo isso com muita tristeza. O futebol é feito para o torcedor,  só que ele não está podendo ir ao estádio incentivar o seu clube,  dá aquela força nos jogos locais. Então isso é lamentável, mas espero que essa situação não demore muito tempo, mesmo a gente sabendo que o torcedor já não está comparecendo em  grande número aos estádios. Se o clube está ganhando o público é um, se perde um a dois jogos,  a maioria não vai mais. A torcida do Sampaio é grande. No acesso ela compareceu, mas no rebaixamento abandonou o time. Porém, não há dúvida que sentimos muito a ausência do torcedor”,  afirma Sérgio Frota, presidente do Sampaio Corrêa, clube de maior torcida dom estado.

Vejo isso com muita tristeza. O futebol é feito para o torcedor,  só que ele não está podendo ir ao estádio incentivar o seu clube,  dá aquela força nos jogos locais

O dirigente tricolor é favorável que muito breve o ingresso de torcedores aos estádios seja liberado,  pois entende que se houver controle no número de bilhetes vendidos o risco de contágio é muito reduzido. “Faz muita falta a presença do  torcedor num estádio grande como é o Castelão. E o clube ainda tem que pagar, porque a CBF ainda desconta da arbitragem. No último jogo pagamos mais de dez mil para o Sampaio ainda ser prejudicado. Então, temos que pensar na volta do torcedor, pois o estádio cabe quarenta mil e cabe perfeitamente quatro mil torcedores sem problemas”.

No caso do Sampaio Corrêa a situação piora porque o clube não tem grandes patrocinadores. Em consequência disso, a receita cai bastante. “Receita do futebol vem de rendas, patrocínio de jogos televisivos, o resto a gente tem que se virar, como já venho fazendo há vários anos desde que assumi”,  analisa Frota, que não quis revelar a folha de pagamento.

Imprensa esportiva
A ausência de público nos estádios é sentida até mesmo por profissionais da imprensa esportiva. Com movimentação a cada dia mais delimitada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), os repórteres agora estão mais privados de exercer os seus trabalhos, inclusive nas arquibancadas, onde não há torcedores. “É um desafio muito grande, porque a gente não tem perspectiva de fazer entrevista antes,  durante e após a partida, a transmissão radiofônica perde bastante, mas infelizmente a gente tem que se adaptar”, afirma o repórter Daniel Amorim, da equipe de esportes da Rádio Timbira.

Ele destaca  que o trabalho é mais prejudicado ainda porque acabou o acesso aos vestiários, ao mesmo tempo em  que a distância pode gerar a informação incompleta. 

“A informação também  é prejudicada, porque, por exemplo, nos jogos não se pode descer para os vestiários, não pode acessar o campo pois trabalha das arquibancadas. Então não passa para o ouvinte porque a gente não tem acesso, tipo um jogador foi substituído, sentiu alguma coisa,  não se sabe o que de fato ele sentiu,  se foi a coxa ou tornozelo a não ser a impressão a distância. A verdade é que a gente teve que se reinventar e acredito que a informação perdeu bastante”, acrescenta Amorim.

O psicológico é afetado

O psicólogo Ruy Cruz,  que também atua na área esportiva analisa a situação: “A torcida é conhecida como camisa 12.É aquela que participa,  que incentiva ativamente o espetáculo futebol. Acredito que os times que são donos de suas casas, onde têm uma torcida forte, presente, perdem, porque acabam de certa forma tendo dentro da partida a ausência desse incentivo, algo que venha o motivar. Também, aquele que é o visitante não tem aquela pressão, a vaia, a mandinga, tudo aquilo que faz parte do espetáculo. É bom lembrar que com a ausência das torcidas,  os técnicos podem tomar decisõs e taticamente organizar o time, além do que o jogador vai ficar mais focado. A ausência do público tira um  pouco do calor humano. Acredito que interfere sim na cabeça do jogador de futebol e no time como um todo, porque acaba de certa forma sabendo que o espetáculo ocorre, mas o público está assistindo só  através dos meios de comunicação, rádio e tv.”

E os árbitros?

O presidente da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol (Ceaf), Marcelo Bispo Nunes Filho, entende que ao contrário do que se pode imaginar, os árbitros também sentem a ausência do torcedor. “Assim  como o jogador tem a emoção da presença da torcida, o árbitro também tem, porque ele se empolga e entende a cobrança. Já conversei com vários árbitros sobre esse assunto. Eles sabem que fazem parte do espetáculo e, por isso, num estádio cheio, recebem com naturalidade os protestos. Além disso, a pressão é considerada normal, pois a segurança garante o trabalho deles. Num jogo Sampaio x Moto, por exemplo,  o  árbitro marca uma infração para um lado, o torcedor protesta, marca para o outro, a mesma coisa. Então, isso representa o equilíbrio e o árbitro se empenha ainda muito mais. A verdade é que a ausência de público é ruim para os jogadores e para o árbitro”,  afirma, relatando ainda que o juiz de futebol não dás ouvido, para xingamentos procedentes das arquibancadas, mas apenas dos atletas que ficam no banco e os integrantes da comissão técnica, integrantes do espetáculo. “Hoje, por exemplo, se algum jogador do banco ou membro da comissão técnica faltar com respeito é advertido com cartão amarelo.Isso nção acontecia no passado”, relata.

 O técnico de futebol

Acostumado a jogar em estádios cheios, inclusive nas disputas de clássicos do futebol carioca, hoje como técnico do Moto Club, Dejair Ferreira acha muito estranho trabalhar num estádio vazio. “É uma experiência nova, não só para quem vai ficar à beira do gramado, como eu, mas também os atletas dentro de campo. Claro que o ideal seria o torcedor comparecer aos estádios para nos incentivar. Agora é esperar a passagem de energias positivas apenas de casa. Fazer o quê?”, conforma-se.

É uma experiência nova, não só para quem vai ficar à beira do gramado, como eu, mas também os atletas dentro de campo

VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Mais Notícias