As preocupações da mulher com a saúde vão além de apenas estar sempre em forma, mas se relacionam principalmente com o controle mais efetivo do seu corpo, movimentos e emoções. E não são apenas os equipamentos da academia que são procurados por elas, que estão cada vez mais optando por calçar luvas, usar caneleiras e bater forte nos treinos de lutas como o Muay Thai.

Fernanda Lacerda, 25, é bióloga e professora de Muay Thai e comanda uma turma de 25 mulheres. Ela entrou no esporte há seis anos e há pelo menos três dá aulas e se tornou uma das referências como professora do publico feminino. “As mulheres que procuram o esporte muitas vezes vem com a concepção do fitness, mas logo começam a ter o entendimento da arte marcial, por que não ensino só o condicionamento, mas também a filosofia da luta, mesmo que a pessoa não busque lutar, não quer dizer que não pode respeitar a luta”, acrescenta Fernanda.

A diretora de vendas de uma linha de cosméticos, Joelma Lima, percebeu no corpo a eficiência da luta, ao reduzir medidas. Praticante do Muay Thai desde janeiro deste ano, ela já perdeu 11 quilos, apenas com esforço e dedicação que são exigidos na luta.

“Eu já fiz ballet, zumba, dança do ventre e varias coisas e já estava enjoada de academia, então pesquisei na internet sobre e ao encontrar uma turma exclusiva para mulheres, fiquei curiosa em fazer acompanhando meu noivo que fazia outra luta também”, explica.

Os resultados positivos no corpo e na mente são colhidos, pela diretora de vendas, após ela superar as dificuldades que sentiu no inicio dos treinos, já que há uma variação de movimentos maior, que vão bem além dos golpes. “Quando comecei a praticar achava que não conseguiria realizar tudo por que estava fora de forma, mas com o tempo fui crescendo individualmente e aprendendo não só a ter controle físico, mas também mental e aprendi muito sobre a disciplina, em escutar a ordem da professora e me sinto muito mais disposta atualmente. As minhas amigas perguntam o que fiz para emagrecer, e sempre indico o Muay Thai por que realmente depois que se começa a fazer é viciante”, conclui Joelma.

A professora garante que entre suas alunas não há competidoras, mas mulheres que buscam obter um melhor condicionamento físico e como consequência a perca de gordura e redução de medidas. “O Muay Thai não é só uma fórmula para emagrecer, como algumas academias vendem. Não ensino da forma comercial, ensino o sentido da luta, o significado dos golpes e toda a ideologia que está ligada a prática. Agora, como exercício, é uma das formas mais completas de trabalhar todo o corpo para definição, perca de peso, resistência muscular, elasticidade e de maneira muito forte o stress. Eu tenho alunas que chegam aqui cansadas, ou que não tem condição física para quase nada e quando saem estão transformadas, mas claro, o treinamento é condicionado para cada pessoa de uma maneira diferente” esclarece Fernanda Lacerda.

Entre as lutas, o Muay Thai é completo por exercitar socos, chutes e joelhadas, sendo ótimo para trabalhar a concentração, transtorno de déficit de atenção, e um forte remédio contra o stress já que pessoas que praticam artes marciais com frequência têm níveis mais baixos de stress e mais altos de autoestima e inteligência para enfrentar situações difíceis do dia a dia. Praticante do Muay Thai há um ano e meio a servidora publica, Poliana Ferreira, 36, conta que procurou a luta por questões de saúde, e que depois de passar por algumas academias, precisava de algo que trabalhasse o corpo de maneira mais adequada aos seus problemas. “Eu sentia muitas dores nas pernas, costas e ombros e havia feito também uma cirurgia no joelho, então não consegui fazer muita força nele, o que era difícil em exercícios nos equipamentos de academia”, lembra Poliana.

Mesmo com os treinos puxados, ela garante não deixar de praticar a luta nunca mais. “Eu não sou de desistir de nada, e no começo me assustei um pouco com o quanto somos exigidas, mas a cada treino parece que recebo uma injeção de ânimo e me sinto muito mais ativa. Hoje eu tenho um projeto de engravidar e já penso como vai ser, só sei que mesmo tendo que parar por um tempo assim que puder voltarei a treinar.”

Fernanda afirma que já sofreu preconceitos por ser mulher e lutadora, muitas vezes por parte dos próprios oponentes, mas também de algumas mulheres que carregam certo machismo, quando não conhecem a luta. “Geralmente o preconceito era mais dos oponentes, que me viam pequenininha e achavam que eu não era capaz de executar os golpes, ou que não conseguiria lutar no mesmo nível, mas nunca me deixei abater. Eu era a única mulher da minha turma, buscava sempre surpreender com qualidade. Hoje onde vejo as vezes um certo machismo é nas próprias mulheres, que não conhecem a real utilidade da luta e acham que é coisa de homem.”

Do ponto de vista psicológico, a pratica do Muay thai também é eficaz na formação de pessoas mais seguras, estudos realizados sobre a sensação de insegurança vivida pelas mulheres em razão dos índices de violência atuais, revelam que quando as mulheres descobrem que, apesar de não terem a mesma força física do homem, são capazes de se defender de forma simples e eficiente, elas adquirem confiança.

Jessica Alves, 25, conta que além da resistência e condicionamento físico que adquiriu e que leva para outro hobby, a dança, ela sente mais confiança em andar e nas suas relações sociais. “Eu era bastante explosiva e sem paciência, e hoje sou muito mais cautelosa nesse ponto, o que melhorou minha relação com as pessoas. Não me sinto mais tão insegura ao sair na rua por que sei que não estarei totalmente exposta, podendo me defender”, pontua Jessica.

A arte marcial originária da Tailândia que se popularizou no Brasil tendo nomes como Anderson Silva e Vitor Belfort de referencia entre os praticantes. Entre as mulheres, o preconceito durante muito tempo impediu a pratica da luta, onde eram estritamente proibidas de tocar ou até de se aproximar de um ringue, apoiado em um mito de que a presença da mulher em áreas de luta daria azar aos atletas, assim como aos espectadores que presenciassem o combate. Mas isso vem mudando ao longo dos anos, e o cenário hoje é muito mais inclusivo, fazendo com que um número cada vez mais crescente de mulheres pratique a modalidade.

Os chutes e os socos praticados frequentemente na luta dilatam os vasos sanguíneos melhorando a circulação de oxigênio e nutrientes pelo corpo e fortificando as câmaras cardíacas; O treinamento também exige bastante da região central do corpo, principalmente do core, que é formado por um grupo de músculos situados no abdômen e dá sustentação à coluna vertebral, o resultado futuro será uma ótima postura. O Muay Thai é uma luta praticada em grupo, portanto, as aulas também são ótimas para a socialização entre indivíduos; se não bastasse tudo isso, a pratica dessa atividade requer muita precisão e elasticidade, aprimorando a coordenação motora e a flexibilidade até mesmo nas tarefas do dia a dia.